EX-GOVERNADOR É LADRÃO; EX-DELEGADO GERAL É LADRÃO! A CORRUPÇÃO SEMPRE FOI PIRÂMIDE INVERTIDA 2

01.06.2008
Entrevista exclusiva
Um escândalo abalou esta semana a polícia do Rio: Uma investigação expôs o envolvimento de ex-integrantes da cúpula da polícia em crimes como lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada e contrabando.
O responsável pelas denúncias de corrupção na polícia é um delegado, um delegado que sabe que pode estar marcado para morrer. A reportagem é de Geneton Moraes Neto.
Delegado da Polícia Civil do Rio de Janeiro, este homem vive sob o fio da navalha desde que fez as primeiras denúncias sobre um grande esquema de corrupção envolvendo policiais e até o ex-chefe da Polícia Civil.
Depois de escapar de um atentado a bala, o delegado Alexandre Neto, que completa hoje 49 anos de idade, lança um alerta: policiais civis e federais envolvidos na investigação estão também correndo risco…
O Fantástico quer saber.
Geneton Moraes Neto: O senhor se considera hoje um homem marcado para morrer?
Alexandre Neto: “Não tenho medo da morte.Se eu tivesse medo da morte, não seria policial. Eu não era nem opara estar aqui dando esta entrevista a você. Mas, já que estou, vou continuar fazendo o que sempre quis e continuar lutando por meus ideais e pelos ideais dos meus colegas que pugnam por uma polícia melhor”.
GMN: Como é que o senhor conseguiu escapar de um atentado em que foram disparados oito tiros de fuzil ?
AN:”Agradeço muito a Deus por estar vivo. Eu estava dentro do carro. Tinha acabado de entrar. Quando ia enfiar a chave na ignição, vi um carro prata se aproximando. Ouvi o primeiro estampido. Eu me abaixei. Num ato reflexo, mantive a mão no volante. O tiro atravessou o volante. Perdi um dedo, na mão direita. Consegui me abrigar entre o volante e a porta. Isso fez com que eu me salvasse”.
GMN: Se amanhã o senhor sofrer um novo atentado, a quem o senhor responsabilizaria?
AN: “Eu me preocupo não só comigo mas com meus colegas que colaboraram com essas investigações, não só da Polícia Civil como da Polícia Federal.Não tenho raciocinar muito para chegar à conclusão de que os maiores interessados são os meus algozes, aqueles que sofreram e estão sofrendo prejuízo moral, ético e até disciplinar e criminal pelas denúncias que foram feitas. Citar nomes seria uma coisa repetitiva e desnecessária”.
GMN: O senhor diria, então, que, além dos policiais civis, os policiais federais também correm risco?
AN: “Com certeza! Chegou-se a uma quadrilha de nível governamental”.
GMN: Numa escala de zero a dez, qual é o grau de confiabilidade da polícia do Rio hoje?
AN: “Depende muito da sorte do contribuinte, do usuário. Se esse cidadão que precisou da polícia tiver sorte, a possibilidade de ele ser bem atendido é 100%. Se ele tiver azar, a chance é praticamente zero. Temos excelentes colegas e temos os colegas que aceitaram participar dessa organização montada pelo doutor Álvaro Lins, com o total apoio do então governador Anthony Garotinho, ele é que era o principal responsável, até porque foi secretário de segurança. Assim, tem de ser responsabilizado por tudo aquilo que aconteceu”.
GMN: Baseado em que o senhor diz que o verdadeiro crime organizado não está nas favelas, mas no poder público?
AN: “O crime organizado na favela é um crime organizado fácil de ser debelado. Quando ele se instala no Estado, é daí que ele se irradia para a sociedade”.
GMN: Neste esquema denunciado pelo senhor, os delegados recebiam dinheiro vivo, em mãos?
AN: “A forma mais segura de receber é dm dinheiro vivo. Isso é toma lá, dá cá”.
GMN: Qual o tamanho desse escândalo?
AN: “A gente não tem como medir essa escala de corrupção, nem o tamanho. Mas isso não vai se desfazer da noite para o dia. Falta descobrir muita coisa. Isso é só o início de uma investigação”.
GMN: Depois de sofrer o atentado, o senhor teria coragem de fazer novas denúncias hoje contra a polícia?
AN: “Não sou um denuncista. Eu me considero um delegado que quer ver uma polícia melhor, bem remunerada, com colegas ganhando bem, sem ter de precisar aderir a qualquer esquema de corrupção, que é montado de cima para baixo. Nunca é montado de baixo para cima. Ou seja: o chefe de polícia faz aquilo que o governador quer. Se o governador não quiser, não acontece”.