SE ELOÁ FOSSE ABRAVANEL…

Menina, já que ganhastes o universo, ouvirás aquilo que falo.
Fosse Eloá Abravanel ou Eloá Ermínio, ainda, brincaria com as amigas, curtindo teu celular e qualquer tipo de funk da periferia.
A vida não te deu nome polpudo; não sei se chegou aprender – teve só 15 anos entre nós – mas somos aquilo que temos no banco…
Acredito – vendo a tua pequena caminha – que de banco só conheceu a fila para não clientes.
Perdão, pois sou uma espécie de “grande autoridade” estadual…Daqueles que chamam “Delegados”, ou, simplesmente, o “Del”.Daqueles que o povo da periferia não diferem de ladrão.
Eloá, perdão!
Perdão pelas palavras que – alguns – acharão impróprias, desrespeitosas pela tristeza da tua viagem.
Mas tomo a liberdade sabendo que me entenderás; sem ofensa ou escândalo…
Afinal, não é pra ti que devo falar.
Ganhastes o universo e todo o conhecimento desta nossa vidinha pequena, minúscula…
E ganhastes o universo e eterna alegria, pois percebi que fostes feliz.
E ser feliz é uma coisa, ser alegre outra.
Você viu, ontem, o Governador é alegre…
Mas nunca será feliz!
Sou um homem feliz; nunca serei alegre.
E não é por me faltarem dentes, sorrio com o coração.
Nunca com os lábios!
Você deve me entender…
Pois bem, gostaria de pedir perdão por não impedir que o mundo fosse roubado da tua felicidade, alegria e sorriso.
Horas antes sabia que você iria partir; estava no metrô refletindo sobre política e polícia…
E sei como as coisas; os fatos são sempre decorrentes…
Impedir queria e pedia: porque não me convocam?
Sei lá!
De qualquer forma perdão, sabia que irias morrer neste mundinho; nada fiz para impedir.
Mas não fico triste pela minha omissão; pela tua partida.
Estou triste pelo fato de ninguém te querer salvar para nós.
Não te salvar por te fazer favor ou obrigação.
Te salvar para nós.
E tristemente ninguém te salvou, pois só tinhas um largo sorriso…
Sorriso puro, daquele que não rende lucros…
A isso não se dá valor.
Se teu sorriso pudesse ser medido por dinheiro ainda estarias viva, mesmo que contrariamente à natureza.
Diante da tua despedida vieram homens velhos com olhares tristonhos…
E você bem viu!
Mas quando estavas na janela buscando permanecer neste nosso mundinho, estes mesmos homens velhos com olhares tristonhos te mandaram soldados.
Não para te salvar.
Só para se manterem!
Posto não és uma Abravanel; tampouco Ermínio.
Fosse eles estariam aos teus pés…
De quatro para o teu tresloucado algoz…
Perdão, outra vez!
Por mim e por todos…
Sabes que eu ficaria, por ti, de quatro para o teu algoz, embora jamais ficasse para velhos homens de olhares tristes.
Pela tua vida ficaria de quatro para qualquer um, mas tem gente triste que só fica de quatro por lucro.
E foram buscar lucros no leito de morte, mas faltou vontade e coragem para buscarem o lucro da tua vida.
Fosse uma Abravanel, ou outro nome próspero, nosso Governador estaria de quatro para o Lindemberg.
Tenhas certeza.
Mas continue feliz…
Rindo e sorrindo – de nós – por nós.
Até!