O PSDB já tem seus especialistas encarregados de “sentir o pulso” das empresas. O PT faz o mesmo…

Brasil

Falta de dinheiro não é problema para eles

A campanha deste ano deverá ser a mais cara da história. E as restrições da lei eleitoral não vão impedir o caixa dois

Andrei Meireles e Leandro Loyola Com Alberto Bombig, Leonel Rocha e Juliana Arini

 

Nos próximos dias, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e centenas de políticos deixarão seus cargos públicos em todo o país para disputar as eleições. Até outubro, sob a vigilância da Justiça Eleitoral, essa turma buscará votos para se eleger. Paralelamente, longe dos olhos, aliados de Serra, de Dilma e de todos os políticos se movimentarão de forma discreta em busca de dinheiro para sustentar essa busca por votos. Eles são os responsáveis por captar os recursos necessários para pagar marqueteiros, programas de televisão, cabos eleitorais, carros de som e toda a estrutura necessária das caras campanhas eleitorais brasileiras.

Na semana passada, o custo das campanhas começou a ser questionado com a divulgação dos primeiros gastos do PT para a pré-campanha da ministra Dilma Rousseff. O partido alugou uma casa no Lago Sul, área nobre de Brasília, por R$ 12 mil mensais para Dilma morar. Pagará a ela um salário de R$ 17.800, já que Dilma não receberá mais como ministra. Ela também terá cinco assessores, que receberão R$ 11 mil mensais cada um. O PT fechará um contrato com uma empresa de táxi-aéreo para que Dilma tenha jatinhos a sua disposição 24 horas por dia. O PT também contratou a Blue State Digital, a empresa responsável pela revolucionária estratégia de campanha pela internet do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. “Só essa empresa vai custar entre US$ 20 milhões e US$ 30 milhões”, diz um profissional de campanhas que conhece os preços da Blue State. Os gastos do PT chamaram a atenção da oposição. “Com o PT no poder, as campanhas eleitorais ficaram mais caras”, afirma o deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA).

A maioria dos políticos e profissionais acredita que a campanha eleitoral deste ano tende a ser a mais cara da história. Os partidos terão cerca de R$ 160 milhões do fundo partidário, formado por recursos públicos que são divididos entre os partidos de acordo com seu tamanho. Mas é pouco para bancar tudo. De acordo com o cientista político Gaudêncio Torquato, que atua também como consultor na área de comunicação, os candidatos poderão gastar até R$ 2 bilhões neste ano. “Os candidatos vão gastar muito em televisão e na logística”, diz Torquato. As campanhas de Dilma e de Serra não deverão custar menos de R$ 150 milhões cada uma. De acordo com o presidente do PT, José Eduardo Dutra, 80% das despesas da campanha presidencial e das campanhas para governador serão consumidas em propaganda na televisão e no rádio. O segundo item mais caro será o transporte, que inclui aluguel de jatinhos e carros. “A campanha será cara por causa da concorrência por profissionais”, diz Dutra. Para bancar tudo, os partidos terão de ir ao mercado.

Captar dinheiro para bancar esses gastos representa um desafio para os candidatos ao Legislativo e ao Executivo. Os candidatos à Presidência contam com uma grande estrutura para isso. Na campanha de Dilma, o encarregado de abrir as portas no empresariado é o deputado e ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci (PT-SP). Na campanha de José Serra, esse papel ainda não está definido, mas pode vir a ser desempenhado pelo ex-ministro Andrea Matarazzo. Mas eles, é claro, não vão bater à porta de empresas. O trabalho de contatar empresários é feito por outras pessoas. O PSDB já tem seus especialistas encarregados de “sentir o pulso” das empresas. O PT faz o mesmo.

É consenso entre os políticos que as campanhas de Dilma e de Serra não deverão enfrentar problemas por falta de dinheiro. Dilma é a candidata de um governo bem avaliado. Serra é o líder nas pesquisas e tem uma boa relação com o empresariado. Outros deverão ter mais dificuldades. A senadora Marina Silva (AC), candidata pelo Partido Verde (PV), espera gastar apenas R$ 5 milhões em sua pré-campanha. Mesmo assim, Marina afirma que vai pedir uma auditoria externa das contas de sua campanha. Esse cuidado se deve ao fato de que a candidatura de Marina atraiu o apoio de um grupo de grandes empresários. O mais conhecido é o possível vice da chapa de Marina, Guilherme Leal, um dos controladores da Natura.

Nas estimativas de Gaudêncio Torquato, uma campanha para deputado federal em São Paulo poderá custar até R$ 7 milhões se o candidato não estiver disputando a reeleição. Em Minas Gerais, poderá chegar a R$ 5 milhões. Esses custos – e as dificuldades de arcar com eles – variam, porém, conforme o perfil do candidato. Candidatos ligados a igrejas e comunicadores de rádio e TV, em geral, gastam menos porque têm base eleitoral definida ou exposição pública. Os parlamentares que disputam a reeleição têm nas emendas ao Orçamento da União um instrumento valioso para tentar captar o apoio de empresas.

Já o candidato que disputa pela primeira vez uma vaga na Câmara dos Deputados é obrigado a montar um esquema de apoios, que envolve, em muitos casos, a mobilização e o financiamento de um pelotão de candidatos a deputado estadual, prefeitos e vereadores. São eles os responsáveis por contratar equipes de sete ou oito cabos eleitorais cada uma, que são encarregadas de divulgar o nome do candidato com carros de som e panfletos e de organizar reuniões. O candidato paga os funcionários, o aluguel do carro, os panfletos, o combustível e a alimentação. “Multiplique isso por 30 ou 40, dependendo de quantas cidades o candidato tem em sua base. É muito caro”, diz um veterano operador de campanhas.

Há parlamentares que dispensam esses acordos com prefeitos e vereadores porque captam o “voto de opinião” dado pelo eleitor que tem preferências políticas e ideológicas claras. Um exemplo de candidato com “voto de opinião” é o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), que está no Congresso Nacional desde 1971 e exerce seu nono mandato. “O custo aumenta se o sujeito for candidato dele próprio, sem contar com apoios e uma militância”, afirma Teixeira. Por ter essa militância, em sua campanha pelo décimo mandato na Câmara, Teixeira acredita que vai gastar apenas R$ 400 mil – uma pechincha no mundo eleitoral.

ÉPOCA apurou que as maiores empresas ainda estão definindo suas estratégias para as eleições. Por que empresas se preocupam em doar recursos para políticos? Em um país onde o Estado tem uma forte presença na economia, as contribuições políticas são fundamentais para empresas interessadas em conseguir benefícios ou defender seus interesses.   Essa relação é legítima e existe em praticamente todas as democracias. Mas também é fonte de problemas. O maior deles é o caixa dois, as doações irregulares, que não estão na contabilidade das empresas e não são declaradas pelos candidatos. Nas campanhas eleitorais brasileiras, o caixa dois existe há décadas, mas ganhou notoriedade em 2005 com o escândalo do mensalão.