Quinta-Feira, 16 de Junho de 2005, 08:06
Delegado recebe última homenagem
Da Redação
A presença maciça de policiais civis e militares marcou a última homenagem ao delegado seccional de Santos, João Jorge Guerra Cortez, encontrado morto, com dois tiros, na manhã de terça-feira, em seu apartamento. O velório foi realizado ontem na Academia de Polícia Dr. Coreolano Nogueira Cobra, na Cidade Universitária, na Capital, onde iniciou sua carreira.
Colegas e amigos, além de familiares — a irmã do delegado veio de Miami para o funeral — lotaram o salão de entrada da capela ecumênica. Estavam presentes desde funcionários do Palácio da Polícia de Santos até autoridades, como o secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, e o comandante geral da Polícia Militar de São Paulo, Elizeu Eclair Teixeira Borges.
Antes de assumir a Delegacia Seccional de Santos, Guerra já havia passado por cargos como assistente de três delegados gerais do Estado de São Paulo, a titularidade da cidade de Peruíbe e a Seccional de Itanhaém. Ele foi lembrado como um profissional íntegro por seus colegas. Um deles, o chefe dos escrivães da Delegacia Seccional de Santos, Marco Antônio Hellmeister, se recordou de quando Guerra o designou para o cargo há três anos. ‘‘Inicialmente, seria algo provisório. O antigo chefe se aposentou e eu fiquei no cargo. Nosso contato era diário e sempre agradeci a ele pela oportunidade’’.
Aceitação
O diretor do Deinter 6, delegado Alberto Corazza, falou sobre a morte do amigo. ‘‘Não nos cabe explicar, apenas aceitar. Nós, cristãos, acreditamos que a morte é a passagem para a vida eterna e Guerra era um filho de Deus. Perdemos um profissional da mais alta estirpe’’.
Corazza disse que tinha uma relação quase como de pai para filho com Guerra. ‘‘Me penitencio por não ter percebido o que ele poderia fazer naquela noite, principalmente por saber o que acontecia’’.
O cortejo até o Cemitério Santa Isabel, em Peruíbe, onde moram os pais do delegado, foi escoltado por várias viaturas da Polícia Civil. Pelo caminho, alguns policiais que não puderam acompanhar todo o percurso aguardavam a passagem do cortejo com as sirenes das viaturas ligadas.
Secretário
Ainda durante o velório, o secretário de Segurança Pública do Estado, Saulo de Castro Abreu Filho, disse que, apesar dos problemas pessoais pelos quais passava, o trabalho ainda era uma das satisfações do delegado. E citou sua participação na Operação Indra, desenvolvida pelo Departamento de Narcóticos (Denarc) de São Paulo, apoiada pelo Deinter 6.
Descartando qualquer ligação entre a operação e a morte de Guerra, o secretário observou que o delegado participou de uma reunião na noite anterior à sua morte, justamente para acertar detalhes sobre o trabalho, que culminou com a apreensão de 180 quilos de cocaína em um sítio de propriedade de Ronaldo Duarte Barsotti de Freitas, o Naldinho. ‘‘No trabalho, sua vida estava normal, estava animado. A polícia não tem motivo para esconder nada’’.
Amigo pessoal de Guerra, antes mesmo de ele ser delegado, Saulo destacou suas qualidades. ‘‘Ele foi promovido a delegado de classe especial antes de completar 50 anos. Estava no topo da carreira e tinha toda uma perspectiva de chegar a cargos de diretoria’’.
Ao falar da Operação Indra, o secretário revelou que certamente as investigações terão novos desdobramentos. ‘‘Se contarmos com a ajuda do Governo Federal, já que já sabemos de onde e como vem a droga e consequentemente a lavagem de dinheiro, não há dúvidas de que vamos avançar e até chegar em pessoas de certa relevância social’’.
Também o delegado-geral da Polícia Civil, Marco Antônio Desgualdo, ressaltou o profissionalismo de Guerra: ‘‘Todas as promoções dadas ao Guerra foram por merecimento. Era um profissional que se dedicava de corpo e alma ao trabalho.
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Quarta-Feira, 15 de Junho de 2005, 07:15
Delegado seccional é encontrado morto
Da Redação
Atualizado às 17h04
Valéria Malzone (*)
O delegado seccional de Santos, João Jorge Guerra Cortez, foi encontrado morto por volta das 10h30 de ontem, em seu apartamento na Praia do Boqueirão. Segundo a Polícia Civil do Estado, trata-se de um caso de suicídio, embora o delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Marco Antônio Desgualdo, tenha afirmado que ‘‘nada está sendo desprezado’’.
Guerra foi achado somente usando cueca, deitado em posição de decúbito dorsal (costas) em sua cama, e o corpo apresentava dois tiros: um no peito e outro na cabeça, logo abaixo do ouvido direito. A arma usada foi uma PT.40 (pistola semi-automática), de uso da própria polícia.
‘‘A perícia está sendo realizada e o quadro é de suicídio, inclusive porque não havia sinais de qualquer tipo de violência no local. Todos os cômodos estavam em ordem e seu celular e suas coisas estavam sobre um criado-mudo’’, disse Desgualdo.
Salmos
No apartamento, localizado no oitavo andar da Avenida Vicente de Carvalho, 18, a polícia encontrou muitos textos — inclusive de internet — religiosos. ‘‘Havia cartas de salmos, um CD tocando esse tipo de música e bíblias abertas (uma no quarto e outra na sala) nos salmos, que se referem ao consolo, à consolação’’, avaliou o delegado geral.
Para ele, a leitura e o volume desses textos encontrados no apartamento evidenciam um estado de espírito conturbado. ‘‘Há algum tempo, talvez em razão da sua separação (ocorrida há cerca de um ano), sabemos que ele se encontrava em processo de depressão’’, garantiu Desgualdo.
Apesar da hipótese e do quadro mais provável de suicídio, o delegado geral assegurou que a perícia vai analisar todos os detalhes da cena, como as trajetórias dos projéteis, os ângulos de tiros (laudos perimetroscópicos), presença de impressões digitais, além da opinião do Instituto Médico Legal de Santos (local para onde foi levado o corpo no final da tarde de ontem).
Dois tiros
Desgualdo enfatizou que o fato de o corpo de Guerra conter dois tiros não inviabiliza a hipótese de suicídio. ‘‘É costume muitas vezes no suicídio você encontrar mais de um disparo, dependendo da região do corpo em que se atinge’’.
O delegado geral ainda explicou: ‘‘Pegar um órgão vital é uma coisa. Pode também haver até um espasmo, após o primeiro tiro (provocando um segundo). E, se ocorrer um que não se atinja de imediato um órgão vital, é claro que dá para disparar um segundo ou até um terceiro tiro’’, garantiu Desgualdo.
As balas foram transfixantes (atravessaram de lado a lado). ‘‘Isso tudo está sendo observado e registrado’’. Aparentemente, o delegado geral acredita que a bala da cabeça (abaixo do ouvido direito) não tenha acertado o sistema nervoso central.
‘‘A necropsia irá analisar o horário do fato. O que sabemos até agora é que até às 22h30 de ontem (segunda-feira), ele ainda estava com vida. Pelo estado de rigidez do corpo, acreditamos que tenha sido por volta das 23 horas’’.
Os exames estavam sendo realizados pela Polícia Científica de Santos e por peritos papiloscopistas do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) da Capital.
Ainda no início da noite de ontem, o procurador-geral de Justiça Rodrigo Pinho designou o promotor Otávio Borba de Vasconcellos Filho para acompanhar todo o caso.
Confirmação
No final da tarde de ontem, durante entrevista coletiva à Imprensa, no Palácio da Polícia Civil de Santos, foi descartada qualquer hipótese de homicídio. Houve a confirmação de suicídio.
Participaram da coletiva o delegado divisional do Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Paulo, Armando Oliveira.
Quarta-Feira, 15 de Junho de 2005, 07:17
Posse no atual cargo ocorreu há 5 anos
Da Redação
O delegado João Jorge Guerra Cortez tinha 47 anos de idade e 18 de profissão. Ele assumiu a Seccional de Santos no dia 18 de junho de 2000. Além de Santos, o setor abrange também os municípios de São Vicente, Bertioga, Guarujá, Cubatão e Praia Grande.
Entre as suas missões, estava a de apurar as infrações cometidas por policiais e o estímulo ao policiamento judiciário, que é um trabalho de investigação.
‘‘Trabalhamos junto com ele desde a época da Academia de Polícia. Ele era uma pessoa muito correta e direita. Também era um pouco introvertido, mas de um sentimento muito puro’’, afirmou o delegado geral da Polícia Civil de São Paulo, Marco Antônio Desgualdo.
‘‘Ele era um companheiro da primeira hora. Fazia o que gostava, que era a investigação’’, completou. ‘‘A polícia perdeu muito’’. Guerra era separado e deixou um filho de 10 anos de idade. Sua família, os pais, são de Peruíbe (Litoral Sul).
Honra
‘‘Temos que tocar a vida em frente e honrar a figura de Guerra, que era uma figura intrépida. Ele foi sempre um delegado linha-de-frente’’, enfocou o diretor do Deinter-6, o delegado Alberto Corazza. ‘‘Ele enfrentou perigos, tiroteios. Ele não era acomodado, de papel. Era um homem altamente competente, apaixonado pela investigação e fez grandes casos em Santos’’, emendou.
Corazza confirmou que Guerra atuava recentemente no caso Naldinho. ‘‘Ele transmitia informações ao delegado Ivaney (Ivaney Cayres de Souza, diretor do Departamento de Investigações sobre Narcóticos, Denarc) e acompanhamos essas investigações desde o início’’.
O diretor do Deinter-6 disse que o caso Naldinho foi passado ao Denarc porque o órgão tinha mais liberdade de ação. ‘‘Os policiais de lá são menos conhecidos do que os daqui e tinham muito mais liberdade para fazer as campanas, investigar etc’’.
Corazza garantiu entretanto que ‘‘não há nenhuma possibilidade, nesse mundo, de qualquer ligação entre essa depressão (que seria a causa do suicídio) e a investigação que estava sendo feita’’. O diretor assegurou que Guerra já havia passado por pressões maiores, em outras investigações.
Bíblia
‘‘Ele estava com problemas pessoais. Inclusive, comentamos muito sobre esses problemas. Líamos a Bíblia juntos e até levava ele para comer em casa’’. Mas Corazza observou que ele era mesmo muito introspectivo. ‘‘Ele dificilmente se abria por completo’’.
Para o diretor, as pessoas introspectivas têm mesmo esse problema. ‘‘Eles entram em uma roda-viva e as dificuldades vão acumulando e acumulando e a depressão leva a um maior recolhimento; e isso tudo a uma depressão fantasiosa para um momento propício’’.
É por esse motivo que Corazza disse não ter dúvidas de que houve mesmo suicídio. ‘‘Trabalhei por dois anos na Delegacia de Homicídios do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado) e nossa experiência nos leva a crer que não há outra hipótese a não ser suicídio’’, ratificou.
Colaborou Amanda Guerra