Gaeco e PF desmantelam quadrilha de delegados
Adriane Mendes
Os promotores investigavam o caso há um ano
O delegado seccional de Itapetininga, José Antônio Vieira Ramos, foi preso ontem pela manhã por policiais federais e também civis, acusados de chefiar uma quadrilha especializada em coagir organizadores de festas e eventos a contratarem a empresa de segurança privada de suas propriedades. Dois delegados da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) daquele município e um escrivão de São Paulo, além de um advogado, um empresário, também foram presos. O secretário de Cultura de Itapetininga, também acusado de envolvimento, foi detido e liberado. A operação, denominada Usurpação e que culminou com o cumprimento de quinze mandados de prisão, foi deflagrada pela Polícia Federal com apoio do Grupo de Repressão ao Crime Organizado de Sorocaba (Gaeco). A ação empregou 100 homens da PF, e outros da Polícia Civil de São Paulo.
Em coletiva à imprensa concedida no Fórum de Sorocaba, os promotores do Gaeco, Wellington dos Santos Veloso e Roberto de Campos Andrade, revelaram que a investigação começou há um ano, provocada por denúncias chegadas à entidade e também à PF. De acordo com eles, as denúncias, checadas e confirmadas, dão conta de que os delegados da DIG de Itapetininga, Alexandre César Costa Vianna e Ivan Scott, respectivamente titular e assistente da unidade especializada, são os donos da empresa de segurança privada Itapê Security, e que tinham total apoio do delegado seccional José Antônio Vieira Ramos, para conseguirem fechar contratos para prestação de serviço em festas e eventos de Itapetininga e região. O esquema era simples: os policiais civis identificavam os organizadores dos eventos, faziam contato por telefone ou por meio de ofício da Polícia Civil, e os coagiam a contratar a empresa da qual são donos, usando o falso argumento de que se tratava da única empresa que atuava conforme a legislação. Coagidos, os organizadores das festas se viam obrigado a contratar essa empresa e a aceitar o preço oferecido. O grupo também ameaçava inviabilizar os eventos mediante fiscalização, o que na verdade seria atribuição da Polícia Federal e não da Civil.
No decorrer das investigações, soube-se que a empresa na verdade figura nos nomes do advogado Washington Martins de Oliveira, de Itapetininga, do escrivão da Polícia Civil, Márcio José Aprígio, e do empresário de Cerquilho, Renato Ribeiro dos Santos.
Na companhia dos promotores Miguel Tassinari de Oliveira e Carlos Renato Ferreira Zanini, que vão comandar o processo pelo Ministério Público de Itapetininga, os promotores do Gaeco explicaram que a quadrilha agia de forma dissimulada, tendo inclusive transformado a Seccional num verdadeiro escritório, utilizando-se também viaturas e demais recursos públicos para a empreitada particular. Os três delegados e o escrivão estão presos temporariamente por cinco dias, podendo esse prazo ser prorrogado por mais cinco dias, e então a Justiça deve decidir ou não pela prisão preventiva.
Outras cidades
Durante o cumprimento dos 15 mandados de prisão, – entre os quais o de um agente federal – em oito municípios (Capital, Osasco, Itapetininga, Tatuí, Cerquilho, Alambari, Quadra e São Miguel Arcanjo), foram apreendidos armas, documentos, recibos, contratos em valores diversos de R$ 6 mil a R$ 18 mil e até R$ 25 mil em dinheiro. As apreensões aconteceram nas prefeituras das referidas cidades, e na Seccional e DIG da Itapetininga.
Ainda durante a coletiva, os promotores públicos explicaram que o secretário municipal de Cultura de Itapetininga, Fábio Sacco, foi indiciado por fraude em licitação e liberado. Ele é investigado nos indícios de fraudes em licitações promovidas pelas prefeituras onde se realizaram as buscas. Ao que
tudo indica, mediante acerto prévio com funcionários municipais, fazia-se um procedimento de licitação com propostas encaminhadas exclusivamente pela organização criminosa. Assim, conferia-se aparência de legalidade a contrato administrativo que, na verdade, era direcionado às empresas ligadas à quadrilha, sem que houvesse qualquer concorrência. Entre as vítimas dessas extorsões estão uma unidade da Apae e um asilo de Itapetininga, que foram obrigados a contratar a empresa para festas beneficentes que promoveram.
O grupo investigado está envolvido em dez crimes: formação de quadrilha, concussão, falsidade ideológica, uso de documento falso, corrupção ativa, crimes contra a ordem tributária, peculato, prevaricação, porte ilegal de arma de fogo e fraudes em licitações.
Em gravação enviada pela assessoria de imprensa da Prefeitura de Itapetininga, o secretário Fábio Sacco disse que sua pasta está sendo investigada pela contratação da empresa de segurança para os eventos do aniversário do município, ocorrido em novembro passado. Ele salientou não haver nenhuma irregularidade na Secretaria, que sempre teve uma conduta ilibada, uma conduta comprometida com todo cumprimento da legislação, observando-se todos os trâmites legais. Ele também esclareceu que a empresa foi contratada porque apresentou o melhor preço numa cotação de orçamentos que fora feita naquela ocasião.
Imagem da Polícia Civil
Ainda durante a coletiva, o promotor Wellington dos Santos Veloso frisou que o fato de três policiais civis de Itapetininga serem presos não deve manchar a imagem da Polícia Civil: não podemos confundir pessoas com a instituição, disse.
Ele acrescentou que a Corregedoria da Polícia Civil deverá investigar as afirmações do escrivão Márcio Aprígio que, segundo ele, se gabava em dizer que aparecia em seu local de trabalho, em Taboão da Serra, apenas de vez em quando.
O delegado Weldon Carlos da Costa, do Departamento de Polícia Judiciária do Interior (Deinter-7), indicou ainda ontem à Delegacia Geral de Polícia (DGP), o nome do delegado José Augusto de Barros Pupin, titular da Delegacia de Infância e Juventude (Diju) de Sorocaba, para assumir interinamente o cargo de seccional de Itapetininga. Entretanto, a indicação deve ser publicada hoje no Diário Oficial do Estado.
Uma vez empossado no cargo, Pupin então indicará os novos delegados da DIG.
O titular do Deinter-7 também reprovou a utilização de recursos públicos para fins particulares, mas ponderou que precisará aguardar o andamento do processo.
Comentários
- Francisco Roberto Prestes [ 07/04/2010 ]Pois é, Sr. Irineu , o Sr. como ex policial sabe muito bem como é que funciona o esquema da civil. Certa vez denunciei por escrito um determinado Delegado por achargar pessoas humildes em Sarapuí e ao invés de investigar a denuncia, fui privado de minha liberdade por 42 dias e o Delegado removido e promovido. Infelizmente existem pessoas que denigrem a imagem dessa instituição. O corporativismo deve deixar de existir em pról da democracia. Pois do jeito que as coisas andam, não sabemos quem é quem atualmente. Pessoas que usam o distintivo da lei para nos proteger, agora se escondem atrás dos mesmos !Vamos aguardar o desfecho, só espero justiça e transparência na apuração dos fatos.
- IRINEU ANTONIO DE MORAIS FILHO [ 07/04/2010 ]
Fui policial civil durante 27 anos. Trabalhei com esse delegados de policia. Antes mesmo de me aposentar, tinha conhecimentos desses abusos, mas a mordaça na policia é imperiosa. Apos aposentar-me, fiz uma denúncia ao sr. Promotor Dr. Miguel Tassinari, mencionado na reportagem, sobre uso de viatura por um delegado assistente do então, seccional, Jose Antonio Vieira Ramos. Tirei fotografias da viatura, dentro da garagem da residência desse delegado. A viatura policial, descaracterizada, era para ser utilizada pela DISE ( Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes ), mas foi “desviada” para “uso particular” . Dessa denúncia, com a foto enviada ao sr. promotor, este requereu a instauração de Inquérito Policial, pelo Deinter 7, e , até esta data, não sei , como denunciante que fui, no que deu essa denúncia. Espero agora, que esse delegados, sejam rigorosamente punidos, pois, quando na ativa, usurpavam de suas funções públicas e todos, todos os funcionários, pela mordaça e pelo medo, tinham temor em denunciá-los. Que justiça seja feita. Mas ainda, paira uma pergunta no ar . E a minha denúncia, sr. promotor ?
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