SE DESPEDIU DA LUTA: na Folha de S. Paulo, xingando (Quércia era chamado de ”a dama-de-ferro”), denunciando e nocauteando os maus políticos 1

A febre e a fúria
Biografia do polêmico jornalista Tarso de Castro revela um homem bom de idéias, de copo e de briga
Luís Pimentel
75 kg de músculos e fúria

Tom Cardoso Planeta – 280 páginas
Em 1981, vivenciando o ócio angustiado do desemprego, cerquei no bar Tangará o cartunista Reginaldo Fortuna – então diretor de arte do semanário Enfim – para ver se conseguia por lá uma vaguinha. Gentil e solidário como poucos, o querido amigo não pensou duas vezes:
– Pinta lá que eu te apresento pro Tarso.
Dia seguinte eu estava na redação do jornal, em salinha alugada no Leblon, para ser apresentado ao genial, temido e furioso editor-geral Tarso de Castro, uma lenda no jornalismo de humor e de idéias no Brasil.
– Tarso, este é o Pimenta. Tem experiência em texto e em edição. Podemos arrumar um lugar para ele aqui? – perguntou o Fortuna.
Resposta:
– Meus caros, aqui não tem lugar mais nem para mim.
Duas semanas depois o Enfim deixava de circular.
O recém-lançado( agora não tão recente) 75 kg de músculos e fúria é a biografia honesta e ao pé da letra de um dos mais polêmicos, extrovertidos e controversos jornalistas brasileiros, o gaúcho de Passo Fundo Tarso de Castro, escrita pelo também jornalista Tom Cardoso.

É para ser lida com a mesma febre que moveu o criador do Pasquim a vida inteira, das primeiras notas para a coluna Hora H, na Última Hora, em 1968, às crônicas com as quais se despediu da luta no comecinho dos anos 90, na Folha de S. Paulo, xingando (Quércia era chamado de ”a dama-de-ferro”), denunciando e nocauteando os maus políticos paulistas e brasileiros.
Tarso de Castro foi uma usina de discórdias, de texto e de criação, turbinas o tempo todo aceleradas, enaltecendo amigos e derrubando inimigos com a mesma fúria que derrubava doses cavalares de uísque no Antonio’s, na Fiorentina, no Lamas e nas mais variadas mesas de Porto Alegre ao bairro paulistano dos Jardins.

Brigão por índole e debochado por natureza, namorou as mulheres mais bonitas e mais famosas de Ipanema. Quando resolveu ampliar o círculo e tratar das relações internacionais, não fez por menos: passeou aos beijos e abraços entre Oropa, França, Bahia e Nova Iorque com a então estrela do cinema norte-americano Candice Bergen, alardeando uma declaração de amor em macarrônico italiano: ”Te voglio bene, tesouro”.

Que figura.
A maior revolução na imprensa, nos costumes, na sociedade e na linguagem que o brasileiro que sabe ler já viu foi o semanário O Pasquim, invenção de Tarso de Castro (concretizada com o apoio e talento de craques como Jaguar, Sérgio Cabral, Luis Carlos Maciel, Fortuna, Ziraldo, Paulo Francis e outros); o uso sem rodeios de expressões cretinas ou xulas nas colunas informativas é prerrogativa de Tarso de Castro; a reformulação da Folha Ilustrada, a criação do Folhetim e do Enfim, o renascimento da Careta e do Nacional são obras de Tarso de Castro; e, provavelmente, Tarso de Castro também tenha sido uma invenção febril de Tarso de Castro.
75 kg de músculos e fúria mostra o jornalista privando da intimidade de homens como Leonel Brizola, Samuel Wainer e Cláudio Abramo. Posando garboso e influente ao lado de ícones como Che Guevara. Bebendo com Glauber Rocha, Roniquito, Otto Lara Resende, Hugo Carvana, Tom Jobim e João Ubaldo Ribeiro. Amando mulheres como Bárbara Oppenheimer, Nara Leão, Sônia Braga, Maysa Matarazzo e Norma Bengel.

Brigando com Jaguar, Ziraldo e Millôr Fernandes. Enfrentando com a mesma empáfia e o mesmo cinismo o glamour e a cirrose.

Fez e aconteceu até maio de 1991, quando o coração prenhe de sede e o fígado inchado de festa derrubaram os 75 kg (àquela altura, tristemente reduzidos à metade pela doença) de músculos, de fúria e de audácia jamais vistas.

Um Comentário

  1. O blog jornalístico DESABAFO BRASIL apoia o FLIT PARALISANTE. Reconhecimento a brava luta pelos direitos que o incompetente José Serra não exerga, pois seus olhos não alcança as necessidades do policiais e de seus familiares. A prepotência é o alimento diário do Tucano que pretende ser presidente da República, Deus nos livre. Estamos atentos contra as injustiças e as barbaridades do Governo Tucano. Vamos a luta! Um abraço, Daniel Pearl – editor.

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