Policial cobrava R$ 2,5 mil por semana para liberar pirataria
Um acerto financeiro com camelôs para não apreender CDs e DVDs piratas foi a causa da prisão do investigador Nilson Ruela.A afirmação foi feita ao Comércio da Franca pelo Ministério Público. Segundo o apurado nas investigações do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado), o policial receberia, há dois anos, em torno de R$ 2,5 mil por semana para fazer “vistas grossas” ou avisar com antecedência sobre eventuais operações de combate à pirataria. O Gaerco e a Corregedoria da Polícia Civil apuram se ele agia sozinho ou se há mais envolvidos no esquema. Foi um dos vendedores – cuja identidade é mantida sob sigilo por questões de segurança – que procurou os promotores para denunciar a exigência da propina. Após receber as denúncias, o Gaerco passou a monitorar as conversas telefônicas do investigador. Descobriram que havia um responsável por arrecadar o dinheiro dos comerciantes e repassar ao acusado. O “grampo” revelou que Nilson e o intermediário se encontraram quarta-feira, às 19 horas, em um posto de combustíveis na Avenida Doutor Hélio Palermo para fazer o acerto. Policiais e promotores se infiltraram com carros descaracterizados em meio aos clientes e flagraram o momento em que o indivíduo entrou na picape Strada do investigador. “Toda a ação foi filmada, inclusive o momento do repasse do dinheiro”, afirmou um promotor do Gaerco. As imagens foram entregues à Corregedoria da Polícia Civil em Ribeirão Preto. Como havia muita gente no posto, não houve como fazer a abordagem no local. Ruela deixou o estabelecimento e foi perseguido, na seqüência, por viaturas da Polícia Militar, acionadas pelos promotores, por cerca de dez minutos. Foi detido na Avenida Alonso y Alonso. Durante buscas no interior da picape, foram apreendidos R$ 2,5 mil. “Os valores haviam sido arrecadados com camelôs e eram destinados ao agente público, a princípio, com a finalidade que fossem evitadas atividades policiais de apreensão de CDs e DVDs piratas. O segmento fornecia semanalmente a quantia. Acreditamos que seja mais ou menos um valor fixo”, disse o promotor, ainda sob anonimato. Como concentraram as atenções em deter o investigador, o Gaerco perdeu o pagador da propina de vista. Ele é procurado e também deverá ser indiciado. “O objetivo é saber se o elo final era este agente público ou se há outros envolvidos no esquema”, afirmou o representante do MP. Nilson Ruela foi preso em flagrante por corrupção e está recolhido no presídio especial da Polícia Civil em São Paulo. De acordo com a Promotoria, ele preferiu ficar calado durante o depoimento. Seus advogados de defesa informaram que não tiveram acesso ao processo e que não sabem do que ele é acusado. No mês passado, o investigador foi indicado para ser promovido de classe e estava perto de se aposentar. Foi policial militar por dez anos e está há outros 18 na Polícia Civil. Responderá a processo criminal e poderá, caso condenado, ser demitido. Marcos Limonti/Comércio da Franca INVESTIGADOR PRESO Gaerco detalha esquema para liberar pirataria Marcos Limonti/Comércio da Franca
PRISÃO QUESTIONADA – Ministério Público conta detalhes da operação e afirma que o flagrante foi legal Edson Arantes da Redação
A Corregedoria da Polícia Civil em Ribeirão Preto enviou, ontem, para o Ministério Público em Franca, o inquérito que apura o suposto crime de corrupção passiva por parte do investigador Nilson Ruela. Os promotores do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado) vão analisar as provas produzidas e têm cinco dias para formalizar a acusação no Fórum. O policial segue preso em São Paulo.
No início da noite de ontem, membros do Gaerco convocaram a imprensa e divulgaram detalhes das investigações que eram mantidos sob sigilo. A revelação veio à tona no mesmo momento em que os advogados de defesa do investigador começam a questionar a legalidade do flagrante ocorrido na quarta-feira, 11.
Segundo o divulgado pelo Gaerco, o esquema de cobrança de propina – para não fazer apreensões de CDs e DVDs piratas ou avisar com antecedência sobre eventuais operações de combate à pirataria – teria começado em novembro do ano passado. Cerca de 20 ambulantes da área central eram obrigados a pagar uma taxa semanal que variava de R$ 150 a R$ 250. “Começamos a investigar o caso em abril, quando recebemos denúncias dos vendedores que se sentiram indignados com esta recolha de valor destinado a este policial civil”, disse o promotor de Justiça, Cláudio Watanabe Scavassini.
Ainda de acordo com o Ministério Público, a ambulante Marlene Cândido Martiniano seria a responsável por recolher o dinheiro. Ela repassava o montante arrecadado, cerca de R$ 3,3 mil, para Eurípedes Esneider de Carvalho, o “Nei”. Este efetuava o pagamento ao investigador. “Fizemos várias diligências e filmagens que mostraram a Marlene recolhendo o dinheiro e entregando para o Nei. Ele foi abordado posteriormente. Durante depoimento diante de promotores e policiais civis e militares, nos confirmou toda esta dinâmica. Não houve qualquer tipo de coação”.
A Corregedoria da Polícia Civil e a Polícia Militar foram informadas da descoberta e ficaram aguardando Nei entregar o dinheiro para o investigador a fim de fazerem o flagrante. Normalmente, o pagamento ocorria às segundas-feiras, mas atrasou em dois dias. Na quarta-feira, os promotores filmaram Nilson recebendo o dinheiro e prenderam o policial após uma perseguição pelas ruas da cidade.
Nei sabia que a ação estava sendo monitorada e que o investigador seria preso. Para os integrantes do Gaerco, o fato não significa que a prisão tenha sido ilegal. “O recebimento do dinheiro por parte de qualquer agente público do valor solicitado ou exigido é uma mera finalização do fato. O crime se consuma com a própria solicitação ou exigência”.
Em seu despacho, o juiz da 1ª Vara Criminal, Luciano Franchi Lemes, entendeu que a prisão foi regular. A corregedora Luciana Mioto Marques relatou no inquérito que não há dúvidas da participação de Nei e Marlene na arrecadação do dinheiro destinado à corrupção por parte de “policiais civis”. A defesa do investigador foi procurada para falar sobre o caso, mas preferiu não se pronunciar.
Um acerto financeiro com camelôs para não apreender CDs e DVDs piratas foi a causa da prisão do investigador Nilson Ruela.A afirmação foi feita ao Comércio da Franca pelo Ministério Público. Segundo o apurado nas investigações do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado), o policial receberia, há dois anos, em torno de R$ 2,5 mil por semana para fazer “vistas grossas” ou avisar com antecedência sobre eventuais operações de combate à pirataria. O Gaerco e a Corregedoria da Polícia Civil apuram se ele agia sozinho ou se há mais envolvidos no esquema. Foi um dos vendedores – cuja identidade é mantida sob sigilo por questões de segurança – que procurou os promotores para denunciar a exigência da propina. Após receber as denúncias, o Gaerco passou a monitorar as conversas telefônicas do investigador. Descobriram que havia um responsável por arrecadar o dinheiro dos comerciantes e repassar ao acusado. O “grampo” revelou que Nilson e o intermediário se encontraram quarta-feira, às 19 horas, em um posto de combustíveis na Avenida Doutor Hélio Palermo para fazer o acerto. Policiais e promotores se infiltraram com carros descaracterizados em meio aos clientes e flagraram o momento em que o indivíduo entrou na picape Strada do investigador. “Toda a ação foi filmada, inclusive o momento do repasse do dinheiro”, afirmou um promotor do Gaerco. As imagens foram entregues à Corregedoria da Polícia Civil em Ribeirão Preto. Como havia muita gente no posto, não houve como fazer a abordagem no local. Ruela deixou o estabelecimento e foi perseguido, na seqüência, por viaturas da Polícia Militar, acionadas pelos promotores, por cerca de dez minutos. Foi detido na Avenida Alonso y Alonso. Durante buscas no interior da picape, foram apreendidos R$ 2,5 mil. “Os valores haviam sido arrecadados com camelôs e eram destinados ao agente público, a princípio, com a finalidade que fossem evitadas atividades policiais de apreensão de CDs e DVDs piratas. O segmento fornecia semanalmente a quantia. Acreditamos que seja mais ou menos um valor fixo”, disse o promotor, ainda sob anonimato. Como concentraram as atenções em deter o investigador, o Gaerco perdeu o pagador da propina de vista. Ele é procurado e também deverá ser indiciado. “O objetivo é saber se o elo final era este agente público ou se há outros envolvidos no esquema”, afirmou o representante do MP. Nilson Ruela foi preso em flagrante por corrupção e está recolhido no presídio especial da Polícia Civil em São Paulo. De acordo com a Promotoria, ele preferiu ficar calado durante o depoimento. Seus advogados de defesa informaram que não tiveram acesso ao processo e que não sabem do que ele é acusado. No mês passado, o investigador foi indicado para ser promovido de classe e estava perto de se aposentar. Foi policial militar por dez anos e está há outros 18 na Polícia Civil. Responderá a processo criminal e poderá, caso condenado, ser demitido. Marcos Limonti/Comércio da Franca INVESTIGADOR PRESO Gaerco detalha esquema para liberar pirataria Marcos Limonti/Comércio da Franca
PRISÃO QUESTIONADA – Ministério Público conta detalhes da operação e afirma que o flagrante foi legal Edson Arantes da Redação
A Corregedoria da Polícia Civil em Ribeirão Preto enviou, ontem, para o Ministério Público em Franca, o inquérito que apura o suposto crime de corrupção passiva por parte do investigador Nilson Ruela. Os promotores do Gaerco (Grupo de Atuação Especial Regional para a Prevenção e Repressão ao Crime Organizado) vão analisar as provas produzidas e têm cinco dias para formalizar a acusação no Fórum. O policial segue preso em São Paulo.
No início da noite de ontem, membros do Gaerco convocaram a imprensa e divulgaram detalhes das investigações que eram mantidos sob sigilo. A revelação veio à tona no mesmo momento em que os advogados de defesa do investigador começam a questionar a legalidade do flagrante ocorrido na quarta-feira, 11.
Segundo o divulgado pelo Gaerco, o esquema de cobrança de propina – para não fazer apreensões de CDs e DVDs piratas ou avisar com antecedência sobre eventuais operações de combate à pirataria – teria começado em novembro do ano passado. Cerca de 20 ambulantes da área central eram obrigados a pagar uma taxa semanal que variava de R$ 150 a R$ 250. “Começamos a investigar o caso em abril, quando recebemos denúncias dos vendedores que se sentiram indignados com esta recolha de valor destinado a este policial civil”, disse o promotor de Justiça, Cláudio Watanabe Scavassini.
Ainda de acordo com o Ministério Público, a ambulante Marlene Cândido Martiniano seria a responsável por recolher o dinheiro. Ela repassava o montante arrecadado, cerca de R$ 3,3 mil, para Eurípedes Esneider de Carvalho, o “Nei”. Este efetuava o pagamento ao investigador. “Fizemos várias diligências e filmagens que mostraram a Marlene recolhendo o dinheiro e entregando para o Nei. Ele foi abordado posteriormente. Durante depoimento diante de promotores e policiais civis e militares, nos confirmou toda esta dinâmica. Não houve qualquer tipo de coação”.
A Corregedoria da Polícia Civil e a Polícia Militar foram informadas da descoberta e ficaram aguardando Nei entregar o dinheiro para o investigador a fim de fazerem o flagrante. Normalmente, o pagamento ocorria às segundas-feiras, mas atrasou em dois dias. Na quarta-feira, os promotores filmaram Nilson recebendo o dinheiro e prenderam o policial após uma perseguição pelas ruas da cidade.
Nei sabia que a ação estava sendo monitorada e que o investigador seria preso. Para os integrantes do Gaerco, o fato não significa que a prisão tenha sido ilegal. “O recebimento do dinheiro por parte de qualquer agente público do valor solicitado ou exigido é uma mera finalização do fato. O crime se consuma com a própria solicitação ou exigência”.
Em seu despacho, o juiz da 1ª Vara Criminal, Luciano Franchi Lemes, entendeu que a prisão foi regular. A corregedora Luciana Mioto Marques relatou no inquérito que não há dúvidas da participação de Nei e Marlene na arrecadação do dinheiro destinado à corrupção por parte de “policiais civis”. A defesa do investigador foi procurada para falar sobre o caso, mas preferiu não se pronunciar.