POPULAÇÃO RECLAMA DO SAC DO DOUTOR PACÍFICO E PEDE PARA ELE AJUDAR NO PLANTÃO ELABORANDO BO…TC e FLAGRANTE 31

Quarta-Feira, 22 de Julho de 2009 

Delegado institui ”SAC” no 4º DP

População pode reclamar de serviço

Camilla Haddad, SÃO PAULO

Se o policial de plantão for mal-humorado ou se a demora para registrar o boletim de ocorrência causar nervosismo, a vítima vai poder se queixar com o delegado titular do 4º Distrito Policial, na Consolação, João Gilberto Pacífico. O delegado instalou um banner na sala de espera com o número do seu telefone. A ideia é que a população reclame e sugira melhorias para o atendimento.

“Queremos estreitar os laços e criar um relacionamento de amizade, além de um bom serviço”, afirma Pacífico. Atualmente, a espera para registrar boletim de ocorrência leva de duas a três horas, principalmente porque só há nas delegacias um escrivão de plantão. “Um BO leva 40 minutos”, diz. “Se chegarem dez pessoas, a espera é de três horas e isso gera queixa da população.”

Por dia, são elaborados cerca de 50 boletins de ocorrência. O problema, segundo o delegado, é que parte das vítimas acaba indo ao DP para registrar furtos, perdas de documentos e desaparecimento de pessoas, problemas que podem ser notificados pela delegacia eletrônica, na internet.

Pacífico, que assumiu o distrito policial recentemente, diz ter recebido diversas reclamações sobre a demora no atendimento e serviço inadequado. Essa iniciativa, que começa hoje, segundo o delegado, faz parte de uma série de inovações no 4º DP. Ele pretende pregar nas paredes um aviso sobre como registrar queixas pela internet (www.policiacivil.sp.gov.br e www.ssp.sp.gov.br).

UM “CASO” PARA MAD E BÉQUINHA…NEM PCC, NEM MÁFIAS: O MANDANTE FOI O “CELSO DANIEL” 9

Investigador de Santo André-SP é morto com 12 tiros

vai encarar

vai encarar

 

AE – Agencia Estado

SÃO PAULO – O policial civil Ramiro Diniz Júnior, de 44 anos, foi executado na frente da mulher e dos dois filhos no Dia dos Pais, em Santo André, no ABC, região metropolitana de São Paulo. O crime aconteceu domingo à tarde, quando o policial chegava em seu açougue. Ele foi morto com 12 tiros de fuzil. O caso pode estar relacionado com a máfia dos caça-níqueis e bingos, além de outros dois assassinatos ocorridos neste ano na mesma cidade.

Diniz Júnior, que há dois anos era chefe do Setor de Investigações Gerais (SIG), havia estacionado seu carro na frente do açougue quando foi surpreendido por um homem vestido de roupa e touca ninja pretas, armado com um fuzil calibre 5,56 milímetros. Três comparsas estavam com o assassino. No veículo do investigador estavam a mulher e os filhos do casal. O assassino se aproximou e sem dizer nada atirou várias vezes. O policial morreu na hora. A mulher e as crianças não se machucaram. Um cliente do açougue ficou ferido em um dos pés com o estilhaço das balas. Os bandidos fugiram. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

43% da população concorda com a frase “bandido bom é bandido morto” 5

PM mata 56,5% mais no Estado de SP, diz secretaria

No 2º trimestre deste ano, foram 155 mortes; no mesmo período de 2008, corporação fez 99 vítimas

Fernanda Aranda, O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO – O número de mortes cometidas por policiais militares no Estado de São Paulo cresceu 56,5% no segundo trimestre deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado. Proporcionalmente, o aumento da resistência seguida de morte – classificação oficial das ocorrências – foi o maior entre todas as modalidades criminais mapeadas pela Secretaria da Segurança Pública (SSP), uma vez que homicídios, roubos e latrocínios tiveram altas de 11%, 18,8% e 36,5%, respectivamente.  

Em abril, maio e junho do ano passado, 99 pessoas foram mortas por policiais, quantidade que subiu para 155 no mesmo intervalo dos mesmos meses deste ano. O avanço, lembra o Comando da PM, está em um contexto de aumento geral da criminalidade paulista ,mas essa não seria a principal razão para a escalada dos índices, segundo o presidente da Comissão de Justiça e Segurança Pública do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim), Renato De Vitto. 

“Só as estatísticas são frágeis para atestarmos se cada óbito foi, de fato, legítima defesa do policial”, opina. “Eu avalio que esse aumento de mortes tem mais relação com a estratégia policial de combater crimes, da cultura de agir mais letal.”

Além da questão cultural, o ouvidor das Polícias Civil e Militar do Estado, Luiz Gonzaga Dantas, que recebe e apura denúncias sobre supostos abusos da violência, disse acreditar que o aumento de mortes cometidas por policiais é resultado da forma como os casos são tratados pela própria corporação. “Chegam a nossas mãos muitos boletins de ocorrência que são registrados como crime contra o patrimônio, crimes contra administração pública e o evento morte de um suspeito não é notificado”, afirma. “Isso faz com que as mortes cometidas por policiais não sejam investigadas como deveriam, o que resulta em impunidade de um policial que pode ter cometido abuso.” 

Um dos casos que está sendo investigado pela ouvidoria é referente a dois adolescentes de Santo André, no ABC paulista, que foram mortos em junho deste ano. O caso foi registrado como crimes contra o patrimônio e resistência, uma vez que a polícia afirma que eles estavam em atitude suspeita para roubo de veículos. Os dois jovens – depois de mortos foi apurado que tinham 15 e de 16 anos – supostamente entraram em confronto com policiais que não estavam em viaturas caracterizadas. Um deles teria disparado contra os PMs, mas os dois tiros falharam. Ele, então, foi atingido e morreu no local. O outro rapaz, diz o BO, tentou fugir a pé, disparou contra os policiais, e morreu também. 

O número de PMs mortos em serviço também subiu na comparação entre o 2º trimestre deste ano com o de 2008, de 4 casos para 9 (25% de acréscimo). O saldo dos confrontos, no entanto, termina com, em média, um policial morto para cada 17,2 civis assassinados por um tiro disparado por um policial paulista. 

Atualmente, 9% do total de homicídios (contando os assassinatos com intenção de matar e os mortos por policiais) estão concentrados nas mãos de PMs. A situação paulista, que já foi muito pior no início dos anos 1990 – quando 1.200 pessoas eram mortas por ano pela polícia – é melhor do que a do Rio: os policiais fluminenses são responsáveis por 18% das mortes. 

“Além das atitudes dos policiais, é preciso responsabilizar por essa situação o discurso das autoridades, de alguns secretários de segurança, que incitam a violência e valorizam a atitude do policial truculento”, diz Jorge Dias, coordenador de Estudos e Pesquisas em Ordem Pública, Polícia e Direitos Humanos da Universidade Estadual do Rio. “A sociedade também legitima essa violência, apoia esses atos.” Pesquisa feita em dezembro de 2008 pela Secretaria de Direitos Humanos, do governo federal, mostrou que 43% da população concorda com a frase “bandido bom é bandido morto”.

O que a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem a ver com ciência? 8

+Marcelo Leite

A ciência do PCC


Nós, jornalistas, precisamos conversar menos com policiais e políticos


O que a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) tem a ver com ciência? Nada, à primeira vista. A ciência é que tem algo a dizer sobre o PCC.
Questiona-se com frequência por que o jornalismo científico não trata das ciências humanas, privilegiando as naturais. Embora a delimitação reforce uma noção estreita e determinista de ciência, ela faz sentido do ponto de vista prático. Humanidades e ciências naturais são de fato universos separados, tanto na academia quanto no imaginário social.
Algo os mantém em contato, entretanto: o valor da informação empírica como critério do conhecimento seguro. Na esfera dos fatos e processos sociais, onde não há muito lugar para experimentos, ela pode ser obtida por meio de observação, pesquisas de opinião, cruzamentos estatísticos ou entrevistas, por exemplo.
Foi o que fez a socióloga Camila Nunes Dias com o PCC. Após entrevistar dezenas de “irmãos” (integrantes), a doutoranda da USP reconstituiu o esquema de funcionamento da organização. O trabalho, apresentado ao 14º Congresso Brasileiro de Sociologia no final de julho, ajuda a entender o enigma da redução da violência no Estado de São Paulo nesta década.
Apesar de ter voltado a crescer no primeiro semestre de 2009, o número de homicídios vinha caindo desde 1999. Em 2000 eram 15 por dia na capital paulista; hoje são 3,5. Há muita discussão, e pouca conclusão, sobre as causas do fenômeno.
O governo do Estado de São Paulo atribui a queda à sua intervenção, claro. A polícia está mais aparelhada. Mais mandados de prisão são executados. Novas prisões foram construídas, passando de 62 para 147. Agora que a criminalidade voltou a subir, porém, o governo culpa a crise econômica…
Outra explicação plausível para a diminuição vem da demografia. Há na população paulista, proporcionalmente, cada vez menos jovens do sexo masculino. Desse contingente sai a maioria dos militantes do crime.
Segundo análise de João M.P. de Mello e Alexandre Schneider na revista acadêmica “Coleção Segurança com Cidadania”, a demografia explica 70% da variação. “Um aumento de 1% na proporção de jovens entre 15 e 24 anos causa um aumento de 3,27% nos homicídios”, calcularam.
Mais provável é que a redução resulte de uma mistura dos dois fatores, ação do Estado e demografia. Há uma terceira possibilidade, porém, mais perturbadora: o PCC pode ser responsável por parte dessa redução.
Camila Nunes Dias constatou que o “Partido” se encontra hoje estruturado de maneira empresarial e com domínio completo sobre os presídios paulistas. Cada um deles é gerenciado pelo “piloto”, que se reporta à cúpula de 18 líderes. Fora das prisões, seus representantes são os “torres”, com jurisdição sobre cada área de código DDD do Estado de São Paulo.
Não foi só o número de homicídios que recuou, mas também o de rebeliões e assassinatos dentro das penitenciárias. A violência aberta tornou-se contraproducente para os negócios do PCC e hoje vigora mais como “ultima ratio”, medida excepcional. Para matar, todo irmão precisa de autorização da direção do Partido.
Para o bem e para o mal, o PCC racionalizou-se, mostram as ciências humanas. Se quisermos entender melhor o que está acontecendo, nós jornalistas precisamos conversar menos com policiais e políticos e mais com politólogos, sociólogos e antropólogos -além de presos e criminosos, como fez Camila Nunes Dias.

fonte: UOL