Carta do Dr. Youssef Abou Chahin aos Policiais Civis 99

07/04/2018
Carta do Dr. Youssef Abou Chahin aos Policiais Civis
Sábado, 7 de abril de 2018 (6:00)
Carta aberta ao Policiais Civis do Estado de São Paulo

Caros colegas Policiais Civis,

Assumi, com muito orgulho, a Delegacia Geral de Polícia em 6 de janeiro de 2015, por escolha do então Secretário de Segurança Pública, Dr. Alexandre de Moraes. A princípio relutei em concordar, pois tinha a certeza de que as dificuldades seriam muitas, uma vez que meu objetivo seria dirigir uma POLÍCIA CIVIL DE ESTADO e não de governo, visando, obviamente, retirar as influências externas da instituição e prestigiar os policiais comprometidos com a Administração Pública. Todavia, como sempre gostei de desafios em minha vida, após inúmeras reuniões, decidi aceitar pois percebi que teria o respaldo necessário. Com a assunção do Dr. Mágino Alves Barbosa Filho como titular da Secretaria de Segurança Pública, em meados de 2016, não foi diferente, ou seja, manteve-se o inédito apoio total à independência funcional da Polícia Civil Bandeirante.

Como era previsto, conhecendo a Instituição como conheço (afinal são quase 30 anos de trabalho ininterrupto), com minhas atitudes consegui angariar alguns desafetos de baixa moral e/ou inteligência. Sempre agi, é bom que se diga, visando proteger a Polícia Civil dos que nela procuraram interferir esquecendo-se de que a Constituição Federal fala claramente ser a Polícia Civil dirigida por Delegados de Polícia de carreira – aliás, se quiserem aproveitar, o concurso foi autorizado e as inscrições encontram-se abertas –, bem como daqueles que, sem competência reconhecida, correm atrás de padrinhos buscando cargos, ou mesmo dos que, ao invés de trabalharem em prol da sociedade e/ou virem com ideias para ajudar, preferem as críticas defronte a holofotes ou atrás de teclados, sabendo-se lá com qual interesse, provavelmente escuso. Mas isso só me fortaleceu e me mostrou que eu estava no caminho certo.

Olhando em frente e sem perder o foco, montamos o Conselho da Polícia Civil, buscando sempre os melhores e mais experientes Delegados de Polícia para dirigir cada Departamento, tendo se sempre por base as características e o currículo profissional de cada um.

Liberdade total foi dada a esses mesmos Diretores para escolherem seus Seccionais e Divisionários, e a cada um destes, por sua vez, para compor suas equipes operacionais e chefias.

Promoções de classe em todas as carreiras passaram a ser distribuídas para todos os Departamentos Policiais do nosso Estado, indistintamente, e sempre feitas tomando-se por base critérios eminentemente técnicos.

Neste período começou a ser discutida a PEC da Previdência no Congresso Nacional e tivemos, como consequência, uma enxurrada de aposentadorias que culminou com trabalharmos praticamente, durante esses pouco mais de três anos, com aproximadamente 3/4 do efetivo previsto legalmente (cerca de 7.500 policiais a menos), mas, apesar de todas as dificuldades, alcançamos, dentre outras conquistas, a volta da Corregedoria aos quadros departamentais da Polícia Civil, a oficialização do Necrim por Decreto, a avaliação de produtividade das unidades policiais territoriais, a aprovação do DEJEC, a compra de coletes balísticos, de pistolas, de fuzis e de carabinas para enfrentarmos de igual para igual o crime organizado, a compra de viaturas policiais caracterizadas e reservadas, a incrementação e expansão do sistema AFIS junto ao IIRGD e o banco de dados de DNA, a contratação de todos os aprovados e remanescentes dos concursos de 2013, a abertura de novos concursos para a instituição com 2.750 novas vagas, a implantação do inquérito policial eletrônico, o reconhecimento e divulgação dos trabalhos de cada equipe de policiais de todo o Estado pelas redes sociais oficiais da instituição, o aumento expressivo da produtividade policial como um todo, a expansão da Delegacia Eletrônica (que, em 2017, registrou 61% das ocorrências do Estado, deixando apenas para as delegacias 39% dos registros, diminuindo muito as reclamações por demora no atendimento), um combate vitorioso contra o crime organizado com diversas operações (de grande repercussão midiática nacional e internacional), realizadas em todo o nosso Estado e também em outros Estados, a queda dos índices criminais ano a ano. Todavia, muitas outras coisas não conseguimos e, muitas delas, por não termos orçamento próprio e efetivo necessário.

Aqui cabe um parêntese: com a crise financeira se agravando no Brasil, assumimos a direção da PC exatamente quando a fartura de recursos financeiros terminou e a crise econômica nacional eclodiu trazendo consigo inúmeros problemas e limitações, sendo o mais grave para nós o de não termos conseguido junto ao Governo a reposição de perdas salarias que se arrastam há mais de 4 anos. Mas, como os políticos ligados a nossa instituição, bem como associações de classes e sindicatos, apesar de todo esforço, também não o conseguiram, sinto-me frustrado mas não culpado.

Com o orçamento comprometido, fomos várias vezes em busca de recursos junto ao Governo, contando sempre com o apoio total do Secretário da Pasta, Dr. Mágino Alves Barbosa Filho, grande parceiro de luta que, da mesma forma que seu antecessor, Dr. Alexandre de Moraes, sempre procurou, dentro de suas possibilidades, ajudar a nossa instituição e nos apoiar em toda e qualquer situação: por tal motivo, faço questão de agradecê-los publicamente.

Agora, com o término do Governo Geraldo Alckimin, e com a intenção mais do que justa do novo Governador Márcio França, declarada em várias entrevistas em rádios, revistas e demais meios de comunicação, querer escolher os cargos de confiança, achei por bem permitir que a nova administração que se inicia – à qual desejo todo êxito – esteja totalmente à vontade para montar sua equipe de trabalho e, por tal motivo, deixo o cargo de Delegado Geral da nossa Polícia Civil, fechando assim um ciclo de três anos e três meses e afirmando aos nossos policiais que tudo o que foi possível dentro das limitações do cargo e com os recursos a nós destinados, foi feito ou ao menos tentado em prol dos policiais, da segurança pública e da sociedade paulista.

Eventuais erros ou falhas, se ocorreram, foram todas involuntárias, mas sempre objetivando o melhor para os policiais, para a Instituição e para a sociedade. Agradeço a todos, de todas as carreiras e funções, que compuseram a minha equipe na Delegacia Geral de Polícia em nome do Delegado Geral Adjunto, Dr. Júlio Gustavo Vieira Guebert (não citarei todos nominalmente para não correr o risco de esquecer alguém), que se dedicaram dias e noites tentando fazer o melhor para os nossos policiais e para a segurança pública do Estado de São Paulo, e também aos meus nobres companheiros que comigo compuseram o Egrégio Conselho da Polícia Civil e que, até o último minuto, souberam motivar nossas equipes a, sempre de forma justa e legalista, produzir resultados expressivos na atividade policial, que é o combate à criminalidade, e, acima de tudo, pelo apoio e comprometimento com a causa pública demonstrados ao longo destes mais de três anos de convivência diária.

Agradeço também aos membros do CONCPC (Conselho Nacional dos Chefes de Polícia), na pessoa do seu Presidente Dr Eric Seba que, sempre que solicitados, apoiaram nossas operações policiais interestaduais e, principalmente, as nossas demandas institucionais junto ao Congresso Nacional, bem como a todas as instituições Federais, Estaduais e Municipais que, de alguma forma, trabalharam conosco nesse período, sempre demonstrado respeito e admiração pela nossa instituição.

Agradeço, por fim, de uma forma bastante emotiva e especial, a cada Policial Civil de nosso Estado, verdadeiros heróis que, mesmo com todas as dificuldades, nunca se furtaram a cumprir a nossa missão constitucional que é a de eslarecer os crimes e encarcerar os culpados, sempre com um alto grau de coragem, profissionalismo, legalidade e eficiência.

Como falei no meu primeiro dia como Delegado Geral de Polícia, este é meu último cargo na Instituição e como sempre procuro cumprir minhas promessas de forma célere, estou aposentando-me e deixando que novos valores venham e lutem com vontade – e principalmente inteligência – por uma Polícia Civil mais forte e por uma sociedade mais segura.

“Ter fé não significa estar livre de momentos difíceis, mas ter a força para os enfrentar sabendo que não estamos sozinhos” (Papa Francisco).

São Paulo, 7 de abril de 2018.

YOUSSEF ABOU CHAHIN