O descompasso da Polícia Civil 7

24/08/13 | EDITORIAL

Enquanto a Polícia Civil tinha seu efetivo total na região diminuído, o crime – que não depende de concurso público nem de ”vontade política” – naturalmente se desenvolveu
Dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública de São Paulo na terça-feira, após questionamento do Cruzeiro do Sul, demonstram que, nos últimos dez anos, o total de policiais civis que atuam na região diminuiu 10% no âmbito do Departamento de Polícia Judiciária de São Paulo Interior 7 (Deinter 7 – Sorocaba). Em todos os 78 municípios que integram o departamento, o número de policiais caiu de 1.928, em 2003, para 1.735, em 2013 (193 policiais a menos). Apesar da redução, Sorocaba teve um acréscimo de 48 policiais (de 313 para 361), o que indica que a queda foi ainda mais acentuada nos demais municípios.

A retração do efetivo publicada na quarta-feira pelo jornal foi contestada pelo delegado-geral de Polícia Civil do Estado, Luiz Maurício Blazeck, segundo quem aquela retração já teria sido reposta. Entretanto, o número de policiais “repostos” apresentado por Blazeck (57) não representa os 10% perdidos desde 2003, e sim 2,95%. Ou seja: mesmo com a reposição citada pelo delegado-geral, houve uma queda do efetivo da ordem de 7,05% em dez anos. A reposição efetiva só deve ocorrer em algum momento do futuro, quando 1.370 policiais em fase de formação e 2.970 que ainda serão selecionados em concurso entrarem em serviço.

As conclusões possíveis sobre a redução do efetivo — que, conforme Blazeck, não é problema exclusivo do Deinter 7 — sugerem que a segurança pública sofreu um retrocesso na última década. Enquanto a Polícia Civil tinha seu efetivo total na região diminuído (na pior das hipóteses, em 10%; na melhor, em 7,05%) e concentrava policiais em Sorocaba, desfalcando as demais cidades justamente no momento em que pequenos municípios do interior passaram a ser visados por traficantes, o crime — que não depende de concurso público nem de “vontade política” — naturalmente se desenvolveu.

Pode-se argumentar que a Polícia Civil teve um ganho de eficiência e produtividade. Aliás, é bem possível que isso tenha ocorrido, já que os recursos tecnológicos incorporados ao trabalho da Polícia Científica, para auxiliar a Civil na elucidação de crimes, tiveram um desenvolvimento expressivo nos últimos anos. Mas nem toda a tecnologia poderia compensar a falta de policiais. Não inventaram, ainda, uma máquina capaz de solucionar crimes. O trabalho investigativo — assim como suas consequências, ou seja, o refreamento dos atos ilícitos e a punição aos criminosos — depende do elemento humano para colher depoimentos, obter provas, analisar indícios e evidências.

Talvez — e não vai nessa hipótese nenhuma leviandade, pois há uma relação direta entre a eficiência policial e o ritmo de proliferação do crime — a retração do contingente da Polícia Civil possa explicar alguns aspectos da criminalidade atual, como a capilaridade crescente do tráfico de drogas e a dificuldade de desarticular o crime organizado. A falta de investimento nas frentes de investigação pode ajudar a entender por que tantas crianças e adolescentes, responsáveis pela venda de drogas no varejo, são apreendidos todos os dias, enquanto seus empregadores — os verdadeiros traficantes, que negociam no atacado — só são pegos a grandes intervalos.

Lamentavelmente, o desfalque operacional sofrido pela Polícia Civil de São Paulo ocorre num momento crítico da segurança pública, em que as forças do Estado deveriam se organizar e estruturar, a fim de enfrentar tanto os crimes tradicionais contra a propriedade e a vida quanto as novas modalidades high-tech de fraudes financeiras e golpes contra o patrimônio público e privado. A ausência de uma política de Estado comprometida com a qualidade abre espaço para que panaceias enganosas — como a redução da maioridade penal, defendida pelo governador Geraldo Alckmin — ganhem espaço na sociedade e nos discursos dos políticos, em lugar daquilo que deveria ser feito.

Notícia publicada na edição de 24/08/13 do Jornal Cruzeiro do Sul, na página 3 do caderno A – o conteúdo da edição impressa na internet é atualizado diariamente após as 12h.

Um Comentário

  1. Descompasso aonde ? Os recolhas a mil, os bingos, puteiros, biqueiras, ferrolhos e demais fontes de renda pegando fogo, terceira classe em cargo de chefia enchendo o bolso, quem tem corrida nadando de braçada, sendo promovido sem trabalhar a pelo menos um ano……em descompasso estou eu com chefe pressionando por produção, com o banco no vermelho, sem promoção há anos, chefia nem pensar…….descompasso, essa foi muito boa !
    É só passar na delegacia certa que ai ver que o compasso é muito bem marcado para as pessoas certas e quem dá o compasso nem quer saber de largar a cadeira !

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  3. Novamente ouvi o governador falar em aumentar o efetivo da PM no estado para diminuir a criminalidade. Será que não percebem que a criminalidade está aumentando de forma assustadora porque não tem mais repressão (investigação)..
    Quando a PC realiza um trabalho bem realizado leva para a prisão 10, 12 até 20 pessoas de uma só vez, e com provas substancias, enquanto a PM apresenta nos plantões da vida as ocorrências quadradas. Precisamos de muito mais investigadores.

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  4. E veja se algum iluminado coloca as delegacias prá funcionarem decentemente, já viram que as merdas das Centrais de Flagrantes não deram certo, é obvio que não daria, coisa criada por quem não entende nada de Decap, onde já se viu deslocar partes, vagabundos e PMs de um extremo para outro da seccional, bem como essas bostas das CPJs, onde um distrito carrega de 3 a 4 outros nas costas , todas as noites, feriados e finais de semana, sobrecarregando um DP em laudos, inquéritos, drogas e objetos, enquanto os outros ficam só olhando e, nem sempre essa delegacia possui funcionários o suficiente para dar conta disso. Todas as delegacias deveriam funcionar com equipes completas e 24 horas diárias, cada uma cuidando da sua base territorial, tendo no máximo, se não houver delegados suficientes, que um deles responda por mais de um plantão, se deslocando entre duas delegacias, pois, se não há funcionários suficientes para compor o quadro da unidade policial, QUE ESTA UNIDADE SEJA FECHADA EM DEFINITIVO, inclusive com a desocupação das instalações. Já disse que dois policiais prá ficarem tomando conta de um prédio que guarda veículos, viaturas, armamento, drogas e demais coisas NÃO VAI DAR CERTO!!!!!! Estes ficam vulneráveis , pois a maioria dos prédios das delegacias tem vários pontos devassáveis, ou seja, falta de muros,portões,grades, cameras…..fáceis de serem violados. Não é uma delegacia que fecha à noite que vai trazer segurança prá população do entorno e sim um policiamento ostensivo suficiente, que não é atribuição nossa……portanto que seja efetuado um estudo sobre o número de ocorrencias de cada unidade bem como verifique-se a localização de cada uma e ENCERRE AS ATIVIDADES DAQUELAS QUE SÃO DESNECESSÁRIAS, tendo seus funcionários e patrimonios distribuídos entre as próximas que suprirão a ausencia da unidade encerrada. Não tem funcionário, não há previsão de contratação, tem funcionário mas nenhum quer ir pro Decap…….FECHA!!!!!!!! Ainda assim sobra um $$$ pela venda do prédio, assim como as garagens, que ocupam areas grandes em bons lugares apenas para manterem duas bombas prá abastecer viaturas( (lavagem, troca de óleo, um calibrador de pneus, um filtro, uma lampada, uma palheta de limpador, só em sonho) . Essas garagens só servem prá depósito de viatura velha ou batida, prá guardar cachorro, ter aquelas cozinhas imundas e um colega sózinho à noite prá tomar conta. Cada viatura deveria ter seu cartão prá abastecimento e troca dos demais itens que podem perfeitamente serem executados em postos de gasolina, com os dados de km , datas e itens substituídos. Só não melhora quem não quer……..fui!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

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  5. Caro Abestado, precisa aumentar o efetivo sim……..o efetivo que vai prás ruas, que vai fazer seu dever constitucional que é patrulhamento ostensivo e preventivo, chega de policial pilotando mesa, chega de Cefap ( nunca ví tanto policial à toa sem fazer nada juntos), chega de TJM (juiz militar, piada de mau gosto) e se pegar aquele quadrilátero da Luz e aqueles quartéis da Zona Norte e colocarem todos na rua, não terá rua o suficiente prá patrulhar. Já chega o excesso de oficial “buzina de avião” (sem função), ganhando bem prá caramba, os quais ficam nos batalhões e cias, de agasalho e camiseta, coçando o saco o dia todo e fodendo a vida dos praças. O nosso efetivo também precisa ser aumentado: esvazia-se o prédio da Brig Tobias, enxuga-se outros Departamentos e Seccionais, acaba com esse horário dia sim/ dia não com sábados, domingos e feriados livres , bem como aqueles “meio-períodos”. Aí eu quero ver se faltará policial……fui!!!!!!!!!!

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