Caro Ruy :
Como eu nasci durante uma enchente no bairro Jockey Clube – não falo nasci no Jockey para não tirarem aquela de sempre – e depois morei uns 20 anos no Bitarú; não sei dizer qual foi a maior enchente na região. Foram centenas.
Acredito que foi num Natal.
Eu era criança; caiu um prédio que ficava perto da Ponte Pênsil, bem ao lado do posto da Polícia Rodoviária.
Na minha casa foram abrigadas umas quarenta pessoas durante os temporais que alagaram toda a região.
Lembro que foram abrigadas e saíram todos brigados; era uma parentela unida até o convívio de dias numa mesma casa.
Mas quanto ao assunto, também, tenho boas lembranças do Dr. Maneco, mas acho que a influência dele – e do irmão Zelo – não foi muito boa.
Ele tinha um apartamento em frente ao comércio do meu pai (anos depois esse pequeno apartamento foi comprado por nós), e eu sempre o via estacionando na porta da loja um cara estilo Clint Eastwood, mas com um Mustang igual ao do Steve Mcqueen, em Bullitt.
Eu não saia do Rosário , do Cinemar e do Petrópolis.
Eu entrava sem problemas, mas no Jangada tinha um Senhor que era terrível nas funções de porteiro.
Assim, por uma certa fantasia cinematográfica, quando eu soube que ele era Delegado de Polícia não tive mais dúvidas.
E a minha visão sempre foi de que o Delegado de Polícia era uma espécie de Juiz que trabalhava na Polícia.
Pois São Vicente – ainda era pequena – e qualquer coisa era vou “reclamar para o Delegado”.
E ser advogado que trabalhava na Polícia e andar de Mustang, na visão de um adolescente de 13 ou 14 anos, era um sonho.
Sim, advogado que trabalha na polícia.
Uma descrição “portenha” do equivalente ao Inspetor-Geral.
Acho que acabei caindo numa espécie de sonho do vigário; o vigário é o próprio sonhador.
Como você afirmou bons frutos eles deixaram em número suficiente, mas não lhes dão chances e oportunidade de trabalho.
Ruy o nosso tempo praticamente passou; aqui você dá anos da sua vida buscando o melhor para a Instituição e, apenas em um minuto, um parasita apadrinhado rouba-lhe a honra, os sonhos; quase tudo.
Se a administração fosse séria você, o Bergamine e outros, há muito teriam deixado o plantão.
Mas, como nossos velhos velhacos são duas caras mesmo, se promete a alguém e nomeia-se outrem.
E depois reclamam quando o subordinado se afasta em razão da decepção.
O Manecão tinha palavra e o Rosier tem palavra; mesmo que a franqueza possa magoar ela é preferível ao engano.
O resto não tem hombridade, salvo um ou outro.
Eu me decepcionei com quase todos os nossos ” modernos superiores”.
Devo muito ao Dr. Maneco; também sou devedor moral do Rosier.
E nunca esqueci do Dr. Roberto Vinhas, embora ele sempre “pagasse uma” quando eu por ele passava de “cinqüentinha” sem carta.
Também, do Dr. Alfeu Forte e do Dr. Galiazzi.
E destes últimos, lembro, por assistir Delegado pondo cobro a Injustiças.
Era bom ser jovem e puro.
Saúde pra você!
