A angústia parecia chegar ao fim. Após seis contatos telefônicos durante 71 dias, finalmente, os sequestradores reduziram o valor do resgate a um patamar que a família do empresário Cristiano Francisco de Freitas, de São Vicente, poderia pagar. Negociação encerrada, os parentes esperavam apenas por uma prova de vida da vítima e as instruções dos sequestradores para a entrega do dinheiro. Porém, a luz acesa no fim do túnel indicativa de um final feliz logo se apagou.
O clarão que renovava as esperanças da família de Cristiano foi substituído pela angústia, agora, somada a boa dose de desespero. O último contato dos sequestradores foi em 10 de junho. Hoje faz 105 dias que não se tem notícias sobre Cristiano. Ele foi sequestrado em 31 de março, ao chegar em sua empresa, em São Vicente.
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Embora o paradeiro da vítima seja desconhecido, bem como é ignorado se ela está viva ou morta, quatro acusados de envolvimento no sequestro já estão presos e outros, identificados. Entre os capturados, dois são policiais militares de São Vicente.
Lotados na 1ª Companhia do 39º BPM/I, os soldados Daniel Maduro e André Luiz Marques dos Santos são parceiros de viatura e tiveram a prisão temporária de 30 dias decretada pela Justiça. Maduro fazia bico de segurança na empresa da vítima.
Ambos estão recolhidos no Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte da Capital, e negam participação no crime. O delegado Carlos Alberto da Cunha, da Delegacia Especializada Antissequestro (Deas) de Santos, garante haver indícios contra eles.
Também foram capturados por força de prisão temporária o informante policial Anderson Aparecido Schimidt, o Grilo, e Ana Paula Melo Nogueira, cunhada de um dos homens apontados como chefe da quadrilha que sequestrou Cristiano.
Com mandados de prisão temporária de 30 dias expedidos contra si, estão foragidos Rogério Amorim de Oliveira ou Rogério da Silva, o Mia; a sua mulher, Arlete Ana Sobrinha (irmã de Ana Paula), e Ismael Aparecido Quintiliano, o Mael.
Para o cumprimento simultâneo dos sete mandados de prisão na madrugada de 28 de junho, em São Vicente e no Jardim Miriam, periferia da Zona de Sul de São Paulo, a Deas planejou uma grande operação.
A decisão só foi tomada após a família da vítima e a Polícia Civil se reunirem. “Os parentes tiveram conhecimento prévio e formalmente autorizaram a nossa investida, após se passarem 18 dias sem contatos dos sequestradores”, justifica Cunha. Equipes do Grupo de Operações Especiais (GOE), da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos e da Corregedoria da Polícia Militar deram apoio aos policiais da Deas, mas não foram localizados Mia, Arlete e Mael.
O delegado Cunha não tem dúvidas de que outras pessoas participaram do sequestro, mas as suas identidades ainda são investigadas. Tão logo reúna provas contra elas, o responsável pela Deas também requererá à Justiça as suas prisões.
Irmão apela por notícias “Minha família está destruída, mas quer acreditar no melhor”. A frase de Rogério Eleutério de Freitas, de 33 anos, irmão de Cristiano, resume o sentimento de angústia seu e de seus parentes, além da chama de esperança que eles mantêm acesa. De acordo com Rogério, foi difícil tomar a decisão de autorizar a deflagração da operação policial para prender os acusados até o momento identificados. Porém, naquele momento, diante do longo silêncio dos sequestradores, não cabia outra opção.
“Disseram que mandariam uma foto com ele segurando um jornal do dia, mas não mantiveram mais contatos. Sei que a situação é grave, mas não vou perder a esperança enquanto ele não aparecer. Peço que nos auxiliem com informações”, desabafa o irmão.
Cristiano, de 34 anos, mantém relação estável com uma mulher. O casal tem dois filhos e cria um terceiro, de outro relacionamento da companheira do empresário. As crianças têm 1, 3 e 13 anos. A mais velha sabe do sequestro. Para a do meio, o pai está viajando.
Rogério trabalha junto com Cristiano na distribuidora de hortifrutigranjeiros e lamenta o envolvimento do policial Maduro. “Ele era segurança há cerca de oito anos, sendo da nossa confiança. Ainda não caiu a ficha. A vontade que dá é vender tudo e sair daqui”.
O vínculo entre o soldado Maduro e a vítima lembra o emblemático sequestro do menino Yves Ota, de 8 anos. O garoto foi morto com dois tiros no rosto horas após ser sequestrado, em agosto de 1997. Depois, teve o corpo enterrado pelos criminosos.
Apesar do homicídio, os marginais exigiram resgate para libertar o menino. Com a elucidação do crime, apurou-se o envolvimento de dois policiais militares. Um deles fazia bico de segurança no comércio do pai de Ives, na Zona Leste de São Paulo.
