O LEGADO DA LEALDADE AO PODER…INSTITUIÇÕES IMUNDAS

Nota oficial

Este é o comunicado oficial, na íntegra, do Comando do II Exército distribuído à imprensa no domingo, um dia após a morte do jornalista Vladimir Herzog.
O comando do II Exército lamenta informar o seguinte:
1) Em prosseguimento às diligências que se desenvolvem na área do II Exército, que revelam a estrutura e as atividades do Comitê Estadual do Partido Comunista, apareceu, citado por seus companheiros, o nome do sr. Vladimir Herzog, diretor-responsável de telejornalismo da Tv Cultura Canal 2, como militante e integrante de uma célula de base do citado partido.
2) Convidado a prestar esclarecimentos, apresentou-se, acompanhado por um colega de profissão, às nove horas do dia 25 do mês corrente, sendo tomadas por termo suas declarações.
3) Relutando, inicialmente, sobre suas ligações e atividades criminosas, foi acareado com os seus delatores, Rodolfo Oswald Konder e George Benigno Jatay Duque Estrada, que o aconselharam a dizer toda a verdade, pois assim já haviam procedido.
4) Nessas circunstâncias, admitiu o sr. Vladimir Herzog sua atividade dentro do PCB, sendo-lhe permitido redigir suas declarações do próprio punho.

5) Deixado após o almoço e por volta das 15 horas, em sala, desacompanhado, escreveu a seguinte declaração: “Eu, Vladimir Herzog, admito ser miltante do PCB desde 1971, ou 1972, tendo sido aliciado por Rodolfo Konder; comecei contribuindo com Cr$ 50,00 mensais quantia que chegou a Cr$ 100,00 em 1974 ou começo de 1975; meus contatos com o PCB eram feitos através de meus colegas Rodolfo Konder, Marco Antonio Rocha, Luís Weiss, Antonio de Brito, Miguel Urbano Rodrigues, Antonio Prado e Paulo Markun, enquanto trabalhava na revista Visão. Admito ter cedido minha residência para reuniões desde 1972; recebi o jornal Voz Operária uma vez pelo correio e duas ou três vezes da mão de Rodolfo Konder. Relutei em admitir neste órgão minha militância, mas, após acareações e diante das evidências, confessei todo o meu envolvimento e afirmo não estar interessado mais em participar de qualquer militância político-partidária”. Assinatura: ilegível.
6) Cerca das 16 horas, ao ser procurado na sala onde fora deixado, desacompanhado, foi encontrado morto enforcado, tendo para tanto utilizado uma tira de pano. O papel contendo suas declarações, foi achado rasgado, em pedaços, os quais, entretanto, puderam ser recompostos para os devidos fins legais.
7) Foi solicitada à Secretaria de Segurança a necessária perícia técnica, positivando os senhores peritos a ocorrência de suicídio.
8) As atitudes do sr. Vladimir Herzog, desde sua chegada ao órgão do II Exército, não faziam supor o gesto extremo por ele tomado.
9) As prisões até hoje efetuadas se enquadram, rigorosamente, dentro dos preceitos legais, não visando a atingir classes, mas tão somente salvaguardar a ordem constituída e a Segurança Nacional.

“QUANDO TENTARAM VOLTAR, JÁ ERA TARDE.

NINGUÉM SABIA MAIS ONDE TINHA CRUZADO A LINHA DA CORRUPÇÃO”.

(Millôr Fernandes, na Isto É, 14-3-84)

A nota oficial acima é outra modalidade de tortura praticada pela fonte última de poder, na ocasião, as Forças Armadas.

Tortura intelectual.

Verdadeiro atentado contra a inteligência de qualquer pessoa normal.

Daqueles que criaram a expressão “Democracia Relativa” para definir seu modelo político-militarizado, pelo qual todo o poder emanava das Forças Armadas para o bem do povo, não acreditem numa só palavra.

Tudo que foi tocado pelas mãos dos militares acabou corrompido…Tudo!

As Polícias são, ainda, os maiores exemplos.

Lamarca traiu o Exército.

As forças armadas traíram a humanidade.