A Ausência do Policiamento Preventivo em São Paulo: Um Desvio Preocupante 20

 

O cenário da segurança pública no estado de São Paulo tem se mostrado cada vez mais complexo e preocupante.

Enquanto a população clama por mais segurança nas ruas, observamos um desvio significativo na atuação da Polícia Militar, que parece estar se afastando de sua missão primordial de policiamento ostensivo e preventivo.

O Foco Equivocado no Combate às Drogas

A Polícia Militar de São Paulo tem direcionado grande parte de seus recursos e efetivo para operações de combate ao tráfico de drogas e ao crime organizado, especialmente o Primeiro Comando da Capital-PCC.

Embora essas sejam questões críticas para a segurança pública, essa abordagem tem deixado uma lacuna significativa no policiamento preventivo cotidiano, essencial para a manutenção da ordem e segurança nas ruas.

A Corrupção como Agravante

Mais alarmante ainda é a crescente evidência de envolvimento de policiais civis e militares com as próprias organizações criminosas que deveriam combater.

Casos recentes revelaram esquemas de venda de drogas apreendidas de volta ao PCC, com valores que chegam a milhões de reais.

Essa simbiose entre criminosos e agentes da lei não apenas mina a confiança da população na instituição policial, mas também compromete seriamente a eficácia das operações de segurança.

O Abandono do Policiamento Comunitário

O policiamento comunitário, uma estratégia que visa aproximar a polícia da população e prevenir o crime através da presença ostensiva e do diálogo com a comunidade, parece ter sido relegado a segundo plano.

Esta abordagem, que já provou sua eficácia em diversos contextos, poderia ser uma ferramenta poderosa na redução da criminalidade e na melhoria da percepção de segurança pela população.

O Aumento da Letalidade Policial

Paralelamente à diminuição do policiamento preventivo, observamos um aumento preocupante na letalidade das ações policiais.

Em 2024, o número de mortes decorrentes de intervenção policial atingiu o maior patamar da década, com um aumento de 65% em relação ao ano anterior.

Esse dado sugere uma abordagem mais violenta e menos preventiva, que não apenas falha em reduzir a criminalidade, mas também coloca em risco a vida de civis e policiais.

O Sucateamento da Polícia Civil

O sucateamento da Polícia Civil de São Paulo é uma realidade alarmante que compromete seriamente a segurança pública do estado.

Há anos, a instituição sofre com a falta crônica de investimentos, tanto em recursos materiais quanto humanos, o que resultou no abandono de práticas fundamentais para a prevenção e apuração de crimes.

Um dos exemplos mais gritantes desse declínio é a extinção das equipes de plantão que se revezavam 24 horas por dia, realizando o ciclo completo de policiamento – da prevenção à investigação.

Essas equipes, que mantinham as rondas distritais em constante atividade e alimentavam setores especializados como o GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos),  das Seccionais , eram essenciais para a eficácia do trabalho policial.

Sua ausência criou um vácuo na segurança pública, deixando a população mais vulnerável e sobrecarregando os poucos recursos ainda disponíveis.

Este cenário de abandono não apenas prejudica a capacidade da Polícia Civil de cumprir seu papel constitucional, mas também desmoraliza os dedicados profissionais que, apesar das adversidades, continuam lutando para manter a ordem e a segurança nas ruas paulistas.

A Necessidade de Mudança

É imperativo que haja uma reorientação das prioridades da segurança pública em São Paulo.

O policiamento preventivo e comunitário deve ser retomado como estratégia central, com mais policiais nas ruas, em áreas de grande circulação e em bairros residenciais.

A presença ostensiva – mas não agressiva – da polícia não apenas inibe a ação criminosa, mas também reforça o sentimento de segurança da população.

Além disso, é crucial que se intensifiquem os mecanismos de controle interno e externo da atividade policial, combatendo a corrupção e o desvio de conduta.

A implementação efetiva do uso de câmeras corporais, por exemplo, pode ser um passo importante nessa direção.

Por fim, é necessário um compromisso renovado com a formação e valorização dos policiais, enfatizando a importância do trabalho preventivo especializado e  da construção de laços com a comunidade.

Só assim poderemos esperar uma polícia mais eficiente, respeitada e alinhada com sua missão constitucional de preservar a ordem pública e a segurança dos cidadãos.

A segurança pública é um direito fundamental e um pilar essencial para o desenvolvimento social e econômico.

É hora de São Paulo retomar o caminho do policiamento preventivo e comunitário, garantindo não apenas a repressão ao crime, mas, sobretudo, sua prevenção.