A indecente iniciativa do oficialato da PM ao fazer do Barro Branco uma Universidade privativa …Mais uma vez se superaram na arte de fazer da coisa pública fundo particular    13

Preservar a Missão, Respeitar a Sociedade 

A proposta de transformar a Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) em uma universidade privativa para policiais militares ( oficiais de carreira )   e seus familiares é, no mínimo, preocupante.

A ideia, embora possa parecer bem-intencionada, desvia-se do propósito original da instituição e levanta questões éticas, legais e sociais que não podem ser ignoradas.

A APMBB, criada em 1910, tem uma missão clara e nobre: formar e aperfeiçoar os oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, preparando-os para atuar com excelência na preservação da ordem pública e na proteção da sociedade.

Qualquer mudança que comprometa essa missão deve ser analisada com extrema cautela. 

A APMBB é uma instituição pública, mantida com recursos do Estado, e seu foco deve permanecer no interesse coletivo, não em benefícios particulares.

Transformá-la em uma universidade exclusiva para policiais e seus familiares configuraria um desvio de finalidade, além de representar um uso indevido de recursos que pertencem a todos os cidadãos.

A administração pública tem o dever de agir com impessoalidade, assegurando que todos sejam tratados de forma igualitária, sem privilégios ou distinções.

Criar uma instituição de ensino restrita a um grupo específico fere esse princípio fundamental e abre um precedente perigoso. 

Além disso, a proposta coloca em risco a qualidade da formação policial.

A APMBB é reconhecida por seu rigor e especialização, preparando oficiais para lidar com desafios complexos e situações de alto risco.

Diluir esse foco com a oferta de cursos gerais poderia comprometer a excelência do treinamento, impactando diretamente a eficiência e a segurança da corporação.

A sociedade paulista, que depende da Polícia Militar para sua segurança, não pode arcar com os custos de uma formação fragilizada. 

Outro ponto crítico é o risco de elitização e corporativismo.

A Polícia Militar deve ser uma instituição integrada à sociedade, e não uma entidade isolada.

Restringir o acesso à educação superior a um grupo específico pode criar barreiras entre a corporação e a comunidade, alimentando desconfianças e prejudicando a relação de confiança que deve existir entre os policiais e os cidadãos.

A polícia existe para servir à sociedade, e qualquer medida que afaste essa conexão deve ser evitada. 

É importante ressaltar que iniciativas para aprimorar a formação e o bem-estar dos policiais são sempre bem-vindas.

No entanto, elas devem ser implementadas dentro dos limites legais e éticos, sem desviar recursos públicos ou criar privilégios.

Parcerias com instituições de ensino já existentes, programas de bolsas de estudo e políticas de incentivo à educação são alternativas mais adequadas e inclusivas, que beneficiam não apenas os policiais, mas toda a sociedade. 

A APMBB é um patrimônio da sociedade paulista, símbolo de tradição e excelência na formação policial.

Sua missão deve ser preservada, e qualquer mudança em sua estrutura deve ser feita com transparência, responsabilidade e respeito aos princípios constitucionais.

A Polícia Militar tem um papel fundamental na garantia da segurança pública, e sua credibilidade depende, em grande parte, da integridade e do compromisso com o interesse coletivo. 

Portanto, é essencial que essa proposta seja reconsiderada.

A sociedade espera que suas instituições públicas atuem com ética, eficiência e transparência, sempre em benefício do bem comum.

Preservar a missão da APMBB é garantir não apenas a excelência da formação policial, mas também a confiança da população na instituição que zela por sua segurança. 

Credibilidade se constrói com respeito à missão e à sociedade. E é isso que esperamos de nossas instituições.

A Polícia Civil em Segundo Plano – Um Legado de Desequilíbrio na Segurança Pública 4

Ao longo das últimas décadas, a política de segurança pública em São Paulo foi marcada por uma escolha estratégica que privilegiou a Polícia Militar (PM) como principal pilar de sustentação do Estado, relegando a Polícia Civil (PC) a um papel secundário e subalterno.

Esse desequilíbrio, consolidado sob governos do PSDB (centro-direita)  não apenas fragilizou a capacidade investigativa do Estado, mas também contribuiu para a perpetuação de ciclos de violência e corrupção que hoje assolam a sociedade paulista.

E sob o atual governo, mais alinhado ao populismo de extrema-direita, esse cenário se agravou, com o recrudescimento da corrupção e da violência policial, evidenciando a falência de um modelo que prioriza o espetáculo da força em detrimento da eficiência e da justiça.

A Polícia Militar, com sua estrutura hierárquica rígida e foco no policiamento ostensivo, foi historicamente vista como o braço forte do Estado, capaz de garantir a ordem pública por meio da presença visível e da repressão imediata.

No entanto, essa ênfase no modelo militarizado de segurança acabou por marginalizar a Polícia Civil, responsável pelas investigações e pelo combate ao crime organizado.

Enquanto a PM recebia investimentos robustos em equipamentos, treinamento e efetivo, a PC era deixada à míngua, com recursos escassos, salários defasados e estruturas precárias.

Esse desequilíbrio não foi casual.

Governadores  mal assessorados ,  em sua busca por resultados rápidos e visíveis, optaram por priorizar o policiamento ostensivo, que oferece uma resposta imediata à sensação de insegurança da população.

No entanto, essa estratégia ignorou o fato de que a segurança pública eficaz depende não apenas da presença de agentes nas ruas, mas também de investigações sólidas, inteligência policial e combate às estruturas criminosas que operam nas sombras.

Ao relegar a Polícia Civil a um papel coadjuvante, esses governos criaram um vácuo que foi habilmente explorado por organizações criminosas, como o PCC, que encontraram na corrupção e na infiltração das instituições policiais um terreno fértil para expandir suas operações.

A retórica de “mão dura” e a exaltação da violência como solução para a criminalidade resultaram em um aumento alarmante da letalidade policial.

Em 2024, São Paulo registrou o maior número de mortes por intervenção policial da última década, com um aumento de 49% em relação ao ano anterior.

Operações como a “Verão”, na Baixada Santista, que resultaram em 56 mortes em três meses, foram marcadas por denúncias de execuções sumárias e abusos de poder.

Essa política de confronto, longe de resolver o problema da violência, apenas alimenta um ciclo de brutalidade e impunidade.

Além disso, o atual governo falha  em combater a corrupção  institucionalizada dentro da Segurança Pública.  

Os recentes escândalos envolvendo delegados e investigadores da Polícia Civil, acusados de lavagem de dinheiro e vazamento de informações para o PCC, são um reflexo da falta de transparência e de controle interno.

A delação de Vinicius Gritzbach, que expôs uma rede de corrupção envolvendo policiais civis e o PCC, revelou a profundidade da crise institucional.

Em vez de adotar medidas efetivas para fortalecer a Polícia Civil e combater a corrupção, o governo optou por uma abordagem superficial, focada em discursos de ordem e repressão, que ignora as raízes estruturais do problema.

É urgente repensar esse modelo.

A segurança pública não pode ser reduzida a uma questão de força bruta; ela exige planejamento, inteligência e investimento em instituições capazes de combater o crime de forma eficaz e duradoura.

A Polícia Civil precisa ser valorizada, com melhores salários, condições de trabalho dignas e autonomia para atuar de forma independente e eficiente.

Ao mesmo tempo, é essencial fortalecer os mecanismos de controle interno e externo, para coibir a corrupção e garantir que os agentes públicos cumpram seu dever com integridade.

O Governos precisa reconhecer que a segurança pública é um direito fundamental e que sua gestão não pode ser pautada por escolhas políticas de curto prazo ou por discursos populistas.

A Polícia Militar tem seu papel, mas não pode ser o único pilar de sustentação do Estado.

Muito menos ser um órgão que vive muito mais em função de ser destacada como um tipo de funcionário público diferenciado ; merecedores de privilégios e indulgencias governamentais.

É hora de corrigir o desequilíbrio histórico e dar à Polícia Civil o lugar que ela merece na construção de uma sociedade mais segura e justa.

A segurança pública não se faz apenas com armas e fardas; ela se faz com inteligência, investigação e respeito aos direitos humanos.

O atual governo, no entanto, parece mais interessado em alimentar a cultura do confronto do que em promover reformas estruturais que garantam a eficiência e a integridade das instituições policiais.

Enquanto isso, a população paga o preço, com mais violência, mais corrupção e menos confiança no Estado.