A atuação governamental para o desmonte ou decomposição institucional da Polícia Civil.
escrito por : Dr. amigo da Brigadeiro Tobias 9º andar .
Como assíduo leitor e colaborador deste blog, o mais conhecido espaço virtual sobre matérias de interesse policial, causou-me estranheza não ter havido repercussão e/ou qualquer comentário sobre a bem elaborada matéria jornalística veiculada no programa Fantástico do último domingo (22/10/2017).
Para minha surpresa, a reportagem foi transparente no sentido de apresentar de forma cristalina o real estado de decomposição institucional em que se encontra a Polícia Civil em todo o Brasil.
Surpresa houve nas infelizes manifestações do governador e do secretário da segurança pública de São Paulo em relação ao fiel retrato de desmonte da Polícia Civil.
Em relação ao governador, ao dizer que: “cidades de 1000 habitantes não precisam de delegados, pois não tem nada para fazer e o delegado só vai pescar” fez uma manifestação que, além de infeliz, retrata seu pensamento retrógrado e a mais completa falta de visão de estadista, o que corrobora com a dúvida popular em tê-lo em Brasília conduzindo os destinos da nação. Vivenciamos uma síndrome de insegurança pública por todo o território nacional. O fenômeno da interiorização da criminalidade foi objeto de criterioso estudo e anunciado pelo Dr. Túlio Kahn, há uma década, ainda quando prestava assessoria técnica na SSP numa das gestões do atual governador. As pequenas cidades da região metropolitana de são paulo e do interior paulista, há tempos deixaram de ser verdadeiras ilhas de tranquilidade e sossego e se transformaram em alvos recorrentes de quadrilhas bem armadas dedicadas à explosão de caixas eletrônicos e roubos a bancos. Não são apenas as cidades pequenas Sr. Governador, recentemente em Araçatuba, metrópole regional do interior, uma quadrilha se apossou da cidade não dominando apenas um destacamento policial, mas sim, mantendo acuado no próprio quartel a base de saraivadas de tiros de fuzil, todo o efetivo de um COMANDO DE POLICIAMENTO DO INTERIOR, saqueando as agências bancárias locais.
Não menos infeliz foi a manifestação do Sr. Secretário da SSP. Inicialmente, cumpre esclarecer que dezenas, quiça, centenas de delegacias de polícia das cidades da grande são paulo e do interior, só estão de portas abertas, graças ao espírito público de seus prefeitos, no sentido de emprestar funcionários pagos pelos cofres municipais para realizar serviços próprios do Estado que não disponibiliza os recursos humanos mínimos para que isso aconteça. O Secretário ao dizer que não há qualquer risco em ter pessoas estranhas aos quadros policiais trabalhando numa delegacia, falta com a verdade, e manifesta seu total desconhecimento sobre o programa de registro digital de ocorrências. Qualquer pessoa cadastrada no sistema para registrar ocorrências policiais, automaticamente, terá acesso aos bancos de dados criminal e civil do IIRGD, a base de dados do Detran e a base de dados do próprio RDO (Registro Digital de Ocorrências). Sr. Secretário, o usuário do programa pode ter acesso a informações processuais sigilosas, a informações sobre o estado das pessoas. Isso não representa perigo? Mormente quando referido usuário não tem qualquer comprometimento com a instituição onde está prestando serviço, sabendo que seus atos não estarão sujeitos à Lei Orgânica, nem tampouco ao Estatuto dos Funcionários Públicos Civis do Estado?
Complementando sua participação desastrosa na entrevista, o Sr.Secretário disse que o delegado para responder por mais de uma unidade policial recebe como compensação uma gratificação e que, embora a acumulação seja voluntária, existe uma disputa para acumular titularidades.
Pergunto ao Sr. Secretário: Um delegado que tem como única fonte de renda seu salário na polícia, a grande maioria dos delegados de polícia do interior e dos plantões das delegacias da capital e da grande são paulo se enquandram nessa situação, com 4 anos sem qualquer recomposição salarial e tendo, como única opção para que sua renda acorra as despesas pessoais e familiares, a possibilidade de disputar o acúmulo de titularidade, mesmo que isso represente comprometimento para sua saúde, vida social e familiar, não disputaria? É a mesma coisa que ter um jacaré confinado num lago por meses sem alimentação e jogar um pedaço de carniça, será que ele comeria?
O GAT não passou de mais um engodo deste governo aos policiais. Foi a forma encontrada para dar um pequeno aumento a alguns policiais em detrimento de todos os demais e dos aposentados que, diga-se de passagem, estão largados a própria sorte. Só alcança os delegados, excluindo os demais policiais civis sujeitos as mesmas condições de trabalho. Não incorpora, não é um salário a mais como no Ministério Público nos casos de acúmulo de comarca, mas sim uma referência. E como o Sr. Secretário falou, é objeto de disputa, dando margem a injustiças nos critérios subjetivos estabelecidos para sua atribuição, sendo indevidamente utilizado como forma de agradar apenas os apaniguados.
Nossa Polícia Civil só voltou a respirar no corrente ano, graças a manifestação do então Delegado Geral Adjunto dando conta da situação de miséria em que nos encontravamos. Como o fato ganhou grande repercussão na mídia, o governo, do dia para a noite, arrumou uma verba suplementar para a aquisição do mínimo necessário para que a polícia continuasse funcionando.
Governador e Secretário da Segurança Pública só lembram da Polícia Civil na composição da mesa para a concorrida entrevista coletiva à imprensa sobre uma bem sucedida investigação policial que culminou com a prisão ou morte de perigosos marginais. Isso para colher os bonus políticos do fato, depois fazem questão de esquecer que ela existe.
Por essas e por outras, ultimamente, só entra e permanece na polícia, quem não conseguiu nada melhor. Boa parte daqueles que poderiam se aposentar nela permanecem, logicamente, por motivos nem um pouco republicanos.
É isso aí. Fica consignado o meu protesto.




