Ameaça: serviço seria suspenso
Corregedores que participaram da blitz ontem ouviram de funcionários da Cordeiro Lopes que o serviço de lacração no interior do Estado teria de ser suspenso em função da apreensão de 418 mil lacres. As palavras foram encaradas como uma ameaça velada. Mas, ainda que isso venha a acontecer, os corregedores não tinham outra opção senão recolher os lacres, que pertencem à Cordeiro Lopes, mas estavam na sede da Casa Verre.
Também foram encontrados na empresa cartuchos de calibre 45 e 44. O dono da Casa Verre, Humberto Verre, só não foi preso em flagrante por porte ilegal de munição porque não estava no escritório.
Um contrato particular assinado entre a Cordeiro Lopes e a Casa Verre intrigou os corregedores. Nele, a Cordeiro reconhecia sua incapacidade para executar um contrato e o transferia gratuitamente para a Casa Verre. No cofre da Verre, havia 97 cheques em branco e outros preenchidos, a maioria com carimbos da Cordeiro.
Advogado defende as duas investigadas
Paoletti Júnior não vê ilegalidade na relação entre elas
Bruno Tavares e Marcelo Godoy
“Posso garantir que nada de ilícito foi encontrado”, afirmou ontem à tarde o advogado Cássio Paoletti Júnior sobre o resultado da blitz da Corregedoria da Polícia Civil nos escritórios da Cordeiro Lopes e da Casa Verre. “Foram recolhidos contratos firmados entre as duas empresas e mais nada. Se tivessem me ligado, eu teria levado os documentos para a Corregedoria.”
Paoletti Júnior defende tanto a Casa Verre quanto a Cordeiro Lopes. Diante da surpresa da reportagem com a revelação, o advogado assinalou: “Acho que depois de 40 anos de trabalho já posso ter dois clientes, não?” E completou: “Estou em busca do terceiro (cliente).” Paoletti Júnior assegura que todos os contratos firmados entre a Casa Verre e a Cordeiro Lopes são “absolutamente legais”.
“Onde está a ilegalidade?”, indagou. “A Casa Verre é a maior empresa do setor no País, talvez na América Latina. Todas as empresas do ramo de placas têm contrato com a Casa Verre, é normal.” O advogado também vê com naturalidade o fato de os corregedores terem encontrados documentos de Vilma Araújo, que consta como proprietária da Cordeiro Lopes, nos escritórios da Casa Verre. “São todos documentos referentes a contratos firmados entre as duas empresas”, asseverou Paoletti Júnior. Ele afirma que a Casa Verre e a Cordeiro Lopes são empresas distintas – “basta ir à Junta Comercial e verificar”. E questionou: “Ainda que fossem os mesmos donos, qual o problema?”
O advogado considerou “normal” a ação deflagrada ontem pela corregedoria. “É uma conduta policial típica. Se tivessem me ligado, eu teria levado os documentos até eles. Mas, talvez imaginando que haveria maquiagem, sei lá, preferiram pedir ao juiz”, assinalou. “Mas não tem nenhum problema. Eles (corregedores) foram até as empresas e recolheram os papéis que consideravam importantes.”
No mês passado, quando o Estado publicou as primeiras reportagens sobre o suposto esquema montado dentro do Detran, Paoletti Júnior falou apenas como advogado da Cordeiro Lopes e de Vilma Araújo. Na ocasião, disse que a empresa e diretores se manifestariam no momento oportuno.B.T. e M.G.
