Traficantes alugam casas para o consumo de crack 7

08/01/2012

Folha de S.Paulo

No interior de um apartamento de classe média na Bela Vista (região central), usuários de crack alugam a sala, o quarto e a cozinha com um único propósito: fumar a droga.

Com três celulares no bolso, um senhor aparentando ter 60 anos era o responsável pela venda das pedras e pelo aluguel do imóvel.

Preço: R$ 10 (a pedra), mais R$ 10 pelo espaço usado para consumo.

Antes mesmo da operação da PM, que cercou a cracolândia, a reportagem percorreu, nos últimos seis meses, bairros como Vila Mariana, Paraíso (na zona sul), Bexiga, Bela Vista (no centro) e Penha (na zona leste).

Nesses locais foram encontradas casas e apartamentos onde funciona um esquema até então desconhecido das autoridades públicas e policiais, as cracolândias privês.

Esses locais são extremamente lucrativos e seguros para o criminoso.

Ele ganha duas vezes: na venda da droga e na locação da área.

Para o usuário é algo discretíssimo. Nesses ambientes ele consegue fugir da polícia e dos olhares de reprovação de moradores.

Para entrar nesse local é preciso ser apresentado por algum conhecido do traficante e seguir a principal exigência: só consumir a droga vendida ali.

A reportagem visitou cinco imóveis. Os apartamentos, na Bela Vista e no Bexiga, possuem pequenas brechas nas janelas, para não intoxicar quem está trancado lá.

As portas permanecem quase o tempo inteiro fechadas.

Já as casas, ou estavam abandonadas e foram invadidas ou haviam sido alugadas pelos traficantes por preços baixos por conta de seu mau estado de conservação.

Elas estão na Vila Mariana, Paraíso e Penha.

Os muros têm mais de três metros de altura. Os portões não têm brechas, o que impossibilita que alguém de fora observe o que acontece ali.

Bairros de classe média abrigam cracolândias privês

Traficantes alugam apartamentos e casas na Vila Mariana, Paraíso e Bela Vista para receber viciados

Rafael Andrade/Folhapress
Cachimbos de crack
Cachimbos de crack

AFONSO BENITES DE SÃO PAULO

Em um espaço do tamanho de uma perua Kombi, seis homens dividem três cachimbos de crack feitos com antenas de TV e latinhas de alumínio.

Cinco deles estão sentados no chão. São iluminados por um lampião que contrasta com a janela de vidros escurecidos. O outro está em pé. Observa a cena ao lado da porta. Ali, não há móveis, tapetes, tampouco cortinas.

Passa das 16h de uma sexta-feira nublada em São Paulo. O ambiente descrito acima poderia ser em uma rua da cracolândia, na região central da cidade, mas não é.

Trata-se do interior de um apartamento de classe média na Bela Vista, a poucas quadras de um dos mais famosos corredores gastronômicos da metrópole, a rua Avanhandava. Lá, usuários de crack alugam a sala, o quarto e a cozinha com um único propósito: fumar a droga.

Com três celulares no bolso, um senhor cabisbaixo, aparentando ter 60 anos, era o responsável pela venda das pedras e também pelo aluguel do imóvel. Preço: R$ 10 (a pedra), mais R$ 10 pelo espaço usado para o consumo.

Antes mesmo da operação da Polícia Militar, que cercou a cracolândia na semana passada, a Folha percorreu, nos últimos seis meses, bairros como Vila Mariana, Bixiga, Paraíso, Penha e Bela Vista.

Nesses locais, a reportagem encontrou casas e apartamentos onde funciona um esquema até então desconhecido das autoridades, as cracolândias privês.

Dentro do apartamento da Bela Vista, o cheiro, uma mistura de tabaco, fumaça, óleo de lampião queimado e suor, é forte. Dois jovens estão alucinados. Acabaram de fumar a terceira pedra do dia. Entreolham-se e parecem apavorados, sem motivo aparente.

Um acaba de dar seu primeiro trago. Os outros três observam. Eles fumam cigarros. Esperam a vez para terem a sensação que tanto aguardaram após uma manhã inteira de trabalho em uma loja de informática ali perto.

As cracolândias privês são extremamente lucrativas e seguras para o criminoso. Ele ganha duas vezes: na venda da droga e na locação da área.

Para o usuário, a maioria homens de classes baixa e média, com idades entre 18 e 35 anos, de diferentes profissões, é algo discretíssimo.

Nesses ambientes, ele consegue fugir dos olhares de reprovação de moradores e também do controle policial.

Para entrar nesse submundo, é preciso ser apresentado por algum conhecido do traficante. Deve-se seguir a principal exigência do local, só consumir a droga vendida ali.

“Fique esperto, aqui não entra pedra [de crack] de outro lugar”, alerta o traficante.

LUZ DE LAMPIÃO

A Folha visitou cinco imóveis, entre casas e apartamentos. Em dois deles, a reportagem entrou acompanhada de um usuário, em tratamento, que conheceu na cracolândia enquanto apurava outra história. Ele só aceitou apresentar o repórter às cracolândias privês porque diz estar indignado com a quantidade de jovens viciados na cidade.

À primeira vista, por fora, não é possível perceber que em qualquer um desses cinco lugares haja venda e consumo de drogas lá dentro.

Os apartamentos, na Bela Vista e no Bixiga, são iluminados por lampiões. Possuem pequenas brechas nas janelas, para não intoxicar quem está trancado lá. As portas permanecem quase o tempo inteiro fechadas.

Para ter acesso a eles, é preciso subir dois lances de escadas. Na sequência, deve-se comprar a “pê” (pedra de crack) vendida na própria escadaria e pedir que o vendedor autorize a entrada -vale registrar que o repórter não comprou a droga.

Já as casas, ou estavam abandonadas e foram invadidas ou haviam sido alugadas pelos traficantes por preços baixíssimos por conta de seu mau estado de conservação.

Elas estão na Vila Mariana, Paraíso e Penha. Os muros têm mais de três metros de altura. Os portões não têm brechas, o que impossibilita que alguém, do lado de fora, observe o que acontece ali.

A casa da Vila Mariana não é imunda como os cortiços fechados pela operação da polícia no centro paulistano.

A morada é simples. Fica em uma rua bem arborizada, próxima de um posto de gasolina, rodeada por prédios residenciais. Dentro dela, poucos móveis. Uma mesa e duas cadeiras na sala, onde ficam o “patrão” ou seu subordinado. Ao todo, são 11 cômodos improvisados, transformados em quartos, coletivos ou individuais. São divididos por finas paredes de madeira compensada.

Há dois tipos de cracolândia privê. Nos apartamentos, o usuário compra a pedra com o traficante e a consome em um dos cômodos.

Na outra, vive no lugar, chamado “mocó”. Pode tomar banho, comer, dormir. O valor varia conforme a forma de pagamento. Adiantado em dinheiro, R$ 210. Se for pagar no fim do mês, R$ 300.

Um Comentário

  1. Avatar de Pois a nossa Polícia Civil investigará a fundo e identificará os traficantes, colocando-os atrás das grades ! Pois a nossa Polícia Civil investigará a fundo e identificará os traficantes, colocando-os atrás das grades ! disse:

    Com certeza esta prática esta com os dias contados !

    Pois a nossa Polícia Civil investigará a fundo e identificará os traficantes, colocando-os atrás das grades !

    São Paulo tem a sorte de ter a Polícia Civil que investiga e soluciona sempre, é a melhor do mundo ……anotem, esta pratica em breve acabará com todos presos

    Eu confio na competencia da Polícia Civil de Sp E VOCÊ ????????

    resposta:……………………………………

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  2. Infelizmente a gloriosa PM e seus super coxinhas já fizeram este serviço, acabando por vez com o tráfico em todo estado de São Paulo.
    Esta é a melhor polícia fardada que temos em S. Paulo, tão boa que até faz marketing em um programa para idiotas, na Band, as dezoito horas…
    Marketing dirigido para imbecis, que acreditam em tal aberração!!

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  3. Tráfico sempre vai existir em qualquer lugar do mundo, pois sempre tem alguém querendo cheirar o pó mágico.
    Se acabar com o tráfico fosse só problema de policia já teria acabado faz tempo. Mas o negócio é um pouquinho mais complicado.
    Enfim, lugar de traficante é na cadeia!!!

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  4. O desgoverno de SP só movimentou a máquina estatal na cracolândia quando a União acenou a possiblidade de efetivar uma ação da Secretaria Nacional da Saúde na região central da cidade, ou seja, o desgoverno do Estado faz política partidária e não adminstração pública voltada ao bem comum. PSDB NUNCA MAIS!!!!!!

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  5. Até que enfim, filhinhos de papai, de gente importante da política, do judiciário, artistas e modelos terão um lugar mais digno e decente para curtirem seu cachimbinho. Afinal o tráfico existe por que eles são consumidores intocáveis.

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  6. o DENARC não vai fazer nada não? nao vai nem prender um manezinho qualquer? mancada hein..

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