As estatísticas criminais a serviço do interesse político do ente público que as produziu 15

Enviado em 25/08/2013 as 18:32 – Minha Colaboração Técnica ao MP, e Sem Convêni

As estatísticas criminais a serviço do interesse político do ente público que as produziu
Na SSP 2+2=1
Prezado Secretário

Entra ano, sai ano e a retórica continua a mesma.

Contrata a peso de ouro uma consultoria para tratamento das informações criminais no Estado, mas as rotinas desqualificadas que as produzem (coleta, tabulação e consolidação) continuam as mesmas.

Em várias cidades do interior, pela completa imprevidência do governo em não complementar o defasado efetivo policial no Estado, funcionários emprestados da prefeitura, não raras vezes, de baixa escolaridade, sem demérito algum, são os elaboradores de ocorrências no sistema digital e alimentadores dos bancos de dados da polícia. Como confiar na qualidade da informação?
As estatísticas deveriam ser geradas de um único banco de dados (RDO), através de uma ferramenta (BI), acabando com essa “maracutáia” de, manualmente, dar carga de uma base de dados em outra para finalizar as estatísticas num determinado período. Exemplo: Carregar manualmente os BO’s feitos pela internet na base do RDO e, depois, no sistema Infocrim e, manualmente, lançar as totalizações na planilha eletrônica da base de dados criada pela Resolução SSP 160/01( Fonte Oficial do dado estatístico criminal do Estado) conforme consta do site da SSP. Sabe como é. Tudo que não é automatizado e depende da vontade humana pode ser manipulado.

É sabido que, embora recebendo ao longo dos anos, considerável aporte financeiro da SENASP, o INFOCRIM (Sistema de georeferenciamento de ocorrências da SSP) apresenta inúmeras inconsistências que o desqualifica por completo como ferramenta de inteligência policial confiável. Vou apenas mencionar duas delas, entre outras tantas que conheço, que fulminam sua credibilidade. 1) Falta de eixo de ruas digitalizado em todas as cidades do Estado e, por conseguinte, em todas as unidades policiais e, 2) Controle eficiente da qualidade na coleta da informação na fonte, por ocasião da elaboração do BO.

Atualmente a estatística fica a mercê da vontade e interesse de quem a elabora. Por exemplo: Um mesmo BO registra duas naturezas, um Roubo e um Tráfico de Entorpecente.Na hora de lançar na planilha da Res 160/01, o titular da unidade só lança o tráfico, que pode ser interpretado tanto como indicador criminal ou como de atividade policia.

A quantidade de veículos roubados ou furtados no Estado, ao longo de mais de uma década, é oficialmente subestimada. Toda a série histórica precisaria ser revista. Vários Boletins de Ocorrência, registram o roubo de veículo com mais outra natureza, como por exemplo: o roubo de carga, o roubo a estabelecimento comercial, o roubo a residência. Na hora de lançar na planilha eletrônica da Resolução 160/01, se lança apenas como Roubo-Outros(carga, estabelecimento comercial, residência, etc.) sonegando o lançamento do Roubo-Veículo.

Para sabermos de forma mais confiável a real quantidade de veículos roubados ou furtados no Estado, devemos nos valer de outra base de dados administrada pela Prodesp, que é a Base de Veículos do Detran. Levando-se em consideração que para cada veículo roubado ou furtado é enviada uma mensagem de bloqueio (caráter geral), bastaria consultarmos a referida empresa pública para que nos informasse quantas mensagens de bloqueio por furto ou roubo de veículo foram recepcionadas das unidades policiais do Estado durante o período desejado. O resultado da pesquisa só não será totalmente confiável, em razão de uma ou outra mensagem, excepcionalmente, comunicar o roubo ou furto de mais de um veículo. Poderíamos utilizar a mesma base para sabermos também a real quantidade de veiculos localizados pelo número de mensagens de desbloqueio.

É fácil manipular as estatísticas, basta querer. Quer outro exemplo: A localização de um veículo roubado antes da formalização do BO que noticiaria o Roubo. Na delegacia de polícia, a ocorrência será registrada com duas naturezas: Roubo – Veículo e Veículo Localizado. No lançamento na planilha da Res 160/01, só lança o Veículo – Localizado, que é indicador de atividade policial, subestimando-se o indicador criminal Roubo-Veículo. Por essas e por outras, com certeza, a porcentagem de veículos localizados no Estado em relação a quantidade roubada não merece qualquer credibilidade.

Em relação aos homicídios então, nem se fala. Vez ou outra comemoram diminuição mensal de homicídios, mas a opinião pública desconhece as rotinas ou”maracutaias” que existem para se chegar a esses números finais.

A simples leitura do histórico de alguns BO’s registrados no Estado como “Morte Suspeita”, revela de maneira inequívoca que o fato é Homicídio. Os registros de Tentativa de Homicídio, Tentativa de Latrocínio, cujas vítimas falecem posteriormente, algumas vezes deixam de ser corrigidos nas estatísticas como Homicídios Consumados, Latrocínios Consumados, etc.

O mesmo acontece em relação a novíssima “Morte por Intervenção Policial”. E os que ficam feridos, falecendo posteriormente?

Não basta conhecer fundamentos estatísticos. É necessário conhecer a polícia e ser policial.

Uma boa auditoria nesses bancos de dados por quem os conhece vai mostrar que o conteúdo deles revela muito mais do que o oficialmente divulgado.

Aliás, estamos próximos de mais uma rodada das comentadas, contestadas e encomendadas estatísticas mensais. Boa Sorte!

Em tempo: Não me venha com a grande novidade que o número de homicídios baixou em relação ao mesmo período do ano passado.O que VExª, o NEV, o Instituto São Paulo Contra a Violência, O Instituto Sou da Paz e o Ministério Público precisam apurar, é o porquê tivemos no ano passado o segundo semestre mais sangrento dos últimos anos.

Temos um bom material a respeito, se precisar de ajuda, conte conosco.