
Preservar a Missão, Respeitar a Sociedade
A proposta de transformar a Academia de Polícia Militar do Barro Branco (APMBB) em uma universidade privativa para policiais militares ( oficiais de carreira ) e seus familiares é, no mínimo, preocupante.
A ideia, embora possa parecer bem-intencionada, desvia-se do propósito original da instituição e levanta questões éticas, legais e sociais que não podem ser ignoradas.
A APMBB, criada em 1910, tem uma missão clara e nobre: formar e aperfeiçoar os oficiais da Polícia Militar do Estado de São Paulo, preparando-os para atuar com excelência na preservação da ordem pública e na proteção da sociedade.
Qualquer mudança que comprometa essa missão deve ser analisada com extrema cautela.
A APMBB é uma instituição pública, mantida com recursos do Estado, e seu foco deve permanecer no interesse coletivo, não em benefícios particulares.
Transformá-la em uma universidade exclusiva para policiais e seus familiares configuraria um desvio de finalidade, além de representar um uso indevido de recursos que pertencem a todos os cidadãos.
A administração pública tem o dever de agir com impessoalidade, assegurando que todos sejam tratados de forma igualitária, sem privilégios ou distinções.
Criar uma instituição de ensino restrita a um grupo específico fere esse princípio fundamental e abre um precedente perigoso.
Além disso, a proposta coloca em risco a qualidade da formação policial.
A APMBB é reconhecida por seu rigor e especialização, preparando oficiais para lidar com desafios complexos e situações de alto risco.
Diluir esse foco com a oferta de cursos gerais poderia comprometer a excelência do treinamento, impactando diretamente a eficiência e a segurança da corporação.
A sociedade paulista, que depende da Polícia Militar para sua segurança, não pode arcar com os custos de uma formação fragilizada.
Outro ponto crítico é o risco de elitização e corporativismo.
A Polícia Militar deve ser uma instituição integrada à sociedade, e não uma entidade isolada.
Restringir o acesso à educação superior a um grupo específico pode criar barreiras entre a corporação e a comunidade, alimentando desconfianças e prejudicando a relação de confiança que deve existir entre os policiais e os cidadãos.
A polícia existe para servir à sociedade, e qualquer medida que afaste essa conexão deve ser evitada.
É importante ressaltar que iniciativas para aprimorar a formação e o bem-estar dos policiais são sempre bem-vindas.
No entanto, elas devem ser implementadas dentro dos limites legais e éticos, sem desviar recursos públicos ou criar privilégios.
Parcerias com instituições de ensino já existentes, programas de bolsas de estudo e políticas de incentivo à educação são alternativas mais adequadas e inclusivas, que beneficiam não apenas os policiais, mas toda a sociedade.
A APMBB é um patrimônio da sociedade paulista, símbolo de tradição e excelência na formação policial.
Sua missão deve ser preservada, e qualquer mudança em sua estrutura deve ser feita com transparência, responsabilidade e respeito aos princípios constitucionais.
A Polícia Militar tem um papel fundamental na garantia da segurança pública, e sua credibilidade depende, em grande parte, da integridade e do compromisso com o interesse coletivo.
Portanto, é essencial que essa proposta seja reconsiderada.
A sociedade espera que suas instituições públicas atuem com ética, eficiência e transparência, sempre em benefício do bem comum.
Preservar a missão da APMBB é garantir não apenas a excelência da formação policial, mas também a confiança da população na instituição que zela por sua segurança.
Credibilidade se constrói com respeito à missão e à sociedade. E é isso que esperamos de nossas instituições.
