Em exercício em Santos, PMs cantam que “miram na cabeça” e “atiram para matar”
Atitude vai contra as orientações da Polícia Militar; instituição afastou instrutores
Em exercício na Avenida Ana Costa, no Gonzaga, em Santos, na manhã desta quinta-feira (30), policiais militares cantaram que miram na cabeça e atiram para matar. Se aplicada em confronto, a atitude vai contra as orientações da Polícia Militar, baseadas no Método Giraldi, que prega a preservação da vida. O comando da PM informou ter afastado os instrutores responsáveis pela atividade.
O vídeo, que circula nas redes sociais e chegou a A Tribuna, mostra uma tropa em treinamento na avenida, correndo e entoando cantos. Em um dos trechos, os policiais dizem: “Eu miro na cabeça e atiro para matar. Se munição eu não tiver, pancadaria vai rolar”.
O Método Giraldi, utilizado pela PM, diz que, em um confronto armado, “não há como escolher pontos de acerto no agressor; dispara-se na direção da sua silhueta”. Esse disparo contra o suspeito, conforme a diretriz, “não tem como finalidade matá-lo, mas, fazer cessar sua ação de morte contra a sua vítima”.
Usada pela PM paulista desde 1998, a doutrina prega a mudança de uma cultura de morte, “importada da instrução de tiro das Forças Armadas”, para uma “cultura de preservação da vida”. Tiros na cabeça costumam ser fatais.
Resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a conduta de funcionários responsáveis pela aplicação da lei, adotada pelo Brasil, estipula que, quando o “uso legítimo da força e de armas de fogo for inevitável”, um dos objetivos deve ser “minimizar danos e ferimentos e respeitar e preservar a vida humana”.
A Baixada Santista teve, no ano passado, número recorde de suspeitos mortos por policiais militares. Na semana passada, A Tribuna mostrou que os batalhões de São Vicente e Praia Grande estão entre os cinco mais letais do Estado, conforme relatório da Ouvidoria da Polícia de São Paulo.
Foi também em 2017 que ocorreu o recorde de PMs assassinados na região.
Em nota a A Tribuna, a Polícia Militar declarou que o canto dos policiais “não reflete os princípios adotados pela instituição, que defende a vida e a integridade física das pessoas”. “Os instrutores responsáveis foram afastados da atividade de docência e foi instaurado procedimento disciplinar para apuração”.



