Policial militar mata colega a tiros
Após provável discussão no trânsito, Luis Gustavo dos Santos Carreira, 26 anos, foi morto por Halley Thiago Sossai
Alcir Zago/Com Lucien Luiz
Após uma provável discussão no trânsito, seguida de perseguição, o policial militar Halley Thiago Sossai, 24 anos, matou o também policial militar Luis Gustavo dos Santos Carreira, 26 anos, com três tiros. É o 18.º homicídio registrado no ano em Bauru. O fato ocorreu à 0h45 de ontem, na quadra 2 da rua Ivo Marcelino, na Vila Monlevade, em frente à casa onde residia Carreira. No momento do crime, ambos estavam de folga e à paisana.
Os dois policiais eram naturais de Bauru, mas não trabalhavam no Município. Sossai atuava no 10.º Batalhão de Polícia Militar do Interior (BPM/I), em Piracicaba. A vítima pertencia à 5.ª Companhia, em Lençóis Paulista.
Para o comando do 4.º BPM/I, há indícios de que houve crime militar, isto é, entre militares. Paralelamente, deve ser instaurado inquérito na Polícia Civil para apurar o homicídio. Segundo o delegado Ronaldo Divino Ferreira, que ontem estava de plantão, como o acusado foi detido em flagrante pela PM, o delegado do 4.º Distrito Policial deve tomar conhecimento do caso amanhã e, a partir daí, dar início às investigações.
Durante aproximadamente 10 horas, Halley Sossai permaneceu na sede do batalhão, onde prestou depoimento. Também foram ouvidas a noiva e uma amiga do policial, que estavam no carro com ele na hora do fato.
Segundo o major Nelson Garcia Filho, comandante interino do 4.º BPM/I, o autor dos disparos foi autuado em flagrante por homicídio. Por volta das 15h de ontem, Sossai deixou a sede do batalhão no banco de trás de uma viatura, com destino ao Presídio Militar Romão Gomes, na Capital, onde ficará à disposição da Justiça.
Por motivos ainda a serem apurados, os dois policiais teriam se desentendido na rodovia Marechal Rondon, nas proximidades da Rua das Festas. Carreira dirigia um Gol cinza, placas DDZ-3786, de Bauru. Sossai conduzia um Peugeot 206 preto, de placas DHZ-6267, também de Bauru.
Após a discussão, Sossai teria seguido Carreira até a residência do segundo. Tanto no boletim de ocorrência da Polícia Civil quanto na nota encaminhada pelo 4.º BPM/I, consta que houve troca de tiros. Mas uma testemunha, cujo carro estava quebrado a poucos metros do local, tem uma versão diferente. Segundo o rapaz, Sossai teria descido do carro com arma em punho e dito para Carreira sair do veículo. Assim que a vítima tinha deixado o Gol, foi atingida por vários disparos. A testemunha teme represálias e, por isso, não se identificou.
A Polícia Científica esteve no local, onde encontrou sete projéteis deflagrados. Também irá fazer exame residuográfico e necroscópico. As pistolas dos dois policiais (uma Glock 380 e uma Taurus) foram recolhidas pela PM.
Carreira foi atingido por três tiros. De acordo com o major Garcia, Sossai acionou a unidade de resgate do Corpo de Bombeiros para atendimento da vítima, que foi levada ao Pronto-Socorro Central e depois para o Hospital de Base, onde passou por cirurgia. Às 4h20, a unidade informou que o policial não resistiu aos ferimentos e morreu.
Versões
Os depoimentos de Sossai e de duas testemunhas que estavam com ele no momento do fato foram acompanhados pelos advogados Alceu Carreira, primo da vítima e que irá atuar como assistente de acusação, e Fernanda da Silva Magalhães, defensora do autor dos disparos.
Segundo ela, Sossai alegou que Carreira dirigia no sentido Agudos-Bauru de maneira perigosa, parecendo estar embriagado. A advogada disse que o policial teria entrado em contato com o Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) para falar sobre a situação, mas recebeu a informação de que a polícia não teria como abordar o motorista. Por isso, teria sido orientado a interceptar o carro. Segundo Magalhães, ao chegarem à casa de Carreira, eles teriam discutido. Em seguida, Sossai teria se identificado como policial e efetuado os disparos em legítima defesa.
O advogado do policial morto contestou o depoimento do acusado. De acordo com Alceu Carreira, não tem sentido um policial receber ordem para perseguir um motorista, estando à paisana, e, além disso, junto da noiva e de uma amiga em seu carro. Alceu afirma que, na hora do crime, havia uma pessoa em um Fusca branco parado no local, além de um vizinho que ouviu os disparos.
Cinco anos de corporação
Luis Gustavo dos Santos Carreira atuava na corporação da PM há mais de cinco anos. Desde que foi habilitado à profissão, trabalhava em Lençóis Paulista, mas, segundo seu pai, Darci da Costa Carreira, ele seria transferido para Bauru no ano que vem.
Universitário do terceiro ano de direito, na Instituição Toledo de Ensino (ITE), em Bauru, Carreira tinha o objetivo de alcançar o posto de oficial. Por duas vezes, tentou ingressar na Academia de Polícia Militar do Barro Branco. Como não conseguiu a aprovação, decidiu cursar direito e tentar a academia mais tarde. “Ele trabalhava à noite em Lençóis e estudava de manhã na ITE. Ele ia tentar Barro Branco mais uma vez, para se formar tenente. Depois, planejava seguir carreira dentro da PM”, conta Darci.
Apesar do pouco tempo de profissão, Carreira recebeu da corporação, no ano passado, uma medalha de mérito por ter resgatado uma criança presa nas ferragens em um acidente. “Ele (Luis Gustavo) e um colega resolveram não esperar o Corpo de Bombeiros chegar, já que o acidente tinha ocorrido em Lençóis. Mesmo sem equipamentos necessários, conseguiram retirar o garoto das ferragens e, por poucos minutos, salvar a vida dele. No ano passado, foi feita uma homenagem para os dois. Eles receberam das mãos desse menino uma medalha de honra pela atitude de bravura que tiveram”, lembrou o pai, emocionado.
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Policial deixa filho de 3 meses
Luis Gustavo dos Santos Carreira deixou o filho Matheus Henrique, de 3 meses. É o único filho do policial, que era solteiro e vivia com os pais, em Bauru, no Jardim Paulista. “Ele era apaixonado pelo filho e um pai muito atencioso e dedicado”, lembra Beatriz Carreira Sartori, prima da vítima.
Além do filho, que pouco pôde conviver com ele, o policial deixa o pai, Darci Carreira, 66 anos, a mãe, Rosana Aparecida Ferreira dos Santos Carreira, 52 anos, e a irmã Lívia, 24 anos.
Velório
Muita gente compareceu ao velório de Carreira, ontem, para lhe prestar as últimas homenagens. Familiares e amigos estavam inconformados e ainda custavam a aceitar a morte do policial.
“Ainda não consegui acreditar. Ele era uma pessoa tão ligada à família e pacificadora, que não merecia isso. Nada justifica o que aconteceu”, comentou Beatriz Carreira Sartori, prima da vítima. “Ele só tinha amigos, era um rapaz muito disciplinado e não podia ter morrido dessa forma”, disse o tio Ruy Ferreira dos Santos, inconformado.
“O Luis Gustavo não tinha richa com ninguém, bem pelo contrário, era muito alegre e simpático com todos. Não havia necessidade disso. Quem atirou, não deu chance do meu filho reagir. Só espero que seja feita justiça e que essa pessoa que atirou no meu filho receba a punição que merece”, argumentou o pai da vítima.
Companheiros de trabalho de Carreira também compareceram ao velório e acompanharam o sepultamento, no Cemitério São Benedito. Emocionados, disseram que receberam a notícia da morte com grande surpresa. “Fui avisado por telefone. Foi um grande susto. Ontem mesmo (anteontem), estávamos pescando em Lençóis. Perdemos um excelente amigo e policial”, disse o soldado Cléber Fernando Sarria, que trabalhava com Carreira.
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Em Piracicaba
Halley Thiago Sossai trabalhava como policial na 1.ª Companhia do 10.º Batalhão da PM em Piracicaba. Com dois anos de corporação, atuava na área administrativa, no setor de cadastro e emissão de multas e documentação de veículos. Durante a semana, residia no batalhão e, aos finais de semana, vinha para Bauru, para a casa da família.
Segundo colegas de trabalho em Piracicaba, Sossai sempre demonstrou equilíbrio emocional e ser uma pessoa de bem. “Sempre foi um bom policial, trabalhador aplicado, aparentemente tranqüilo. Nunca se envolveu em briga”, disse o cabo Élsio Pompeu, companheiro de trabalho do policial no 10.º Batalhão.
Sobre o motivo que teria levado Sossai a cometer o crime, Pompeu preferiu não opinar. “Essa notícia foi uma surpresa para nós. Não dá para opinar. Nós nunca sabemos o que o policial está vivendo no emocional, na vida particular dele. Aqui, posso dizer que o Halley era exemplar, muito aplicado.”
De acordo com o cabo, o colega não demonstrou nenhuma variação de comportamento até a última quinta-feira, quando se viram pela última vez. “Ele estava normal, a única coisa que queria muito era ser transferido para Bauru. Mas esse é um dilema que todos os policiais vivenciam”, finalizou.
Na opinião do coronel Nilson Giraldi, bauruense criador do método de tiro defensivo, usado em todo o País, o crime envolvendo os dois policiais em Bauru, que culminou na morte de Luis Gustavo dos Santos Carreira, reflete uma situação em que a emoção está se sobrepondo à razão.
“Policiais imbecis que se matam hoje, matariam inocentes amanhã. Não têm estrutura para ser policial, nem equilíbrio necessário. A arma os deixou agindo pela emoção e não pela razão. Eles não têm estrutura emocional para portar uma arma de fogo”, conclui.
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Perguntas ainda sem respostas
1 – Houve ou não troca de tiros entre os policiais? Apenas Sossai atirou?
2 – Dos 7 projéteis encontrados no local, quantos eram da arma de Sossai?
3 – O que ocorreu para que a discussão entre os policiais tivesse início?
4 – Que fatores levaram Sossai a perseguir Carreira por quilômetros?
5 – Ele teria sido autorizado pela PM a perseguir o colega?
6 – Por que eles não se identificaram como policiais no início do desentendimento?
Eu sou prima do Luis Gustavo, e no dia 28/04/10 a sorte estará lançada. toda a familia espera que o assassino seja condenado e pague a pena em reclusão. Até hoje a morte dele é sentida por todos nós…
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Já se passaram 4 anos e o assassino ficou impune. Só tenho a dizer que vale a pena ser bandido no Brasil.
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