Desvio de conduta na Polícia Civil é exceção, diz corregedor 41

 

Eduardo Assagra afirma que menos de 1% do efetivo da Polícia Civil é flagrado cometendo crime

por Carlos Ratton

Os casos de tentativa de homicídio, extorsão e concussão (extorsão praticada por funcionário público), crimes supostamente praticados por quatro policiais – dois de Santos e dois de São Vicente – nos últimos dias seriam exceção na Polícia Civil. A garantia foi dada ontem, pelo corregedor auxiliar Eduardo Assagra.

Assagra revela que embora num universo de cerca de 1.800 policiais civis que prestam serviços entre Bertioga e a divisa com o Paraná – área abrangida pela Corregedoria de Santos – apenas 12 (menos de 1%) foram flagrados por desvio de conduta. Porém, a situação é suficiente para fazer com que a opinião pública tenha uma má impressão sobre o trabalho da instituição. “É importante deixar claro que a Polícia Civil não pode ser representada por esse pequeno grupo”.

A Corregedoria é um órgão fiscalizador das atividades da Polícia Civil e, em função disso, tem a obrigação de investigar todos os fatos criminais envolvendo policiais tanto nas ruas, como na área administrativa. “Posso lhe garantir que a postura adotada pelos policiais nos recentes acontecimentos não é padrão na instituição. Felizmente, é exceção. E nesses casos, a instituição impõem medidas duras e restritivas aos policiais”, disse Assagra.

Segundo o corregedor, medidas restritivas envolvem afastamento das funções; suspensão da ação nas ruas; recolhimento da arma e suspensão do porte; proibição de manter o distintivo e até ser transferido. “Tudo para garantir o melhor andamento das investigações, o bom andamento do serviço público e a proteção das vítimas ou denunciantes”, revela.

O corregedor revela que, para se investigar um policial, é preciso que haja um fato concreto e informações precisas, que podem chegar de várias formas, inclusive anônima, pelo telefone 3225-7906. Ele explica, no entanto, que são necessários elementos mínimos que garantam que as equipes consigam as provas e, neste sentido, quanto mais rápido o fato for denunciado mais chances se tem de flagrar a má conduta.

“Raramente, alguma denúncia realizada pessoalmente não se convalida (torna válida). Se uma testemunha narra um fato contra um policial, uma equipe se desloca rapidamente para buscar as provas”, revela, alertando que o tempo é fundamental e que não existe a menor possibilidade da identidade do denunciante ser descoberta. “Não temos identificação de chamadas telefônicas aqui na Corregedoria e o depoimento pessoal também é resguardado”, informa.

Diferente do que se imagina, Assagra acredita que a Corregedoria não é mal vista pela categoria (policiais), pois é um órgão que garante a lei e, apesar de ser fiscalizador e repressor, acaba valorizando a conduta dos bons policiais. “Onde existe o homem, existe a boa e a má conduta, que independem da atividade profissional”, finaliza.

Eduardo Assagra - 'Onde existe o homem, existe a boa e a má conduta, que independem da atividade profissional' (Foto: Luiz Torres/DL)

Eduardo Assagra – ‘Onde existe o homem, existe a boa e a má conduta, que independem da atividade profissional’ (Foto: Luiz Torres/DL)

Quatro policiais

 

Recentemente, a Corregedoria da Polícia Civil de Santos prendeu dois policiais lotados no Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-6) por tentativa de homicídio e extorsão qualificada, de um homem de 31 anos. Os acusados eram lotados no 2º Distrito Policial (DP) de São Vicente.

Os policiais foram reconhecidos pela vítima e pelos vizinhos dela. Prisão foi realizada na casa dos acusados, em São Vicente. Um terceiro envolvido ainda não foi identificado.

Foi determinada a apreensão das armas, distintivos e celulares dos policiais. Corregedoria ainda solicitou a apreensão de computadores que registram as imagens de monitoramento do 2º DP de São Vicente. Os policiais foram levados para o presídio da Polícia Civil, na Capital.

Em Santos, mais dois foram presos por crime de concussão, por exigirem R$ 8 mil de um aposentado de 61 anos, suspeito de estelionato. O aposentado, que é morador de São Vicente, e tem alguns boletins de ocorrência por estelionato, teria procurado a Corregedoria da Polícia para denunciar o caso. Orientado por agentes, ele combinou de entregar o dinheiro aos policiais.

Segundo informações da Corregedoria, o aposentado não era investigado pela polícia, e nem foi indiciado pela Justiça. Os dois policiais foram encaminhados também para o presídio especial da Polícia Civil.