
A Paralisia do Silêncio: Trump, os Judeus e os Novos Párias
Em um mundo que se gaba de ter aprendido com os erros do passado é perturbador assistir à repetição de certos roteiros.
Desta vez , mais uma vez , o palco é a América de Trump e o enredo uma distopia que parece ter sido copiada de um manual nazista, mas com novos protagonistas: os latino-americanos.
Trump, com sua retórica inflamada e políticas de exclusão, transformou os estrangeiros — especialmente os vindos da América Latina — nos novos párias.
São eles os responsabilizados por todos os males do país, desde o desemprego até a criminalidade.
São eles os segregados, os detidos em condições desumanas, os separados de suas famílias.
São eles os “outros”, aqueles que não merecem compaixão, dignidade ou direitos.
O paralelo com o que os nazistas fizeram com os judeus na década de 1930 é assustador.
Primeiro, veio a desumanização: os judeus e ciganos foram retratados como parasitas, uma ameaça à pureza racial e ao bem-estar econômico da Alemanha.
Agora, são os latino-americanos que carregam o fardo de serem “criminosos”, “vagabundos” e “invasores”.
Depois, veio a segregação: os judeus , uma espécie de praga invasora , foram confinados a guetos, enquanto os latino-americanos são enjaulados em centros de detenção, tratados como animais.
O mais absurdo, no entanto, é o silêncio ensurdecedor de uma parcela da sociedade que, em tese, deveria ser a primeira a levantar a voz: os judeus americanos que , ontem, lembraram os 80 anos da libertação de Auschwitz.
Muitos deles, descendentes de vítimas do Holocausto, parecem agora compactuar com a perseguição de outro grupo.
Será o medo?
A indiferença?
Ou a crença de que, desta vez, o alvo não são eles, e por isso podem se calar?
O que esses judeus parecem esquecer é que o silêncio nunca é neutro.
Ele sempre beneficia o opressor.
Quando os nazistas começaram a perseguir os judeus, muitos alemães se calaram, e esse silêncio foi interpretado como consentimento.
Agora, a história se repete, e o silêncio dos judeus americanos ecoa como uma aprovação tácita à judiação dos latino-americanos.
É preciso lembrar que o Holocausto não começou com câmaras de gás.
Ele começou com palavras de ódio, com políticas de exclusão, com a normalização da violência contra um grupo específico.
E é exatamente isso que estamos vendo hoje.
A destruição desta vez não está em campo de concentração ou câmera de gás , mas numa paralisia moral que impede que as pessoas enxerguem o óbvio: quando permitimos que um grupo seja desumanizado, abrimos as portas para que todos sejam desumanizados.
O silêncio não é uma opção.
A história já nos mostrou onde ele nos leva.
Advertência : A comparação acima pode ter validade no sentido de destacar os perigos da desumanização, da retórica de ódio e do silêncio diante de políticas de exclusão.
Servindo como um alerta sobre como práticas aparentemente menores podem evoluir para violações mais graves dos direitos humanos se não forem contestadas.
No entanto, é crucial reconhecer as diferenças históricas e contextuais para evitar banalizar o Holocausto, um evento único em sua escala e horror.
A analogia até pode ser útil como uma ferramenta retórica para chamar a atenção para questões importantes, mas deve ser observada com cuidado e precisão, sempre contextualizando as diferenças entre os dois cenários.