A RECEITA DE BRATTON CONTRA O CRIME 4

Domingo, 03 de Janeiro de 2010 | Versão Impressa

A receita de Bratton contra o crime

Adriana Carranca

William Bratton: ex-chefe de polícia de Nova York e Los Angeles

Quem é:
William Bratton

Apontado pelo então prefeito Rudolph Giuliani
como chefe das polícias de Nova York, foi o
estrategista do Tolerância Zero, que reduziu o nível
de violência ao menor entre as grandes cidades
Americanas

Durante seu comando da polícia de Los Angeles, os
homicídios caíram pela metade; em NY, chegou a 80%

William Bratton é um Midas da segurança pública. Homem forte do então prefeito Rudolph Giuliani, de Nova York, entre 1994 e 2001, e estrategista do Tolerância Zero, fez com que os homicídios caíssem em 80%, atingindo o menor nível desde 1964. Ao deixar o comando do Departamento de Polícia de Los Angeles, no fim de 2009, a cidade celebrava queda dos crimes por sete anos seguidos – desde a sua chegada, portanto, em 2002.

Aos 62 anos, o ex-policial de trânsito que transformou as duas mais violentas metrópoles americanas nas mais seguras revela a sua receita contra o crime. Ele falou ao Estado, por telefone, de seu escritório em Nova York, onde acaba de assumir o cargo de CEO da Altegrity, de consultoria em segurança pública.

MAPEAR O CRIME

O uso estratégico de informações criminais é o alicerce da política de Bratton. Quando iniciou a carreira, em Boston, o colega do Departamento de Trânsito Jack Maple reduzira em 27% os crimes no metrô ao pontuar com alfinetes coloridos em um mapa de papel a geografia das ocorrências. Isso permitiu rastrear a ação dos criminosos e se antecipar a eles. Simples assim.

Bratton levou a ideia para o Departamento de Polícia de Nova York, onde implantou um sistema mais sofisticado, o CompStat (Estatísticas Comparativas, na abreviação em inglês). Em um único banco de dados estão todas as informações sobre ocorrências, da localização, data e hora à roupa usada pelo criminoso, número de disparos, armas usadas, mesmo por policiais, abordagem, perfil do bandido e da vítima, forma de atendimento, apreensões e prisões feitas, entre outros dados colhidos no local do crime e nos depoimentos, e atualizados com informações de casos relacionados, posteriormente.

CORTAR O MAL PELA RAIZ

O CompStat permitiu identificar criminosos, rastrear suas ações, estabelecer perfis de vítimas potenciais, riscos, tendências. “Isso nos permitia identificar novos padrões de crime e atacá-los logo no início, deslocando homens e recursos de forma mais eficiente. Íamos cercando os criminosos”, diz Bratton. Os dados eram disponibilizados à promotoria pública, às secretarias, como Educação, e outros órgãos, que passaram a atuar de forma integrada à polícia.

Outra medida foi atacar o que Bratton chama de crimes contra a qualidade de vida, como pichações e arruaça, estratégia pela qual o Tolerância Zero ficou conhecido. “Isso cria uma sensação de ordem e de comando, o que contribui em muito para o trabalho da polícia”, justifica Bratton.

COBRAR RESULTADOS

Em Nova York, o sistema era abastecido pelos 76 comandos das 9 áreas de policiamento e dos 12 distritos da região metropolitana. Além dos dados, eles tinham de apresentar um relatório sobre casos relevantes e uma análise dos crimes em sua área, as atividades e a performance de sua equipe. Tudo era discutido em encontros semanais com Bratton.

“É como um médico, que pede exames de rotina para identificar doenças no início. Se ao analisar as informações, descobrir um melanoma, irá concentrar ali o tratamento, evitando que se transforme em um câncer mais sério e mortal. Nossos diagnósticos semanais tinham a mesma função”, diz.

Uma vez por mês, o chefe de polícia se reunia com todos os comandantes locais. “O que fazíamos, basicamente, era questionar cada um na frente dos outros, com base em informações muito bem embasadas do CompStat”. E, sem rodeios, “o crime aumentou na sua área?, por que e o que você fez a respeito?”, questionava. As reuniões também criaram um canal de acesso direto dos oficiais com a cúpula da segurança pública e permitiram que a informação fluísse melhor entre as delegacias.

POLÍCIA DA POLÍCIA

Além de cobrar dos policiais, Bratton contratou informantes e destacou seus melhores agentes para compor um grupo de fiscalização interna, que agia à paisana. “Por exemplo, um dos meus agentes registrava denúncia contra um oficial em uma delegacia, como se fosse um cidadão comum. Então, nós verificávamos se e como a investigação era levada adiante internamente”, revela. “A mesma estratégia para apontar criminosos era usada para flagrar policiais corruptos. Não há distinção entre eles.”

Bratton alerta que a corrupção intensifica o medo, intimida a população e mina a credibilidade da corporação, o que, por sua vez, reduz o apoio à polícia. “É um perigo para a sociedade que os policiais sejam vistos como incapazes e em quem não se deve confiar”, diz. O corrupto dificulta o trabalho dos oficiais honestos, que acabam se corrompendo ou deixam o serviço. Em Nova York, Bratton teve o apoio do legislativo para aumentar a punição contra corruptos. Policiais flagrados eram presos e desligados.

UNIR FORÇAS

Bratton defende unificar as polícias. “No Brasil, policiais militares e civis competem entre si, não confiam um no outro, não trabalham em parceria”, diz. “É disfuncional: os que investigam nunca combateram o crime na rua. Há um abismo social e de educação entre eles.”

Outro problema apontado por Bratton é o tamanho da força policial e baixos salários. Em Nova York, ele aumentou em 25% o número de policiais, para 35 mil ou um para cada 230 moradores. “E contamos sempre com o FBI, em pessoal e tecnologia para investigação. No Brasil, as polícias estaduais e a federal não atuam juntas”, diz.

FOCO EM ÁREAS OCUPADAS

Mesmo com policiais suficientes, Bratton admite que em metrópoles como São Paulo e Rio não é possível fazer tudo ao mesmo tempo. Nas áreas ocupadas por facções, ele começar com um projeto piloto. “Pegue uma pequena área dentro da mais violenta favela e desloque para lá seus melhores policiais, em número suficiente para garantirem a própria segurança. Aos poucos, se aproximam dos moradores e promovem mudanças na qualidade de vida. Assim, uma vizinhança por vez, vão expandido o seu espaço e ganhando a comunidade porque eles vêm melhorias onde a polícia está.”

Em Caracas, na Venezuela, onde foi consultor, Bratton selecionou uma área onde havia 40 assassinatos num fim de semana e mandou 50 policiais extra para fazer o patrulhamento em scooters. “Só isso, fez o crime cair 25%”, diz. “Em 40 anos de carreira, recebi muitos gestos de gratidão, mas em Caracas ganhei um beijo na testa de uma senhora que criara filhos e netos na favela. Ela repetia: gracias!”

Até seu crítico mais voraz, o economista Steven Levitt, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e autor de Freakonomics, admitiu ao The New York Times, em dezembro: se tivesse de apontar um chefe de polícia para a sua cidade, ele seria Bratton.

Nova York fechou 2009 com 5 homicídios por 100 mil habitantes. Los Angeles, com 3,8. Em SP, são 11,2 homicídios por 100 mil habitantes, ainda acima do nível considerado epidêmico pela Organização Mundial da Saúde, de 10 assassinatos por 100 mil habitantes, apesar da queda nos últimos anos

O governador do Rio, Sérgio Cabral, reuniu-se com Bratton para negociar sua contratação como consultor em segurança para a Olimpíada de 2016. A capital carioca tem 34,2 homicídios por 100 mil habitantes. Apenas Copacabana e Laranjeiras, na zona sul, não têm níveis de violência epidêmicos

Em SP, a Polícia Civil utiliza o sistema Ômega, que permite pesquisar informações criminais em 12 bancos de dados. Mas a ferramenta não está integrada ao sistema de outras polícias do País. Nem a Polícia Federal ou a Agência Brasileira de
Informações (Abin) têm acesso aos
Dados

A unificação das polícias civis e militar é inconstitucional no Brasil. Em 2001, o então governador de São Paulo, Mário Covas, apresentou ao Congresso uma proposta de emenda à Constituição, mas a ideia foi engavetada graças ao lobby das polícias

Em SP, há 90 mil policiais civis e militares – um para cada 455 habitantes no Estado. A Secretaria de Segurança Pública não informa quantos estão na ativa. No Rio, os PMs não chegam a 40 mil. Os números incluem pessoal em funções administrativas

Em outubro, um helicóptero da PM foi abatido por traficantes no Morro dos Macacos, no Rio. “Crianças brincavam, jovens tocavam hip-hop e o chefe da polícia estava ali, comendo costelas assadas com eles”, disse ao The New York Times o tenente Fred Booker sobre a relação de Bratton nos guetos de Los Angeles.

Tribunal manda soltar policial 10

03.jan.2010 Redação
Tribunal manda soltar policial

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Foto : Arquivo

TROCO Membros da facção Criminosa PCC promoveram atentados na Delegacia de Suzano, em 2006

LAÉRCIO RIBEIRO

O investigador Augusto Pena passou as festas de final de ano em sua casa após ser liberado dia 22 da Penitenciária de Tremembé, no Vale do Paraíba. O Tribunal de Justiça de São Paulo acolheu o hábeas corpus com pedido de liminar impetrado pela defesa sob o argumento de que Pena encontra-se colaborando com as investigações do Ministério Público (Gaeco), em Guarulhos, que investiga extorsão cometida por policiais civis de Suzano, em 2006, contra a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). O desembargador Pedro Gladiardi até destacou que o réu poderá possivelmente receber delação premiada.

O policial Pena no começo de 2009 foi transferido para Tremembé, em razão de estar sendo ameaçado de morte, segundo ele, por um delegado de classe especial, o seu ex-chefe na Região de Mogi, o qual depois o encontrou no Presídio da Polícia Civil.

Disse que em janeiro de 2009 recebeu a visita deste delegado, que está afastado e realizando serviços burocráticos. A autoridade então o aconselhou a não fazer a delação premiada, pois dizia ser influente e sabia das entradas e saídas de Pena da cadeia, em São Paulo.

O suposto delegado, de acordo com o investigador, ainda sugeriu quanto Pena queria ganhar para ficar calado.

Um escrivão também, dias depois, voltou ao PPC, onde esteve preso, para ofertar doces a Pena, talvez, envenenados, como acreditou o policial, que foi transferido a seu pedido para a penitenciária.

É atribuído a Pena participação no achaque ao PCC, conforme ele admitiu na ocasião na Corregedoria, acusando ele, três delegados e outros policiais. O crime teria sido cometido por uma equipe, que trabalhava então na gestão administrativa do delegado seccional Carlos José Ramos da Silva. O gerente do tráfico de drogas na Região de Mogi foi preso, exigiram dinheiro para libertá-lo, a facção pagou o valor estimado de R$ 250 mil, mas o bandido foi mantido na cadeia.

O fato gerou revolta no PCC, que promoveu atentados, disparando vários tiros na fachada da Delegacia de Suzano. Num dos atos, na noite de 7 de abril de 2006, foram mortos quatro membros da facção. No dia seguinte, o PCC matou dois carcereiros e um amigo deles no Miguel Badra.

O investigador Pena ainda foi o responsável por denúncias de esquemas da máfia dos caça-níqueis, em São Paulo, o suposto mensalão da polícia, que de acordo com ele, cobrava para que inquéritos e procedimentos administrativos de policiais não fossem adiante, além da venda de cargos importantes na Policia Civil.

CORRUPÇÃO NO JUDICIÁ RIO 5

Subject: CORRUPÇÃO NO JUDICIÁRIO
Date: Sun, 3 Jan 2010 20:06:09 +0000

Boa noite, delegado Roberto,

Para seu conhecimento e deliberação,

Saudações

O Judiciário e a corrupção, por Joaquim Barbosa


O ministro Joaquim Barbosa, do STF, se revela descrente da política e deixa clara sua dificuldade para escolher bons candidatos quando votar nas eleições de 2010.
Além disso, é um crítico feroz da Justiça: “O Judiciário tem parcela grande de responsabilidade pelo aumento da corrupção em nosso país”, disse, em entrevista a Carolina Brígido, publicada na edição deste domingo do GLOBO.
– O Judiciário teria de ser reinventado – afirmou.
Joaquim Barbosa, há dois anos, ganhou notoriedade por relatar o processo do mensalão do PT e do governo Lula.
Em 2009, convenceu os colegas a abrir processo contra o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) para apurar se ele teve participação no mensalão do PSDB mineiro.
Nesta entrevista, o ministro não quis comentar o mensalão do DEM, que estourou recentemente no governo de José Roberto Arruda, do Distrito Federal.
O senhor é descrente da política?
Tal como é praticada no Brasil, sim. Porque a impunidade é hoje problema crucial do país. A impunidade no Brasil é planejada, é deliberada. As instituições concebidas para combatê-la são organizadas de forma que elas sejam impotentes, incapazes na prática de ter uma ação eficaz.
A quais instituições o senhor se se refere?
Falo especialmente dos órgãos cuja ação seria mais competente em termos de combate à corrupção, especialmente do Judiciário. A Polícia e o Ministério Público, não obstante as suas manifestas deficiências e os seus erros e defeitos pontuais, cumprem razoavelmente o seu papel. Porém, o Poder Judiciário tem uma parcela grande de responsabilidade pelo aumento das práticas de corrupção em nosso país. A generalizada sensação de impunidade verificada hoje no Brasil decorre em grande parte de fatores estruturais, mas é também reforçada pela atuação do Poder Judiciário, das suas práticas arcaicas, das suas interpretações lenientes e muitas vezes cúmplices para com os atos de corrupção e, sobretudo, com a sua falta de transparência no processo de tomada de decisões. Para ser minimamente eficaz, o Poder Judiciário brasileiro precisaria ser reinventado.
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