11/07/2008 – 12h05 – Atualizado em 11/07/2008 – 13h07
Polícia prende suspeitos de integrar nova máfia dos fiscais em SP
Justiça pediu a prisão de 13 pessoas envolvidas no esquema.
São fiscais ligados à subprefeitura da Mooca, camelôs e um advogado.
Do G1, com informações do SPTV
A máfia dos fiscais está de volta. Dez anos depois, fiscais corruptos voltam a agir no Centro de São Paulo. Eles cobram propina para permitir que camelôs ilegais trabalhem livremente. A Justiça pediu a prisão de 13 pessoas envolvidas no esquema. São fiscais ligados à subprefeitura da Mooca, camelôs e um advogado. As prisões acontecem na manhã desta sexta-feira (11). Até as 13h, 12 pessoas haviam sido detidas e uma estava foragida.
As denúncias foram feitas por camelôs ao Ministério Público (MP). Eles pagam semanalmente aos fiscais quantias que vão de R$ 20 a R$ 30. Em um mês, o total arrecadado ilegalmente chega a R$ 500 mil, segundo os promotores.
As prisões aconteceram depois de uma investigação que durou três meses. Durante esse tempo todo, os produtores do SPTV trabalharam junto com os camelôs no Brás e flagraram a ação dos fiscais corruptos. O recolhimento de propina acontece a céu aberto e é comandado pelos fiscais da subprefeitura.
Governo
Em nota, a Secretaria das Subprefeituras informou que “não recebeu nenhuma denúncia envolvendo funcionários da subprefeitura da Mooca” e que busca informações para que sejam tomadas as providências necessárias.
“De momento, informamos que, como tem sido hábito desde o primeiro dia desta gestão, qualquer denúncia será investigada com rigor para que os fatos sejam esclarecidos, e, se constatadas irregularidades, sejam tomadas as medidas cabíveis”, completa a nota.
Em entrevista ao SPTV, o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, disse que a Prefeitura apóia a operação policial. Ele afirmou que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, determinou a demissão dos envolvidos.
Esquema
Um vendedor ambulante apontado como um dos arrecadadores de propina dos camelôs do brás, na região central de são paulo. “Um vendedor de água pode dar de R$ 5 a R$ 10. Uma pessoa que vende tênis, camiseta de marca, esses negócios, ele dá numa faixa de R$ 30 a R$ 50 por semana”, revela um ambulante.
Um outro integrante apontado pelo MP como parte do esquema é um dos coordenadores do grupo que fiscaliza o comércio de rua. “Cada rua tem um ambulante que entrega pra ele. Se não pagar, passa a ser perseguido, correm atrás, tomam a mercadoria”, diz um camelô.
Observação
Por três meses, produtores da TV Globo começaram a trabalhar no Brás. Um deles se fez passar por ajudante de um camelô que tem licença para montar uma banca na região. Assim, foi possível observar como funciona o esquema entre ambulantes sem licença e fiscais corruptos da prefeitura de São Paulo.
Na banca, o produtor ajudou a vender meias de lã. Nesse ambiente, foi flagrado o recolhimento de dinheiro. Um dos camelôs, menor de idade, aparece com um saco plástico na mão. É a sacola da propina. Ele pede dinheiro aos camelôs para entregar ao fiscal. Alguns ambulantes se negam a pagar.
Na rua onde o ambulante é responsável pela arrecadação, os camelôs são mais receptivos. Eles colaboram. Imagens mostram o momento em que o ambulante se encontra com o fiscal que, de acordo com a investigação, recebe a propina. O encontro é em uma lotérica, no Brás, a poucos metros de onde o comércio ilegal prospera.
Ligações
A dupla foi flagrada falando ao telefone. O assunto: arrecadação e divisão de dinheiro.
Ambulante: “’Tô’ no banco e o dinheiro tá lá no box, lá. Aí deu 240 ‘paus’. 120 ‘pra’ cada um. “
Fiscal: “240? 120 pra cada um?”
Ambulante: “120 pra cada um.”
Fiscal: “Você é um cara que eu adoro.”
Com autorização da Justiça, a policia gravou outras conversas sobre dinheiro entre Edson e camelôs.
Fiscal: “Já colaboraram todo mundo?”
Camelô: “Aqui tem um que tá aqui de frente, sim, os outros não”.
Fiscal: “Vê se consegue agilizar pra hoje”
Proteção
As escutas demonstram que a propina compra informação e proteção. Numa conversa com o produtor que se finge de ambulante, Jorge, o arrecadador, confirma que os camelôs sabem quando vai haver blitz. O próprio fiscal Édson foi flagrado avisando os camelos sobre operações contra o comércio ilegal.
Camelô: “Minha mulher ligou e falou que a viatura ‘tava’ descendo aí a (rua) Maria Marcolina, é verdade?
Fiscal : “É a militar, meu. Não é a prefeitura, não, é a militar.”
Camelô: “Tá bom. Passa depois aqui pra gente tomar um café.”
Fiscal: “Nâo, deixa pra depois, amigo, agora tá ‘nublado’”.
No Brás, a propina também garante aos ambulantes o acesso às ruas principais. Aos sábados, depois do meio-dia, os ambulantes ilegais saem das vias secundárias para disputar os clientes com os lojistas nas ruas mais movimentadas. O próprio coordenador dos fiscais foi flagrado pedindo um lugarzinho. Era para um amigo dele, mais um ambulante ilegal no Brás.
Denúncias
As denúncias chegaram ao Ministério Público trazidas por camelôs. Como há dez anos, quando eles ajudaram a desmontar o maior esquema de corrupção já visto em São Paulo. A cidade estava loteada: vereadores indicavam subprefeitos. E os subprefeitos trabalhavam com fiscais que exigiam propinas para fazer ou deixar de fazer serviços públicos. Seiscentas pessoas foram denunciadas. Houve prisões e perdas de mandatos.
Um dos ambulantes entregou aos promotores uma lista, com data de 17 de abril do ano passado. Ao lado de cada um dos vinte e nove nomes de camelôs, está escrito: R$ 30.
Total: R$ 870. O título: dinheiro arrecadado da Rua Ministro Firmino ao chefe dos fiscais. “São vários, mas quem mais tá liderando neste momento é o Edson”, conta um ambulante.
Fiscais presos
Dois fiscais também prestaram depoimento à Promotoria. Eles foram presos em flagrante no Brás, acusados de corrupção, saíram da cadeia, e agora acusam os colegas. Segundo eles, os fiscais também cobram propina de donos de trailers e de carrinhos que vendem croissant e outros alimentos nas ruas do Brás.
Segundos os fiscais, ambulantes de uma feira conhecida como feirinha da madrugada, desembolsam entre R$ 30 e R$ 60 por semana em propina. Existe ainda, segundo eles, uma outra fonte de renda da fiscalização corrupta: são as empresas que pagam para fazer propaganda de lançamentos imobiliários.
Máfia
O esquema que ficou conhecido como “máfia dos fiscais” ocorreu, principalmente, durante a gestão de Celso Pitta na prefeitura da São Paulo. Um grupo de funcionários públicos das administrações regionais – atuais subprefeituras – supostamente cobrava propinas de vendedores ambulantes. A máfia agiu no Centro de São Paulo de 1993 a 1999. Vereadores foram apontados como supostos chefes do esquema.
Polícia prende suspeitos de integrar nova máfia dos fiscais em SP
Justiça pediu a prisão de 13 pessoas envolvidas no esquema.
São fiscais ligados à subprefeitura da Mooca, camelôs e um advogado.
Do G1, com informações do SPTV
A máfia dos fiscais está de volta. Dez anos depois, fiscais corruptos voltam a agir no Centro de São Paulo. Eles cobram propina para permitir que camelôs ilegais trabalhem livremente. A Justiça pediu a prisão de 13 pessoas envolvidas no esquema. São fiscais ligados à subprefeitura da Mooca, camelôs e um advogado. As prisões acontecem na manhã desta sexta-feira (11). Até as 13h, 12 pessoas haviam sido detidas e uma estava foragida.
As denúncias foram feitas por camelôs ao Ministério Público (MP). Eles pagam semanalmente aos fiscais quantias que vão de R$ 20 a R$ 30. Em um mês, o total arrecadado ilegalmente chega a R$ 500 mil, segundo os promotores.
As prisões aconteceram depois de uma investigação que durou três meses. Durante esse tempo todo, os produtores do SPTV trabalharam junto com os camelôs no Brás e flagraram a ação dos fiscais corruptos. O recolhimento de propina acontece a céu aberto e é comandado pelos fiscais da subprefeitura.
Governo
Em nota, a Secretaria das Subprefeituras informou que “não recebeu nenhuma denúncia envolvendo funcionários da subprefeitura da Mooca” e que busca informações para que sejam tomadas as providências necessárias.
“De momento, informamos que, como tem sido hábito desde o primeiro dia desta gestão, qualquer denúncia será investigada com rigor para que os fatos sejam esclarecidos, e, se constatadas irregularidades, sejam tomadas as medidas cabíveis”, completa a nota.
Em entrevista ao SPTV, o secretário das Subprefeituras, Andrea Matarazzo, disse que a Prefeitura apóia a operação policial. Ele afirmou que o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, determinou a demissão dos envolvidos.
Esquema
Um vendedor ambulante apontado como um dos arrecadadores de propina dos camelôs do brás, na região central de são paulo. “Um vendedor de água pode dar de R$ 5 a R$ 10. Uma pessoa que vende tênis, camiseta de marca, esses negócios, ele dá numa faixa de R$ 30 a R$ 50 por semana”, revela um ambulante.
Um outro integrante apontado pelo MP como parte do esquema é um dos coordenadores do grupo que fiscaliza o comércio de rua. “Cada rua tem um ambulante que entrega pra ele. Se não pagar, passa a ser perseguido, correm atrás, tomam a mercadoria”, diz um camelô.
Observação
Por três meses, produtores da TV Globo começaram a trabalhar no Brás. Um deles se fez passar por ajudante de um camelô que tem licença para montar uma banca na região. Assim, foi possível observar como funciona o esquema entre ambulantes sem licença e fiscais corruptos da prefeitura de São Paulo.
Na banca, o produtor ajudou a vender meias de lã. Nesse ambiente, foi flagrado o recolhimento de dinheiro. Um dos camelôs, menor de idade, aparece com um saco plástico na mão. É a sacola da propina. Ele pede dinheiro aos camelôs para entregar ao fiscal. Alguns ambulantes se negam a pagar.
Na rua onde o ambulante é responsável pela arrecadação, os camelôs são mais receptivos. Eles colaboram. Imagens mostram o momento em que o ambulante se encontra com o fiscal que, de acordo com a investigação, recebe a propina. O encontro é em uma lotérica, no Brás, a poucos metros de onde o comércio ilegal prospera.
Ligações
A dupla foi flagrada falando ao telefone. O assunto: arrecadação e divisão de dinheiro.
Ambulante: “’Tô’ no banco e o dinheiro tá lá no box, lá. Aí deu 240 ‘paus’. 120 ‘pra’ cada um. “
Fiscal: “240? 120 pra cada um?”
Ambulante: “120 pra cada um.”
Fiscal: “Você é um cara que eu adoro.”
Com autorização da Justiça, a policia gravou outras conversas sobre dinheiro entre Edson e camelôs.
Fiscal: “Já colaboraram todo mundo?”
Camelô: “Aqui tem um que tá aqui de frente, sim, os outros não”.
Fiscal: “Vê se consegue agilizar pra hoje”
Proteção
As escutas demonstram que a propina compra informação e proteção. Numa conversa com o produtor que se finge de ambulante, Jorge, o arrecadador, confirma que os camelôs sabem quando vai haver blitz. O próprio fiscal Édson foi flagrado avisando os camelos sobre operações contra o comércio ilegal.
Camelô: “Minha mulher ligou e falou que a viatura ‘tava’ descendo aí a (rua) Maria Marcolina, é verdade?
Fiscal : “É a militar, meu. Não é a prefeitura, não, é a militar.”
Camelô: “Tá bom. Passa depois aqui pra gente tomar um café.”
Fiscal: “Nâo, deixa pra depois, amigo, agora tá ‘nublado’”.
No Brás, a propina também garante aos ambulantes o acesso às ruas principais. Aos sábados, depois do meio-dia, os ambulantes ilegais saem das vias secundárias para disputar os clientes com os lojistas nas ruas mais movimentadas. O próprio coordenador dos fiscais foi flagrado pedindo um lugarzinho. Era para um amigo dele, mais um ambulante ilegal no Brás.
Denúncias
As denúncias chegaram ao Ministério Público trazidas por camelôs. Como há dez anos, quando eles ajudaram a desmontar o maior esquema de corrupção já visto em São Paulo. A cidade estava loteada: vereadores indicavam subprefeitos. E os subprefeitos trabalhavam com fiscais que exigiam propinas para fazer ou deixar de fazer serviços públicos. Seiscentas pessoas foram denunciadas. Houve prisões e perdas de mandatos.
Um dos ambulantes entregou aos promotores uma lista, com data de 17 de abril do ano passado. Ao lado de cada um dos vinte e nove nomes de camelôs, está escrito: R$ 30.
Total: R$ 870. O título: dinheiro arrecadado da Rua Ministro Firmino ao chefe dos fiscais. “São vários, mas quem mais tá liderando neste momento é o Edson”, conta um ambulante.
Fiscais presos
Dois fiscais também prestaram depoimento à Promotoria. Eles foram presos em flagrante no Brás, acusados de corrupção, saíram da cadeia, e agora acusam os colegas. Segundo eles, os fiscais também cobram propina de donos de trailers e de carrinhos que vendem croissant e outros alimentos nas ruas do Brás.
Segundos os fiscais, ambulantes de uma feira conhecida como feirinha da madrugada, desembolsam entre R$ 30 e R$ 60 por semana em propina. Existe ainda, segundo eles, uma outra fonte de renda da fiscalização corrupta: são as empresas que pagam para fazer propaganda de lançamentos imobiliários.
Máfia
O esquema que ficou conhecido como “máfia dos fiscais” ocorreu, principalmente, durante a gestão de Celso Pitta na prefeitura da São Paulo. Um grupo de funcionários públicos das administrações regionais – atuais subprefeituras – supostamente cobrava propinas de vendedores ambulantes. A máfia agiu no Centro de São Paulo de 1993 a 1999. Vereadores foram apontados como supostos chefes do esquema.