TU LEU PLÍNIO MARCOS…TU LEMBRA DA ROYAL…VICENTINO FALA TU VAI, TU VIU, TU GOSTA; SANTISTAS TAMBÉM…MAS NEGAM 5

Professor lança livro sobre uso do pronome tu pelos santistas

Da Redação

 

FABIANA HONORATO

“Oi, tu estava naquela festa, né?”. “Nossa, tu não morre mais!”. “Olha, se tu soubesse o que me aconteceu…”. Essas e outras frases, com a forma de tratamento tu, são tão corriqueiras para quem vive na Baixada Santista ou frequenta a região que, muitas vezes, passam despercebidas. Incorporada ao nosso vocabulário, o uso do pronome tu com o verbo conjugado na terceira pessoa do singular, como ocorre também no Rio Grande do Sul, chama a atenção de moradores de outras regiões do País.

O tema é alvo do livro Formas de Tratamento no Português Brasileiro: um estudo de caso, do professor Artarxerxes Tiago Tácito Modesto, de 29 anos. O lançamento, com sessão de autógrafos, será hoje, a partir das 19 horas, na Livraria Nobel do Litoral Plaza Shopping, em Praia Grande.

Editado pela DNAZ, a obra é fruto da dissertação do Mestrado defendido na Universidade de São Paulo (USP), na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, em 2006, que investigou as Formas de Tratamento no Português Brasileiro: A Alternância tu/você na Cidade de Santos-SP.

Coordenador da Escola Municipal Ruy Barbosa, em Cubatão, do curso de Letras da Faculdade Don Domênico, em Guarujá, e professor da Faculdade do Litoral Sul, em Praia Grande, Modesto colheu os dados para o trabalho entre abril de 2003 e agosto de 2005. Ele visitou escolas, faculdades, câmaras, escritórios, repartições, clínicas, estiva e em conversas com as pessoas na rua. “Mas o trabalho mais intenso foram as gravações secretas, nas quais eu procurava os falantes santistas, nascidos na Cidade. Também fiz gravações não secretas. Tudo com autorização”, explicou ele.

Da pesquisa surgiram dados comprovando que o uso da forma de tratamento você foi computada 476 vezes, contra os 232 registros da expressão tu. “As formas de tratamento tu, você, senhor e senhora concorrem alternadamente na fala do santista, mas em situações diferentes”, ressaltou.

Segundo ele, a contextualização para o emprego do tu ou do você vai além de uma questão de informalidade, por exemplo como se observa na região Sul do Brasil. “Lá (no Sul), quanto mais informal, mais se usa o tu”.

Entre os fatores considerados para o santista disparar o tu, criando a marca de linguagem mais forte da Cidade, estão o grau de conhecimento e a situação da conversa. “Se é uma situação formal, o santista não usa o tu e se não conhece a pessoa, também não fala: tu faz o quê?. Nessas situações, sempre usa você ou cê, que é uma variante”, detalhou.

Modesto explica que numa conversa entre amigos, por exemplo, o você dá lugar ao tu, o que não acontece durante uma entrevista de trabalho ou um discurso. “É uma questão de monitoramento”, avaliou. “Nas gravações não secretas, os falantes evitam o uso de tu. Mas seu uso passa por um certo grau de inconsciência entre os falantes no seu cotidiano”.

Questionados sobre o uso do tu, muitos entrevistados para o Mestrado do professor alegaram que a expressão não fazia parte de seus repertórios, enquanto outros que admitiam seu uso ficavam bastante constrangidos. Quando não sabiam das gravações, os informantes se mostravam surpresos ao serem informados sobre seu uso, ainda que inconsciente. Houve alguns que disseram jamais usar a forma tu para tratar a mãe ou o pai, porque seria falta de respeito.

“Isto se deve ao estigma em torno do uso do tu aqui na região, as pessoas se sentem incomodadas por usarem a forma de tratamento com a conjugação no verbo da terceira pessoa. É um autopreconceito. Diferente do que acontece na região Sul”.

INCOERÊNCIA

Para o professor, o trabalho de pesquisa revelou uma incoerência entre “o que eu digo que é certo e o que eu falo”, por conta do estigma de erro atribuído à conjugação que foge ao padrão. “É uma incoerência ideológica, porque em nenhum momento o tratamento tu foi utilizado com a conjugação padrão. O que prova que há um processo de mudança do sistema pronominal, queiram os gramáticos ou não”, afirmou.

Neste aspecto, Modesto defendeu o valor da linguagem do povo, reforçando que há pesquisa indicando que a tendência para a conjugação padrão é deixar de ser usada, especificamente para o caso do tu. “Em conversas informais, até os sulistas vão usar o tu vai, mas na sala de aula se aplica a conjugação padrão”.

Contra os chamados preconceitos linguísticos, ele critica a opressão da gramática prescritiva e acredita que a gramática reflexiva deveria nortear, inclusiva, os rumos da escola, banindo o certo e o errado na linguagem e priorizando o olhar do inadequado e o adequado na fala.

“Deviam ensinar gramática na escola da mesma forma que Geografia, História, não da forma prescritiva, mas de uma forma mais cultural. Todos têm que ter acesso à norma para ler Machado de Assis, por exemplo, mas para conversar, não”.

O próximo passo de Modesto é pesquisar a linguagem falada no MSN, programa de conversa via internet, que é o tema do doutorado também na USP.

Diante de tantas abreviações, novas palavras e termos, ele acredita que explorar os caminhos da linguagem no meio digital é uma forma de trabalhar com os alunos muito mais que a conversação. “Eles podem usar o vc (abreviação de você) no MSN, mas numa redação, por exemplo, não”.

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Santistas são os vicentinos argentinos. Nasceram na ilha e vivem na pindaíba, mas sem perder a pose. 

Para os santistas –  grande parcela ex-vicentinos que ascenderam da sarjeta ao meio-fio –  ser da cidade vizinha é ser da tribo…

Tribo de índios.

Um Comentário

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  2. Eita sotaque ridículo desses santistas. Parece uma mistura de “carioquês” com chibungo paraibano.

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