Geraldo Alckmin acusa traficantes de droga de criar a onda de violência 23

Justiça

Governador de São Paulo acusa narcotráfico de criar onda de violência

São Paulo, 14 jul (EFE).- O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, acusou neste sábado os grupos de traficantes de droga de criar a onda de violência que tomou a capital do estado nas últimas semanas.

‘Eles atacam os policiais para desviar a atenção e aliviar nossa pressão contra o tráfico de drogas, mas não vamos retroceder um milímetro’, afirmou Alckmin, do PSDB.

A declaração de Alckmin a jornalistas foi feita após o assassinato de oito supostos bandidos por parte da Polícia de São Paulo durante a noite de sexta-feira e na madrugada deste sábado.

A ação foi qualificada pelas autoridades como ‘resistência seguida de morte’, motivo por qual a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo instaurou uma sindicância interna.

Uma investigação similar também foi aberta depois do massacre de outras oito pessoas na cidade de Osasco, na região metropolitana de São Paulo, por pistoleiros com armas de grosso calibre no momento em que os torcedores do Palmeiras comemoravam a conquista do título da Copa do Brasil.

As autoridades suspeitam que os crimes foram cometidos por membros das forças de segurança em represália pela morte nos últimos dias de sete agentes, quatro atentados contra bases policiais e o incêndio de 13 ônibus. EFE

 

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Policiais militares são acusados de sequestro…Você é a favor ou contra a aplicação de métodos discricionários de investigação em casos como este ?…( Incomunicabilidade e TORTURA ) 27

São Vicente

Sequestro de empresário completa 105 dias de agonia

Eduardo Velozo Fuccia

A angústia parecia chegar ao fim. Após seis contatos telefônicos durante 71 dias, finalmente, os sequestradores reduziram o valor do resgate a um patamar que a família do empresário Cristiano Francisco de Freitas, de São Vicente, poderia pagar. Negociação encerrada, os parentes esperavam apenas por uma prova de vida da vítima e as instruções dos sequestradores para a entrega do dinheiro. Porém, a luz acesa no fim do túnel indicativa de um final feliz logo se apagou.
O clarão que renovava as esperanças da família de Cristiano foi substituído pela angústia, agora, somada a boa dose de desespero. O último contato dos sequestradores foi em 10 de junho. Hoje faz 105 dias que não se tem notícias sobre Cristiano. Ele foi sequestrado em 31 de março, ao chegar em sua empresa, em São Vicente.
> Delegado estabelece vínculos entre acusados
> Falsa blitz detonou ação

Embora o paradeiro da vítima seja desconhecido, bem como é ignorado se ela está viva ou morta, quatro acusados de envolvimento no sequestro já estão presos e outros, identificados. Entre os capturados, dois são policiais militares de São Vicente.
Lotados na 1ª Companhia do 39º BPM/I, os soldados Daniel Maduro e André Luiz Marques dos Santos são parceiros de viatura e tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça. Maduro fazia bico de segurança na empresa da vítima.
Ambos estão recolhidos no Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte da Capital, e negam participação no crime. O delegado Carlos Alberto da Cunha, da Delegacia Especializada Antissequestro (Deas) de Santos, garante haver indícios contra eles.
Também foram capturados por força de prisão temporária o informante policial Anderson Aparecido Schimidt, o Grilo, e Ana Paula Melo Nogueira, cunhada de um dos homens apontados como chefe da quadrilha que sequestrou Cristiano.
Com mandados de prisão temporária de 30 dias expedidos contra si, estão foragidos Rogério Amorim de Oliveira ou Rogério da Silva, o Mia; a sua mulher, Arlete Ana Sobrinha (irmã de Ana Paula), e Ismael Aparecido Quintiliano, o Mael.
Para o cumprimento simultâneo dos sete mandados de prisão na madrugada de 28 de junho, em São Vicente e no Jardim Miriam, periferia da Zona de Sul de São Paulo, a Deas planejou uma grande operação.
A decisão só foi tomada após a família da vítima e a Polícia Civil se reunirem. “Os parentes tiveram conhecimento prévio e formalmente autorizaram a nossa investida, após se passarem 18 dias sem contatos dos sequestradores”, justifica Cunha. Equipes do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos e da Corregedoria da Polícia Militar deram apoio aos policiais da Deas, mas não foram localizados Mia, Arlete e Mael.
O delegado Cunha não tem dúvidas de que outras pessoas participaram do sequestro, mas as suas identidades ainda são investigadas. Tão logo reúna provas contra elas, o responsável pela Deas também requererá à Justiça as suas prisões.
Irmão apela por notícias “Minha família está destruída, mas quer acreditar no melhor”. A frase de Rogério Eleutério de Freitas, de 33 anos, irmão de Cristiano, resume o sentimento de angústia seu e de seus parentes, além da chama de esperança que eles mantêm acesa. De acordo com Rogério, foi difícil tomar a decisão de autorizar a deflagração da operação policial para prender os acusados até o momento identificados. Porém, naquele momento, diante do longo silêncio dos sequestradores, não cabia outra opção.
“Disseram que mandariam uma foto com ele segurando um jornal do dia, mas não mantiveram mais contatos. Sei que a situação é grave, mas não vou perder a esperança enquanto ele não aparecer. Peço que nos auxiliem com informações”, desabafa o irmão.
Cristiano, de 34 anos, mantém relação estável com uma mulher. O casal tem dois filhos e cria um terceiro, de outro relacionamento da companheira do empresário. As crianças têm 1, 3 e 13 anos. A mais velha sabe do sequestro. Para a do meio, o pai está viajando.
Rogério trabalha junto com Cristiano na distribuidora de hortifrutigranjeiros e lamenta o envolvimento do policial Maduro. “Ele era segurança há cerca de oito anos, sendo da nossa confiança. Ainda não caiu a ficha. A vontade que dá é vender tudo e sair daqui”.
O vínculo entre o soldado Maduro e a vítima lembra o emblemático sequestro do menino Yves Ota, de 8 anos. O garoto foi morto com dois tiros no rosto horas após ser sequestrado, em agosto de 1997. Depois, teve o corpo enterrado pelos criminosos.
Apesar do homicídio, os marginais exigiram resgate para libertar o menino. Com a elucidação do crime, apurou-se o envolvimento de dois policiais militares. Um deles fazia bico de segurança no comércio do pai de Ives, na Zona Leste de São Paulo.

105 dias sequestrado 5

Delegado estabelece vínculos entre acusados

Eduardo Velozo Fuccia

O grupo que sequestrou Cristiano é dividido em duas células, cuja ligação entre si está provada, garante o delegado Carlos Alberto da Cunha. Uma delas, liderada por Mia, tem o Jardim Miriam como base de atuação. A outra está radicada em São Vicente e dela fazem parte, entre outras pessoas, os soldados Maduro e Marques.
“Desde o primeiro dia sabíamos do sequestro e passamos a investigá-lo, mas sem aparecer. Trabalhamos com total discrição para não colocar em risco a vida da vítima. Durante as negociações, apuramos a participação de algumas pessoas, mas deixamos de efetuar prisões porque não sabíamos onde era o cativeiro”, diz o delegado da Deas.
As primeiras pistas indicavam o envolvimento de um homem apelidado por Grilo e de policiais militares. “A partir daí, ficou evidenciado o comportamento atípico de Maduro, que trabalhava como segurança na empresa da vítima e no dia do sequestro, apesar de estar de folga, pediu para ser escalado”, revela Cunha.
Checando a vida de Maduro, a equipe da Deas chegou ao nome do soldado Marques, seu parceiro de viatura.
“Coincidentemente, levantamos que Marques financiou o carro até hoje utilizado por Anderson Aparecido Schimidt, o Grilo, que foi o elo entre os policiais militares e o bando de Mia”, acrescenta o delegado.
Pesquisas realizadas deram aos investigadores da Deas a certeza de que o informante Grilo, horas antes do sequestro, ficou próximo do local do crime e se comunicou por telefone várias vezes com o soldado Marques, com ele se encontrando antes e após o arrebatamento da vítima.
Os policiais também viram na casa de Grilo um Peugeot 307 preto, que está em nome de Ana Paula, cunhada de Mia. Em fevereiro deste ano, Mia foi preso em Praia Grande dirigindo esse carro e portando munições de fuzil. Porém, ele foi para a cadeia com nome falso, sendo logo solto. O automóvel foi restituído à dona pela Justiça.
Apesar de Ana Paula ser a proprietária do Peugeot, o carro foi comprado com o dinheiro de Mia e por ele era usado. “Ela confirmou essa situação e a devolução do veículo ao cunhado após conseguir liberá-lo. Essa acusada ainda admitiu saber do envolvimento de Mia e da sua irmã Arlete em sequestros e roubos”, informa Cunha.
Um celular usado pelos sequestradores durante as negociações do resgate, conforme o delegado, foi parar nas mãos da mãe de Ana Paula e Arlete, sogra de Mia. Ela mora no Jardim Miriam, no mesmo endereço onde está cadastrado o Peugeot, e enviou depois o telefone para parentes residentes no município de Jataúba (PE).
“Duas células, de São Vicente e do Jardim Miriam, se associaram para cometer o sequestro. O carro e o celular demonstram a ligação entre elas. Do grupo da Capital também faz parte Mael, braço direito de Mia. Ele negociou o resgate e a sua voz gravada nas ligações foi reconhecida pela sua mulher”, detalha o delegado.
Outra informação importante foi prestada por Grilo. “Ele nos confirmou informalmente que a ideia inicial da quadrilha era roubar o malote de dinheiro da empresa, mas houve a alteração do plano e ficou decidido sequestrar Cristiano. Com essa mudança, Grilo alega que foi sacado do esquema pelos parceiros”.

Falsa blitz detonou ação

Eduardo Velozo Fuccia

Cinco homens participaram do arrebatamento da vítima, conforme as investigações. Reconhecido fotograficamente por testemunhas, Mia era um deles, usava touca e portava um fuzil. O bando ocupava um Vectra preto, produto de roubo dias antes na área do Jardim Miriam, e outro carro, tipo sedan, não identificado. O bando simulou uma falsa blitz da Polícia Federal para dominar Cristiano e algemá-lo com as mãos para trás.
Um dos sequestradores trajava terno e se passou por delegado. Os demais vestiam camiseta preta com a inscrição Polícia Federal em amarelo. Com exceção de Mia, que empunhava armamento de cano longo e grosso calibre, os demais portavam pistolas. A investida aconteceu às 5h40, em frente à distribuidora de produtos hortifrutigranjeiros de Cristiano, na Cidade Náutica, São Vicente.
Testemunha ocular da ação, o soldado Maduro nada fez e não foi importunado pelos sequestradores. “Apuramos que ele ficava dentro da empresa, em local onde tinha ampla visão de tudo, mas não podia ser visto. Curiosamente, na hora do sequestro, ele estava na frente, viu os carros do bando parados do outro lado da rua e não suspeitou de nada”, observa o delegado Carlos Alberto da Cunha.
Essa conclusão decorre do relato de testemunhas e da minuciosa análise da filmagem captada por uma câmera da distribuidora da vítima. As imagens ainda mostram outras situações altamente suspeitas, conforme a avaliação do delegado da Deas. “Quando Cristiano chegava com o seu Corsa, Maduro tira e põe o boné na cabeça cinco vezes em 27 segundos. Mal estacionou o veículo, a vítima foi abordada”.
As cenas também gravaram Poucas horas após a fuga da quadrilha, o Vectra foi abandonado parcialmente queimado na Vila Mirim, em Praia Grande, a uma quadra da base de pousos e decolagens de helicópteros da Polícia Militar. Por volta das 9 horas, houve o primeiro contato dos criminosos com a família de Cristiano. Eles anunciaram o sequestro, exigiram o pagamento de resgate e disseram que eram “profissionais”.
A quantia exigida e o valor definido ao final da negociação não foram divulgados. “Só podemos dizer que a importância inicial era exorbitante e que a quadrilha, apesar de se intitular profissional, se comportou de modo bastante amador ao simular, entre outras coisas, uma blitz policial. Desse modo, ela motivou a família de Cristiano a procurá-lo em diversas delegacias até receber o primeiro contato”, diz o delegado.
Mia e Mael já eram procurados da Justiça antes do sequestro de Cristiano. Mia tem passagens por roubo, homicídio, extorsão mediante sequestro e formação de quadrilha, entre outros crimes. Na folha de antecedentes de Mael constam passagens por homicídio e roubos, sendo ainda suspeito de praticar assaltos a condomínios de luxo em São Paulo apurados pelo Departamento de Investigações Criminais (Deic).
A captura dessa dupla é considerada fundamental para a descoberta do paradeiro da vítima e a identificação de outros participantes do crime. Cunha reconhece que a cada dia que passa aumenta a preocupação com o que possa ter ocorrido com o empresário, mas mantém uma convicção. “As investigações prosseguem até a localização de Cristiano. Só acredito em morte após a comprovação”.