Amigos,
Transmito-lhes este e-mail com seus nomes no “oculto”, deixando apenas alguns em aberto, para que saibam de minha indignação. O Sr. Rebouças, do SIPESP (Sindicato dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo) é testemunha do que vou denunciar aqui – é o único que deixo com o nome em aberto para que possam consultá-lo, caso achem necessário. Peço aos colegas delegados que repassem este aos foruns de Delegados, e que me procurem se quiser.
Sou delegado de polícia há quinze anos, todos no plantão. Estou na 3ª classe. Fui delegado na capital por dez anos. Saí em dezembro do ano passado.
Antes de mais nada, peço perdão por meus erros gramaticais e pelo longo e-mail, pois sou apenas um Delegado de Polícia. Não me considero dono da verdade, nem dono de todo o saber, como muitos de meus colegas, principalmente aqueles que hoje estão no Poder, e também aqueles que dizem nos representar (a bem da verdade, não a mim, pois me desliguei dos dois quando “minha ficha caiu”, há uma ano). Perdoe-se-me também por evetuais palavras duras e deselegantes, mas este é meu jeito de ser, e não posso compactuar com a ‘SACANAGEM” que está por acontecer.
Informo que, como já agendada há duas semanas atrás, haveria uma reunião na sede do SIPESP (os verdadeiros “cabeças” do movimento – Investigadores de Polícia) com Deputados da bancada do PT no dia 26/09, às 11h. Provavelmente a candidata Marta Suplicy também compareceria naquele local. Este convite foi feito pelo Presidente Rebouças a “Alex” (não sei o nome completo), mas acessor parlamentar do Dep. Simão Pedro e candidato a vereador pelo PT. Fui lá para isso, junto com o Presidente do SIMPOLSAN, Décio Couto Clemente. Ao chegar, como já havia conversado com o Presidente Rebouças por telefone em outras ocasiões, recebeu-me calorosamente antes da hora marcada.
Enquanto aguardávamos a chegada do Deputados, “Alex” chegou, dizendo que os Deputados, nem Marta Suplicy, compareceriam. Disseram que a reunião não ocorreria por que o Delegado “GAMA” havia telefonado para o Dep. Simão Pedro desmarcando a reunião, aduzindo que esta mudara de lugar, e que seria na sede da ADPESP, pois se esta ocorresse na sede do SIPESP, os políticos seriam rechaçados pela categoria. Ainda assim, houve a reunião, com o Sr. “Alex” presente, bem como o Sr. “Adi”, delegado sindical da CUT. Pior: ouviu-se dizer que o Dr. Sergio Roque, presidente da ADPESP, estaria por achar melhor “suspender” a greve, em razão do fato ocorrido no interior entre um corajoso colega e um juiz moleque, um “reizinho de beca”.
Rebouças deu-me a rara honra de compor a mesa de reuniões, o que me fez sentir muito orgulho. Nunca em “minha casa” (ADPESP e SINDPESP) me dariam essa oportunidade. Graças à atitude de muitos de nossos colegas de pensarem que na Polícia há duas carreiras – os Delegados e o resto – muitos dos presentes me viram com maus olhos, posto que não me conheciam. Foi assim que soube de toda a “SACANAGEM” perpetrada por alguns representantes da ADPESP.
Terminada esta reunião, fizemos outra pequena reunião, ocasião em que solicitamos a presença do “Dr. LEAL” – Presidente do SINDPESP no SIPESP. Fui eu quem fiz a ligação, justamente pelo fato de ser delegado de polícia. Expus-lhe o que ocorreu, e que pretendíamos realizar uma rápida reunião paa decidirmos os novos rumos da greve, desejando marcar uma nova reunião com TODAS as entidades sindicais para segunda-feira, dia 29.09, às 11h. Disse-me:
– Ahhh… não. Não dá. Segunda-feira é na sede da ADPESP, às 10h30min. Olha, Marcello. Tem mais uma coisa: o movimento tomou grandes proporções. Ninguém é dono dele. Delegado é quem encabeça. Se quiserem, que venham vocês aqui….
Desliguei o telefone imediatamente. Pensei: FODEU! Estamos rachados, por uma debilóide “fogueira das vaidades”. Os delegados, por pensarem que são “cabeças”, vão por tudo a perder. Somos tão burros que não percebemos que é tudo que o Governo quer: DIVIDIR PARA CONQUISTAR. Trouxas. Caímos.
Este movimento não é de ninguém. Não é de nenhuma entidade sindical: É DE TODOS NÓS, POLICIAIS DA “NOVA POLÍCIA”. Tem um homem a ser respeitado, com quem se deve conversar, pois foi ele quem começou tudo: JOÃO REBOUÇAS, Presidente do SIPESP. Nós, os Delegados de Polícia, fomos os últimos.
Vamos todos pôr a mão na consciência. Paremos de ser ridículos e elitistas. Como dito na reunião no SIPESP: “todo mundo quer a paternidade do filho bonito”. Sejamos humildes.
Aos poucos, fomos nos esquecendo que nosso movimento visa muito mais que salário – visa DIGNIDADE. Graças a este movimento, ela está sendo resgatada. Para tanto, temos que nos dar as mãos, e andar lado a lado, não um querendo ir na frente dou outro.
Há outras reivindicações de prioridade ímpar em nossa pauta: AUTONOMIA. Quero poder investigar livremente sem tomar “bonde” (para os de fora da polícia, é remoção compulsória”. Se hoje investigamos um “costa quente”, amigo do Governo, somos removidos.
Esta é a prática do PSDB – dizem que sofreram com o Polícia Política da ditadura militar, que isso é inaceitável. Nos culpa por isso. Sergio Paranhos Fleury faleceu em 1977. O DOPS acabou na década de oitenta. A Constituição Federal tem 20 anos. Dos policiais daquela época, muitos (quase a maioria) já aposentaram. A anistia ocorreu na década de 80, quando eu era criança. Não temos nada com isso.
Curioso, não? Não repararam? Vamos raciocinar: enquanto os que não tomaram um tapa sequer na época da ditadura, só foram exilados (tinham dinheiro, lógico), uma outra parte ficou, tomando choque o borrachada, graças ao movimento sindical (eram “duros”, não tinham a quem recorrer, nem para onde correr). Os primeiros tomaram o Estado de são Paulo há quatorze anos; os outros, o Governo Federal há seis. Olhem agora a diferença da Polícia Civil para a Federal. Eles investigam até o Governo deles, doa a quem doer; nós, se fizermos isso, é “RIPA”. Lembremos mais um pequeno detalhe, quando se deu a privatização das “teles”: descobriu-se uma irregularidade envolvendo os filhos de um membro do governo (seria um Ministro de Estado?) – o superintendente da Polícia Fedral foi removido. Será qual a gestão menos desonesta? A que permite a investigação ou a que manipula dados?
Soube que hoje, domingo, os “delegados” da ADPESP estão agora reunidos naquele antro-sede. Ao que parece, se desenha uma proposta somente para delegados, excluíndo-se “o resto”. Não tenho pretensões político-sindicais, tampouco político-partidárias. Não há “resto”, não: pertencemos, TODOS, a uma mesma categoria, somos POLICIAIS. Toda essa soberba me enoja!
A greve, agora, tinha que tomar uma atitude mais radical. NÃO É SÓ DINHEIRO, DE JEITO NENHUM! Todavia, a postura do Dr. Sergio Roque – que tomou uma “RIPA” para o DECAP, deixou seu Diretor, em solidariedade entregar o cargo, é de quem não honra a classe, nem as calças.
Li o Estatuto da ADPESP (é obrigação de todos nós, ao entrarmos numa briga, sabermos o que estamos fazendo, e como). Olhem o que achei (em negrito, o principal):
Artigo 15o. – São deveres dos sócios fundadores, contribuintes e beneméritos: I – Cumprir as disposições deste Estatuto e acatar as deliberações tomadas pela Assembléia Geral e pela Diretoria; II – pagar, mediante desconto em folha, a quota de mútua-assistência, mensalidades e contribuições previstas neste Estatuto; III – envidar todos os esforços para qual a “ADPESP” atinja os seus fins; IV – zelar pela dignidade da classe e da “ADPESP”; V – envidar todos os esforços a fim de conservar o patrimônio da “ADPESP”. Mais:
Artigo 78o. – Será suspenso de todas as suas prerrogativas o sócios que: I – deixar de cumprir as suas obrigações financeiras para com a Associação; II – desobedecer as determinações da Diretoria referentes à boa ordem e disciplina da “ADPESP”; Parágrafo 1o. – A suspensão será efetivada mediante portaria do presidente, “ad referendum”, do Conselho de Ética. …
Artigo 81o. – Será excluído o sócio que: I – até 90 (noventa) dias após a sua suspensão, pelos motivos do inciso I do artigo 78, não houver satisfeito o pagamento de seus débitos, acrescidos de multa de 10%; II – tendo sido suspenso, com fundamento no inciso II do artigo 78, reincidir na prática da mesma falta; III – por sua conduta em relação aos sócios, ou pelo procedimento, incompatibilizar-se com a classe.
Pergunto: para que o movimento dê certo, porque o Dr. Sergio Roque, não promove o processo de EXCLUSÃO dos quadros da ADPESP, contra os Srs. Delegados do DECAP, que estão francamente constrangendo colegas para que não parem, sob pena de “bonde”? É óbvio que, se tivesse coragem para mover esse processo, das duas, uma: ou os delegados confessariam o erro e seriam expulsos, ou negariam, dizendo que não são contra a greve e nem constrangeram nenhum colega. Com base nesta última tese de defesa, pegar-se-ia cópia de sua defesa, apresentar-se-ia na sede de cada delegacia de sua Seccional e falariam aos colegas: FAÇAM A GREVE, A ADPESP NÃO ENVIDARÁ ESFORÇOS PARA EXPILSÁ-LOS E IMPETRARÁ MANDADO DE SEGURANÇA PARA GARINTIR O SEU DIREITO. Mas não, ele prefere “mijar” – é um Delegado de “Pelúcia”, não é “POLÍCIA”. Ele me envergonha, Deus do Céu!
Sugiro a todos os colegas ligados a essa Associação dos Delegados Pelegos do Estado de São Paulo uma forte pressão por ATITUDE, não por recuo. Não dá mais para recuar. Já o fizemos em 20 de agosto, quando o Govrno tinha uma semana para responder e esperamos mais um mês para retomarmos a greve.
Esses “delegados” que estão agora na reunião, provavelmente, ganharão alguns cargos por aí, ao passo que a maioria, com “delegatite” ou não, vai continuar nessa MERDA, condenando todos os outros TRABALHADORES da Polícia Civil ao descaso.
Sim, somos TRABALHADORES. Vamos parar com essa de não nos colocar nesse patamar, dizendo-nos “agentes políticos”. Bobagem! Esta – TRABALHADOR – palavra tem um significado poderoso na mente da população, pois passam a nos ver como eles.
Não quero ser um cão feroz guardando o quintal do governador (ninguém cria um cão para morder sua mão), comendo resto de comida – quero trabalhar efetivamente para a população. Para tanto, pçreciso de AUTONOMIA, condições de trabalho, garantias legais.
Ouvi ontem um radialista da rádio Bandeirantes de São Paulo falar sobre a greve da Polícia Civil. O que mais me chocou é que a população nunca percebeu que é uma Polícia para manutenção do “status quo”, uma guarda pretoriana. Não é Civil – é política, mais do que nunca. Disse estar chocado com o fato de sempre ter acreditado que promoções na Polícia Civil eram decorrentes de mérito, de serviços prestados (vejam só, como se fosse), e que os “cardeais” assumiam cargos por competência. Percebeu, contudo que, em razão da greve, vendo vários delegados serem removidos, a lotação de cargos é política.
Enquanto nós não acordarmos para isso, e acordarmos a população para o que realmente ocorre, nunca teremos nada, nem respeito. Seremos sempre cachorros tomando conta do quintal. A hora é de luta, não só por salários, mas por condições de trabalho. É olhar para frente e vermos que um dia vamos nos aposentar e, se continuar assim, perderemos 45% do nosso salário. è briga de um por todos, todos por um. Peço aos colegas que ponham a mão na consciência e impeçam essa traição que se desenha, pois assim nunca resgataremos nossa DIGNIDADE, não poderemos olhar nos olhos dos nossos filhos, pois não seremos nada. Apenas uns cães a espera de ração…
Obrigado a todos,
(MM) –
Obs.: O AUTOR É DELEGADO- HOMEM E LÍDER…
NÃO É DA PANELA DOS SAFADOS
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A GREVE É MUITO MAIS DOS OPERACIONAIS…
SE DEPENDESSE UNICAMENTE DA CORAGEM E VONTADE DE GRANDE PARCELA DOS DELEGADOS NÃO HAVERIA NENHUMA GREVE.
PRESSÃO NA ADPESP E NO SINDPESP…
OS MAÇANETAS ESTÃO CONSPIRANDO CONTRA OS POLICIAIS, SOFISMANDO.
ALEGAM QUE O PIOR SALÁRIO DO BRASIL É APENAS OS SALÁRIOS DOS DELEGADOS.
AS CARREIRAS POLICIAIS CIVIS E OS MEMBROS DA POLÍCIA MILITAR ESTÃO ACIMA DA MÉDIA NACIONAl.
E que ninguém me acuse de fomentar a felonia, mas tenho vergonha de boa parcela dos Delegados de Polícia.
Os inúteis da Polícia Civil.
Sempre a mesma conversa: “o que importa é o meu”.