O Flit e o Tempo: Uma Crônica da Efemeridade 3

Na quietude de uma tarde qualquer, enquanto o sol se espreguiça delicadamente  sobre os telhados da cidade, um pensamento inusitado me ocorre: o quanto nossa existência se assemelha a um Flit paralisante.

Esse objeto, outrora tão comum em nossas residências, carregava consigo uma promessa de ordem e controle sobre o caos dos insetos voadores.

Com um simples apertar de gatilho, eis que surgia uma névoa mágica com perfume de querosene , capaz de deter o voo mais obstinado de uma mosca ou o zumbido mais insistente de um mosquito.

Saudades do meu bairro , da minha infância …

De São Vicente …onde estava …e sempre estou!

Sabor de algodão doce …

E de chocolate…

Queijadinha e das filas imensas para a Praia Grande!

Sem vidro, sem corte e sem morte!

Não seria nossa vida, em sua essência, uma busca constante por esse poder efêmero de paralisar o tempo, de congelar instantes fugazes antes que eles nos escapem por entre os dedos?

Somos todos, em certa medida, portadores de um Flit metafórico, tentando desesperadamente borrifar momentos de alegria, amor e realização, na esperança vã de que eles permaneçam imutáveis, suspensos no ar como partículas de inseticida.

Contudo, assim como o efeito do Flit se dissipa, levado pelas correntes invisíveis do ar, também nossas tentativas de reter o tempo se mostram infrutíferas.

O relógio, implacável em seu tique-taque, nos lembra constantemente da natureza transitória de nossa existência.

Talvez a verdadeira sabedoria não resida em tentar paralisar o tempo, mas em aprender a fluir com ele.

Ao invés de um Flit paralisante qualquer , deveríamos buscar ser como a água de um rio, que segue seu curso natural, contornando obstáculos e se adaptando às mudanças do terreno.

Nessa perspectiva, cada momento se torna precioso não por sua permanência, mas por sua singularidade.

Cada experiência, cada encontro, cada emoção é uma gota única nesse rio da vida, merecedora de nossa atenção plena e gratidão.

Ao final, percebemos que o verdadeiro “Flit paralisante” não é um objeto externo, mas nossa capacidade de estar presente, de vivenciar plenamente cada instante.

É através dessa presença consciente que podemos, paradoxalmente, transcender o tempo, encontrando o eterno no efêmero.

Assim, enquanto o sol se põe no horizonte, tingindo o céu com tons de púrpura e laranja, guardo meu Flit metafórico e me entrego ao fluxo da vida, sabendo que a verdadeira magia não está em paralisar o tempo, mas em dançar graciosamente com ele.

Um Comentário

  1. Dr. Flit,

    Gostei do texto… da crônica.
    Não sou tão bom com palavras… por isso, nessa linha de expressão, me apego no texto bíblico:

    “Digo-vos que não sabeis o que acontecerá amanhã. Porque, que é a vossa vida? É um vapor que aparece por um pouco, e depois se desavanece”.
    Tiago 4, v. 14.

    A nossa vida é breve!
    Que saibamos aproveitar com juízo os melhores momentos, mesmo que enfrentado dificuldades… como o curso de um rio.

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    • Escriba, me sinto honrado!
      Honestamente, não conhecia o texto biblico …Mas entendi o ensinamento!
      A vida é passageira e imprevisível nossos planos devem ser feitos com a consciência de que estão sujeitos à vontade de Deus ( a NATUREZA ) !

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  2. Doutor, quero deixar uma passagem de um livro chamado “Vida e Destino”, de Vasili Grossman. Sugiro a leitura, o sr vai gostar. É uma das coisas mais bonitas que já li até hoje:

    “Assim é o tempo: tudo passa, mas ele fica. Tudo fica, mas só o tempo passa. Como o tempo passa ligeiro e silencioso. Ontem mesmo você era seguro, alegre, forte: um filho do tempo. Mas hoje veio outro tempo e você ainda não entendeu”.

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