João Alkimin: Quem paga a fatura? 20

Quem paga a fatura?

Há 20 anos ocorria o massacre da casa de detenção e o então Governador Fleury, diga-se de passagem, também ex-PM e Promotor Público,  desde aquela época afirmava a mesma coisa: “não autorizei a invasão”.
Me lembra muito o Governador Geraldo e seu Secretário ferreira Pinto, que também não sabem de nada.
Agora, o ex Governador Fleury, talvez evoluindo com o passar dos tempos, copia o mote do Governador Geraldinho “quem não reagiu está vivo”.
Ora, quantos teriam reagido na casa de detenção ao poder de fogo da PM? Que a época invadiu a detenção com unidade do GATE sob o comando do então Capitão Wanderlei Mascarenhas de Souza, com o GOE sob o comando do Capitão Arivaldo Sérgio Salgado e com a ROTA propriamente dita sob o comando do Capitão Valter Alves Mendonça, no primeiro andar com o Capitão Ronaldo Ribeiro dos Santos e com a presença do então Tenente Coronel Luis Nakaharada.
Diz em entrevista o ex Governador Fleury que dois Juizes e direito estavam presentes como se isso servisse para validar qualquer coisa. Foi provado que a presença de Magistrados não inibiu a conduta enlouquecida da tropa, bem como demonstrado desde aquela época que o fato do Secretário de Segurança ser Promotor  de Justiça não quer dizer que não se cometam arbitrariedades e, estão ai para dizer o caso Gradi, Castelinho e outros.
As afirmativas do ex -Governador e Procurador de Justiça aposentado Fleury, não me causam estranheza, tendo em vista que politicamente sua origem é a mesma de Mário Covas, de Geraldo Alckimin e tantos outros, o PMDB.
Portanto, são todos farinha do mesmo saco.
E quem paga essa fatura? Certamente a tropa, pois os Oficiais provavelmente estavam e estão bem protegidos, alguns inclusive, prestando serviços a Prefeitura de Mogi das Cruzes.
E os soldados?
Esses pagarão certamente, pelo menos uma parte  da fatura.
Necessário também se faz, acabar com essa história de que algumas unidades são Tropa de Elite. Especificamente, com referência a ROTA, na Polícia Militar. Tropa de Elite são aqueles que atendem qualquer ocorrência, de briga de bêbado a sequestro com reféns, pois esses, os patrulheiros, os integrantes da força tática, não escolhem ocorrências de maior visibilidade como a ROTA, porque a mesma escolhe as ocorrências que quer atender.
Tropa de Elite são aqueles Policiais Civis que estão nos plantões, pois também não escolhem ocorrências, encarando o que vier pela frente.
Parece-me que a Administração usa hoje uma nova maneira de massacrar seus policiais, nesse caso especificamente os civis, enchendo-os de PADs , em que a vitima mais visível é o Delegado Conde Guerra, tentando com isso obstar seu retorno as fileiras, tática essa que reputo idiota, pois uma parte da justiça pode ser cega mas nossos Tribunais Superiores enxergam bem e longe.
O exemplo mais claro de como age a Administração é o caso do Jornalista Fábio Pannuzio, que se viu obrigado a encerrar seu blog por não aguentar  mais pagar honorários advocatícios, segundo suas próprias palavras. Entendo e respeito, mas não concordo, pois nesse caso deveria então aconselhar imediatamente o Delegado Conde Guerra a retirar o Flit Paralisante do ar, mas não o farei, por vários motivos, dentre os quais o mais importante, tenho certeza que ele não iria fugir da raia.
Causa-me espanto também a autofagia do PSDB que ataca um dos seus, pois não podemos nos  esquecer que o jornalista Pannuzio sempre defendeu esse partido, demonstrando assim, que o PSDB não aceita críticas, quer somente que sejam tecidos loas a sua Administração, quando criticado o criador se vira contra a criatura e imediatamente a ataca e esta se não recuar será devorada. Não tenho a menor duvida que se o jornalista Panuzzio não houvesse recuado, certamente o próximo passo seria pressionar a Rede Bandeirantes de onde ele tira seu sustento a demiti-lo. Digo isso porque sou testemunha viva do que tentaram fazer com o jornalista Carlos Brickman quando o mesmo criticava um outro Secretário de Segurança, que moveu dezenas de processos contra o mesmo. Tempos bicudos esses que vivemos…
Quero deixar claro que a responsabilidade por esse artigo, pelos anteriores e pelos posteriores é minha. Pois meus textos não são analisados, censurados ou sequer revisados pelo Flit Paralisante ou pelo Vejo São José.
João Alkimin

Crise gravíssima na segurança pública de São Paulo. 49

Apagão geral na segurança pública em São Paulo

Publicado em 29-Set-2012

Sem comando e com licença para matar. De um lado essa é a atuação da PM nas ruas de São Paulo. De outro, os próprios policiais são vítimas dos criminosos, sem condições de investigar e de desarticular o crime organizado que a tudo comanda de dentro dos presídios.

Não há outro diagnóstico possível. Esta é a situação da Polícia Militar em São Paulo. Licença para matar, aliás, dada pelo governador tucano Geraldo Alckmin em suas declarações irresponsáveis e desastradas a cada ocorrência de violação dos direitos humanos cometidas por sua polícia.

É o pior dos mundos, um verdadeiro apagão geral na segurança pública no Estado. Mas, uma coisa vocês, que acompanham o blog, hão de convir: não é por falta de tratar do tema, de criticar. Ano após ano nós criticamos. E a situação só piora.

Leiam as palavras dessa moradora do Jardim Macedônia: “Eu coloquei as mãos para cima, assustada, com medo de ser baleada também (…). Eu não acreditei na cena que vi: as meninas baleadas, o policial com arma em punho pra mim como se eu fosse uma bandida”, contou a mãe de uma das meninas atingidas por estilhaços (segundo a PM) quando os policiais atiravam contra motoqueiros suspeitos no bairro Jardim Macedônia, na capital paulista.

“Cala a boca filha. Isso aí foi só um tirinho de raspão”

Uma das meninas foi atingida no nariz e a outra alvejada [segundo a nota d PM por estilhaços] no olho. E não bastasse isso, ambas foram levadas sozinhas, sem a presença de um adulto – repito, elas têm 11 e 14 anos –, pelos policiais ao hospital. Vejam o que a menor delas contou à imprensa: “Dentro da viatura eu falava: cadê a minha mãe? Eu quero a minha mãe? Por que vocês machucaram a gente? O moço (PM) falou assim: cala a boca filha, isso aí foi só um tirinho de raspão”.

E há ainda o caso dos PMs assassinados durante suas folgas. Agora foram mais três policiais mortos. O primeiro da ROTA, atingido por tiro de fuzil quando saía de casa, na quinta (27.9). Na sexta (ontem, 28) mais dois PMs. A contabilidade macabra está nos jornais: 73 PMs mortos este ano, 56 em horário de folga.

Agora vocês imaginem o clima no enterro deste policial da ROTA, também morto quando saía de casa. Estava de folga, como os dois outros mortos também nestes dias.

Governador, talvez não adiante abordar milhares de pessoas…

Vocês querem indicadores mais claros de que o crime está comandando as ações da segurança pública do Estado, de dentro dos presídios? Querem maior atestado de falência da política (será que merece este nome?) de segurança pública instalada no Palácio dos Bandeirantes?

O governador Geraldo Alckmin tem que parar e pensar. Tem que rever a situação, convocar a inteligência, colocar para estudar o problema da segurança pública. Não pode mais continuar com essa política que deixa, de um lado os criminosos à vontade para dominarem a situação, de outro a polícia agindo sem direção, sem condições de enfrentar os criminosos. A polícia tem que proteger efetivamente a população, em vez de se comportar como verdadeira ameaça à população.

Não dá para saber se a ação está ou não relacionada com este problema das mortes dos PMs, mas entre a tarde e a noite da mesma quinta em que morreram mais dois PMs, a polícia militar realizou uma mega-operação e deteve 252 pessoas em todo o Estado. Abordaram 64.291 pessoas. Daqui a pouco abordarão todos os habitantes do Estado. E aí? É essa a inteligência da nossa polícia?

A que ponto chegamos…

No caso das meninas do Jardim Macedônia, não bastasse tudo o que fizeram, o absurdo dessas meninas estarem sozinhas, ainda um “Cala a boca, filha?” Onde estamos? Onde está o governador? Em nota oficial, após os PMs terem coragem de dizer que as meninas haviam sido acidentalmente atingidas por balas de borracha, a PM afirmou ter instaurado inquérito para apurar os fatos.

“Por motivos a esclarecer, um dos policiais efetuou disparos contra os ocupantes da moto e os estilhaços atingiram as duas crianças que estavam do outro lado da rua”, diz a nota.  A que ponto chegamos? Essa é a segurança pública do dr. Geraldo Alckmin. Esta é a PM tucana.

A situação traduz muito bem a insegurança da população frente a uma polícia que necessita urgentemente de comando, de um plano de ação articulado, e de melhor preparo. Coisas que fazem parte de qualquer política de segurança pública decente, mas que definitivamente não existe em São Paulo, por tudo o que temos visto (e comentado) aqui no blog.

Há uma crise gravíssima na segurança pública de São Paulo. Uma crise, aliás, que a mídia esconde ou trata como se fosse mais um caso isolado. Não é. A violação dos direitos humanos em São Paulo é sem precedentes. E é um dos lados da moeda. A falta de efetividade das ações policiais para conter os criminosos é o outro lado. Eles se complementam e mostram uma polícia desorientada, agindo a esmo e amedrontando as pessoas. Mas não os criminosos.

Cadê a imprensa, sempre tão crítica às políticas do PT? O que está precisando acontecer mais para que ela afinal se dê conta de que algo não anda bem?

Estamos à mercê de um verdadeiro bang bang, cercados de cenas que lembram os filmes do velho oeste estadunidense. Onde estamos?

ZÉ DIRCEU