
O celular canadense BlackBerry. Sua fabricante está sob pressão de governos
A fabricante do BlackBerry enfrenta um levante na Ásia. Os Emirados Árabes Unidos foram os primeiros a se manifestar: o governo de lá anunciou que suspenderá os serviços de mensagens instantâneas, e-mails e internet do BlackBerry no país a partir de 11 de outubro. A Arábia Saudita ameaçou banir o uso do Messenger no aparelho. Kuwait, Líbano e Índia também mostraram insatisfação. Os governos desses países se incomodam com o sistema de segurança do BlackBerry. Os dados enviados pelo celular podem até ser grampeados, mas não são decifráveis sem a colaboração da fabricante, a canadense Research in Motion (RIM), ou do usuário.
As autoridades dizem que a dificuldade de monitorar a comunicação ameaça a segurança nacional e aumenta a exposição a ataques terroristas e outros crimes. Em 2008, os militantes paquistaneses que mataram 166 pessoas em Mumbai, na Índia, supostamente usaram BlackBerry para conversar. Suspeita-se que o aparelho também teria sido usado em janeiro por israelenses na operação de assassinato de um líder do movimento palestino Hamas em um hotel em Dubai, nos Emirados.
O sistema de segurança do BlackBerry é diferente dos outros celulares. Os dados saem do aparelho codificados por chaves de segurança efêmeras, ou seja, que expiram a cada transmissão. As informações viajam indecifráveis por operadoras e pela internet. “Outros smartphones não oferecem esse nível de segurança como parte da configuração básica”, diz Paulo Barreto, criptógrafo e professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). A segurança é um argumento de venda da marca, que se tornou popular entre empresários e políticos, como o presidente americano, Barack Obama.
Mas a segurança do BlackBerry pode estar ameaçada. Suspeita-se que o governo da Arábia Saudita tenha desistido de bloquear os serviços porque conseguiu da RIM os códigos que queria. A empresa não comenta o assunto e limitou-se a afirmar, numa série de pequenos comunicados, que respeita tanto a regulamentação dos governos quanto a privacidade do consumidor. O problema é que as duas podem ser excludentes.
Não seria a primeira vez que uma empresa de tecnologia se vê diante do dilema de colaborar ou não com um governo a fim de controlar indivíduos. O Yahoo! foi acusado de entregar às autoridades na China dados do jornalista Shi Tao, em 2005. Ele foi condenado a dez anos de prisão. O Google deixou a China em março, afirmando não poder chegar a um acordo com o regime – não sem antes ter cedido em alguns pontos.
Todo país tem leis para garantir que as informações possam ser interceptadas, se o governo quiser, como num grampo telefônico. “Sua privacidade é protegida na medida em que as leis locais permitem”, diz Alexandre Sieira, diretor de operações da Cipher, consultoria em segurança da informação. O que se discute, especialmente em regimes antidemocráticos como a Arábia Saudita e os Emirados Árabes, é qual uso será feito das informações pessoais.









