O Estado de São Paulo – Opinião
Quarta-Feira, 15 de Julho de 2009
Corrupção policial em SP
Embora esteja longe de ser o único tipo de ação criminosa que tem contaminado a polícia paulista, o achaque a traficantes tornou-se prática de dimensões impressionantes no organismo de segurança pública deste Estado. Matéria publicada sexta-feira neste jornal dá conta do indiciamento, pela Corregedoria da Polícia Civil, de 14 policiais em 4 inquéritos diferentes, sob a acusação de terem extorquido pelo menos R$ 2,7 milhões dos traficantes colombianos Juan Carlos Ramirez Abadía e Ramón Manoel Yepes Penagos, conhecido como El Negro. Outros três policiais são suspeitos, tendo um deles obtido liminar, do Tribunal de Justiça, livrando-o de ser indiciado no inquérito. Ao todo estão em andamento cinco investigações por extorsão, praticada por policiais contra criminosos colombianos e membros de suas quadrilhas.
O traficante Abadía, que foi extraditado para os Estados Unidos em 2008, era o chefe do cartel do Norte do Vale quando foi preso pela Polícia Federal em 2007, neste Estado. Descobriu-se, logo depois, que ele pagou resgate de três de seus subordinados e da mulher de um deles, pois estes haviam sido sequestrados e achacados por policiais de Diadema, do Departamento Estadual de Investigações sobre Narcóticos (Denarc) e do Detran. El Negro, bandido que resgatou a fortuna de ? 70 milhões que seu chefe Abadía mantinha no Brasil, era procurado pela Interpol. Pagou ? 400 mil a policiais do Denarc para fazer-se passar por outra pessoa. Os policiais teriam dado a ele uma identidade falsa, como se fosse um meliante que cumpriria discretamente uma pena de 5 anos por venda de pequena quantidade de ecstasy e seria posto em liberdade logo, sem que ninguém se desse conta. Como se vê, não tem faltado criatividade quando o objetivo de maus policiais é obter lucros com os criminosos.
A extensão da cumplicidade criminosa no seio da polícia se comprovou pela morosidade descabida no andamento desses inquéritos. No caso de Abadía, os inquéritos sobre os achaques permaneceram nas gavetas da Corregedoria por dois anos. E, apesar do reconhecimento das vítimas, da apreensão de carro dado para pagar suposta propina e das provas levantadas pela Polícia Federal, nenhum policial civil era indiciado. Esse imobilismo só acabou em abril, quando a nova diretora da Corregedoria pediu ao Ministério Público Estadual cópia da fita em que o traficante fazia várias revelações e afirmações, entre as quais esta: “Para acabar com o tráfico de drogas em São Paulo basta fechar o Denarc.” Em junho o secretário de Segurança, Antonio Ferreira Pinto, também pediu cópias das investigações e constatou que havia indícios suficientes de autoria. E estranhou tanta demora nas investigações, que prejudicava o trabalho de obtenção de provas. A partir daí, em menos de 20 dias o delegado que presidiu os inquéritos indiciou a primeira leva de policiais suspeitos.
Outra matéria publicada pelo jornal na mesma sexta-feira, também sobre investigações em curso na Corregedoria da Polícia Civil de SP, deu conta de que nada menos de 90 policiais são suspeitos de envolvimento com a máfia dos caça-níqueis. E só de janeiro a junho foram apreendidos, na capital e Grande São Paulo, 20.967 equipamentos dessa modalidade de jogatina ilícita. Com tudo isso é de se observar – para dizer o mínimo – que o sistema de correição da Polícia Civil de São Paulo é algo extremamente travado, estando a necessitar de mudanças estruturais. Nesse sentido, parece-nos muito oportuno o plano do secretário de Segurança paulista de trazer para seu gabinete o controle dessa Corregedoria. Isso porque não haverá aperfeiçoamento algum ou modernização de equipamentos, nomeação de profissionais qualificados ou melhorias de treinamento, articulação com as comunidades, fiscalizações do tipo “tolerância zero” ou o que mais se tente para melhorar a segurança pública paulista, sem que antes se realize uma profunda limpeza moral no organismo policial. E a cobrança mais rigorosa – facilitada por ser comandada pela autoridade de maior peso de todo o sistema de correição – sem dúvida poderá se tornar um importante primeiro passo nessa direção.
Cautela na Corregedoria
Todo policial que se preze, gosta de ver seu trabalho estampado em jornais, revistas e televisão. Se faz isto não é por prazer de ver pessoas presas e sendo humilhada perante a sociedade.
O mais correto seria dar apenas seu recado. De dizer que meu “dever foi cumprido”. Ou talvez, apenas informar a sociedade que a polícia está trabalhando.
Como a mídia sempre “estampa” em suas manchetes, que não são raras, o envolvimento, a participação ou até suposta participação de policiais em atos criminosos, a sociedade já acostumou de ver no policial um “ser corrupto”.
Todavia, não obstante a essa degradação, a corregedoria, na ancia de “fazer tudo de uma vêz”, o que não critico, divulga a participação de policiais (bandidos), com o requinte de detalhes, os quais só interessa a quem quer o fim da Polícia Civil.
A Corregedoria tem o DEVER DE PUNIR, PRENDER, EXPULSAR E CONDENAR TODO MAL POLICIAL, pois estes, alem de bandidos, destroem a nossa Instituição e colaboram pela nossa atual situação financeira e reputação.
Parabenizo a atual Corregedoria pela atitude, de se mostrar presente, de agir em pro da Instituição Polícia Civil e da Sociedade, mas detalhes minuciosos, somente em relatório de investigação e em inquerito policial.
A Corregedoria, basta informar que está trabalhando, basta se fazer presente e ter competencia para PUNIR, PRENDER, ESPULSAR. O policial saberá quando este processo for legítimo.
No caso do DENARC, relacionados ao Abadia, só tenho um pensamento. “Quem negocia em benefício proprio ou recebe alguma coisa para não fazer seu trabalho, tem um novo patrão – O Crime”. Este deve ser expulso e punido com maior rigor possível da lei.
Sobre os caça-níqueis em geral, estas já são pessoas que não mais depende dos parcos salário pago pelo Estado – É o jogo.
Dizer que ganhamos mal pode ser uma verdade, mas esquecer seu juramento de cumprir seu dever e proteger a sociedade é o maior dos crimes.
Está menospresando seu companheiro de trabalho, aquele que dá a sua vida, seja ela profissional, familiar e pessoal para cumprir o juramento feito no dia de sua posse, e no final, ele será condenado pela sociedade com “corrupto” e pelo Estado, á miséria e por ele e pelos “Empresários do Crime” ou “Policiais Espertos” de incompetente.
Mais ação, mais presença e menos divulgação.
Mais cautela, menos detalhes.
Marcos J. Gonçales – Investigador de Polícia – Avaré/SP