09/01/2010
Para delegada de Bauru, policial civil precisa ser valorizado
Tisa Moraes
Primeira mulher eleita para a presidência da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo (Adpesp), a delegada Marilda Aparecida Pansonato Pinheiro, de Bauru, assume o cargo na próxima segunda-feira com uma série de desafios. Como representante de aproximadamente 4 mil delegados em todo o território paulista, ela pretende abraçar a cobrança da categoria por reposição salarial e condições de trabalho para aumentar os níveis de satisfação da Polícia Civil e melhorar a qualidade dos serviços prestados à população.
Em sua gestão durante o biênio 2010/2011, a nova presidente também pretende estabelecer um canal de comunicação mais próximo com a imprensa, a população, governo estadual, demais polícias e Poder Judiciário. Para assumir o posto, a atual delegada assistente do 4º Distrito Policial de Bauru se afastará do cargo pelos próximos dois anos, prorrogáveis pelo mesmo período, caso ela seja reeleita em 2012.
Além dela, o bauruense Abel Fernando Paes Barros Cortez foi eleito como tesoureiro geral e também deverá se afastar do cargo de delegado assistente da Seccional de Bauru. Na primeira chapa com representantes do Interior a assumir a diretoria da Adpesp também estão um profissional de Marília e outro de Franca.
Confira abaixo os principais trechos da entrevista que Marilda concedeu ao JC.
JC – Como a senhora avalia, hoje, o nível de satisfação dos delegados do Estado?
Marilda – Fica mais fácil falar da insatisfação. São Paulo é o Estado mais rico da Federação, com uma arrecadação de tributos bastante significativa. Mas o salário dos policiais civis continua sendo um dos menores do Brasil e nossas condições de trabalho deixam muito a desejar, já que há um déficit de funcionários muito grande. Essa insatisfação não é só dos delegados, mas da Polícia Civil como um todo.
JC – E existe alguma meta da nova gestão da Adpesp para mudar esse cenário?
Marilda – Nós queremos oportunidade de diálogo e também obter respostas para as nossas reivindicações. O que temos observado é que muitos acordos acabam não saindo do planejamento. As promessas de melhoria no plano de carreira dos profissionais, por exemplo, só ficaram na expectativa. Vamos negociar e cobrar do governo para que as coisas realmente aconteçam.
JC – De que forma essa desvalorização reflete no atendimento à sociedade?
Marilda – Esse processo ocorre há um certo tempo. Nossos salários estão defasados e as condições de trabalho, cada vez piores. Essa falta de reconhecimento acaba refletindo no trabalho que a gente presta. Por mais boa vontade que o profissional tenha, ele não consegue fazer milagre. No Plantão Policial, por exemplo, a insuficiência de escrivãos faz com que a população espere por muito mais tempo do que deveria para ser atendida. Nas unidades especializadas, a falta de investigadores provoca uma dificuldade imensa no trabalho de investigação. O policial civil coloca sua vida em risco durante 24 horas diárias e, infelizmente, é muito mal remunerado.
JC – No seu ponto de vista, é isso que faz com que a população ainda tenha uma imagem negativa da categoria?
Marilda – A Polícia Civil trabalha tanto que não teve a preocupação de mostrar o que estava fazendo. O delegado está sempre assoberbado, acumulando funções, com uma responsabilidade enorme. Em algumas cidades pequenas, dá para dizer que o profissional trabalha em regime de escravidão e, mesmo assim, continua ganhando mal. Então, talvez o fato de não termos esclarecido a sociedade tenha levado a essa imagem que não corresponde à realidade.
JC – Como a delegada que é estudante de relações públicas, pretende aprimorar a comunicação da polícia com as demais esferas sociais?
Marilda – Com certeza. Muitos usuários nem sabem fazer a distinção entre Polícia Civil e Polícia Militar. Queremos estabelecer um canal de comunicação mais organizado com a imprensa, público interno e externo, entidades, órgãos públicos e privados.
JC – Acredita que, diante das dificuldades, o delegado por vocação é um profissional em extinção?
Marilda – Muito pelo contrário. Os concursos para delegado de polícia estão cada vez mais difíceis e, quem passa, poderia passar em seleções para ingressar em qualquer outra carreira. O que tem ocorrido, infelizmente, é que muitos delegados estão indo trabalhar em outros Estados em razão da baixa remuneração de São Paulo. E temos perdido profissionais do mais alto gabarito por causa disso.
JC – Falando em perder profissionais, existe a possibilidade de um dia a senhora voltar a trabalhar dentro de delegacias?
Marilda – Eu sempre trabalhei para a polícia e, a partir de segunda-feira, vou trabalhar pela polícia. O enfoque muda e acho que é algo definitivo, acredito que seja um caminho sem volta. Mas sempre estarei em Bauru, porque minhas raízes permanecem aqui.
ATÉ QUE ENFIM SURGIU UMA PESSOA LUCIDA. VEJAM QUE AO SER QUESTIONADA SOBRE A CONDIÇÃO SALARIAL DO DELEGADO DE POLÍCIA, ELA DEIXOU BEM CLARO QUE TODA A POLÍCIA CIVIL, SEJA QUAL FOR A CARREIRA, ESTA AGONIZANDO POR MELHORES SALÁRIOS. PARABÉNS. ÓTIMA ESCOLHA PARA A PRESIDÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO.
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Esqueceu de dizer que nosso salário é o pior do Brasil. A solução é buscar, via PEC, a equiparação com os analistas judiciários.. Eles vão ganhar R$ 10.400 iniciais, e nós um kibe de 1/2 metro pra sentar.
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