Gangue Fardada
Polícia investiga possível envolvimento de PMs com roubo de cargas em São Paulo
Publicada em 19/06/2010 às 11h31m
Leonardo Guandeline
SÃO PAULO – O Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) da Polícia Civil e a Corregedoria da Polícia Militar investigam o possível envolvimento de policiais militares com uma quadrilha especializada em roubo de cargas. Uma das vítimas do bando foi um caminhoneiro que teve o veículo e a carga de polietileno levados na noite desta quinta-feira, quando trafegava pela Marginal Tietê, na altura da Ponte dos Remédios, na Zona Oeste de São Paulo. À polícia, o caminhoneiro disse ter sido abordado por dois homens trajando uniformes da Polícia Militar que desceram de um automóvel Corsa Sedan, semelhante a uma viatura da corporação.
Parte da quadrilha foi presa depois que policiais civis da Delegacia de Repressão a Crimes Contra a Fé Pública (DRCCFé Pública) investigavam um esquema de falsificação de documentos de veículos. Os policiais faziam campana em Cajamar, na Grande São Paulo, quando desconfiaram, nesta madrugada, da movimentação de um imóvel onde funcionaria uma oficina. No local os policiais encontraram o caminhão sendo desmontado e prenderam 5 pessoas.
” É de surpreender a utilização desse equipamento, que bloqueia o sinal transmitido via satélite. A empresa acredita estar protegida dos bandidos que sempre acabam surpreendendo “
– Tudo será investigado pelas polícias Civil e Militar. Se comprovada a não participação de policiais militares no caso, investigaremos como esses criminosos adquiriram fardas e se clonaram ou não um veículo para depois transformá-lo em viatura – diz o delegado Massilon Bernardes Filho, titular da Divisão de Investigações Gerais do Deic.
A carga de polietileno, avaliada em R$ 110 mil, segundo a Polícia Civil, foi encontrada esta manhã na região de Vila Guilherme, na Zona Norte de São Paulo. O motorista do caminhão, que chegou a ser encapuzado e levado, em um Fiat Uno, para um cativeiro, foi abandonado no fim da madrugada às margens da Rodovia Ayrton Senna, na região de Cangaíba, na Zona Leste.
Além do caminhão Volvo, foi encontrado na oficina um bloqueador do equipamento de rastreamento via satélite do veículo. Enquanto o veículo estava na oficina sendo desmontado, a central de monitoramento recebia sinais de que ele ainda permanecia no local onde houve a abordagem dos criminosos, na região da Vila Jaguara, na Marginal Tietê.
De acordo com a polícia, o caminhão conseguiu ser monitorado até as 20h30m, quando os criminosos ligaram o equipamento que bloqueia o rastreamento. O dispositivo também bloqueia sinais de celulares num raio de 500 metros.
– É de surpreender a utilização desse equipamento, que bloqueia o sinal transmitido via satélite. A empresa acredita estar protegida dos bandidos que sempre acabam surpreendendo – diz o delegado.
Foram detidos na oficina o comerciante Sebastião Fernando de Oliveira, vulgo Carioca, de 40 anos, dono do estalebecimento e apontado como um dos líderes do bando; o mecânico Paulo Barbosa do Nascimento, de 35; e o vigilante Fábio Borges de Oliveira, de 28. Outros dois envolvidos; o também comerciante Ademir Estevam dos Reis, de 37 anos; e o ajudante geral Joedson Pereira Farias, de 31; chegaram ao imóvel depois e também acabaram presos. Eles revelaram aos policiais como funcionava o esquema do bando.
O caminhoneiro não reconheceu nenhum dos cinco presos como os homens que o abordaram. A Corregedoria da PM vai investigar se havia alguma viatura da corporação no local onde o caminhão foi abordado. Caso o fato se comprove, os policiais militares suspeitos devem ser submetidos a um reconhecimento por parte da vítima.
Os cinco presos responderão por receptação e formação de quadrilha. Segundo a polícia, todos eles têm passagem por receptação.
Cresce números de PMs expulsos da corporação
Este ano, o número de policiais militares expulsos ou demitidos da corporação cresceu 50% em relação ao mesmo período do ano passado. Os motivos são envolvimento com crimes e mau comportanento. Para a Corregedoria da Polícia, esse aumento reflete o crescimento das denúncias e investigações dentro da corporação. Nos primeiros cinco meses deste ano, 66 policiais foram expulsos e 41 demitidos acusados de envolvimento em crimes ou mau comportamento.
Esta semana, um sargento da Polícia Militar foi preso na segunda-feira por suspeita de participação na morte do soldado Emerson Barbosa, há 4 anos. A dupla trabalhava na Rota, a tropa de elite da Polícia Militar, e são investigados por roubo de carga.
No início do mês de junho, cinco policiais militares da Baixada Santista foram detidos na Corregedoria da Polícia Militar, na Capital, por suspeita de participação em grupo de extermínio responsável pela série de mortes na região durante o mês de abril.
Também neste mês, doze policiais militares acusados de matar o motoboy Eduardo Luis Pinheiro dos Santos, de 30 anos, no último dia 9 de abril, f oram levados para o Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo . O crime aconteceu dentro de um batalhão da PM, ao lado da delegacia da Casa Verde, na mesma região. Os 12 tiveram prisão preventiva decretada pela Justiça.
Eduardo e outros dois homens tinham se desentendido na rua e foram detidos pelos policiais. Os três foram levados ao batalhão da PM na Casa Verde. Dois dos presos foram liberados e o corpo do motoboy foi achado na rua durante a madrugada.
Em Campinas, a 94 quilômetros de São Paulo, a Delegacia de Investigações Gerais (DIG) investiga a suspeita da participação de policiais militares numa chacina que deixou quatro mortos na cidade . De acordo com o delegado Rodrigo Otávio Aydar, o motivo do crime teria sido a participação de um dos mortos numa troca de tiros durante um assalto com um policial militar à paisana e a noiva dele.


