Militares contra a Justiça civil
| Apu Gomes/Folhapress | ||
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| Soldado inspeciona mochila durante operação contra roubo de cargas no Rio de Janeiro |
10/08/2017 02h00
RIO DE JANEIRO – Externando o que possivelmente é uma visão majoritária nas Forças Armadas, o comandante do Exército, general Villas Bôas, usou uma rede social para mostrar seu pouco apreço pela Justiça civil, ao menos quando a ela compete julgar seus soldados.
“A Op GLO [operação das Forças Armadas] no RJ exige segurança jurídica aos militares envolvidos. Como comandante tenho o dever de protegê-los. A legislação precisa ser revista”, escreveu ele, na segunda (7). A lei que o general quer mudar é a que determina que militares sejam julgados pela justiça comum quando cometem crimes dolosos contra a vida de civis.
Há um projeto de lei, atualmente no Senado, que prevê que esse tipo de crime seja tratado pelos tribunais militares. A proposta foi lançada no ano passado, visando a Olimpíada, e foi aprovada na Câmara dos Deputados. Em linhas gerais, é a criação de um foro privilegiado para soldados que matem civis.
É difícil entender por que Villas Bôas acha que falta “segurança jurídica” para seus homens atuarem no combate à violência no Rio. Se um dos 10 mil militares da ocupação matar um civil —ainda que seja um criminoso—, será julgado pelos mesmos tribunais que julgam PMs e todos os demais cidadãos, com o mesmo direito à defesa. Por que isso os deixaria desprotegidos?
Para cumprir o dever de proteger seus homens, basta ao general dar-lhes treinamento e equipamentos adequados. Colocá-los fora do alcance da lei dos cidadãos comuns, no contexto da atuação no Rio, não é proteção, é licença para matar.
De resto, além de sinalizar desprezo pela Justiça civil, a manifestação demonstra pouco conhecimento dela: numa cidade em que quase todas as mortes cometidas por PMs viram “auto de resistência”, não são as forças de segurança que estão desamparadas nos tribunais.
Esse general quer voltar a praticar butim, tortura e assassinatos com a total garantia de impunidade dada por um serviço judicial entre compadres.
Se o nosso presidente fosse um homem honrado esse milico não estaria tão a vontade para lançar seus manifestos em causa própria; em prejuízo de uma sociedade que luta por ideais republicanos, apesar de “suas autoridades”…

