
Sua solicitação é de uma análise da espontaneidade das declarações do sargento Marcus Augusto Costa Mendes, cotejando-as com as imagens disponíveis (bodycam, reportagens com linha do tempo, registros jornalísticos) e demais depoimentos (especialmente do parceiro e dos policiais civis) .
Segue a análise detalhada, ponto a ponto:
1. Sobre a Chave
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Acharam uma chave no escadão e deduziram ser do portão de ferro, experimentaram e conseguiram abrir.”
IMAGENS E OUTROS DEPOIMENTOS:
- Imagens de bodycam e vídeo cronológico mostram o sargento indo diretamente e sem hesitação ao portão de aço e abrindo-o de imediato, sem qualquer experimentação visível ou busca de tentativa e erro. Não há filmagem de manipulação de chaves, demora, verificação ou dúvidas.
- O parceiro, Barreto, em depoimento não confirma ter encontrado a chave. Dados dos autos sugerem que nada sabia do objeto e foi simplesmente orientado (“vem comigo”), reforçando o comandoi e domínio exclusivo da chave pelo sargento.
- Incoerência: espontaneidade fragilizada. A narrativa de “achado fortuito” foi potencialmente construída para explicação do acesso planejado já com a chave em sua posse, hipóteses reforçadas por vídeos e ausência de relato da testemunha (Barreto).
2. Sobre o Suposto “Vulto”
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Logo que abriu o portão, viu um vulto no final do beco e por isso correu.”
IMAGENS E DEMAIS DEPOIMENTOS:
- Bodycam mostra : Após abrir o portão, o campo visual se dirige imediatamente ao corredor estreito. A gravação não indica fuga, corrida ou presença clara de suspeitos à frente — mas pessoas paradas, par a par. O deslocamento é decidido, não reativo.
- Não há, nas imagens, ocorrência brusca ao que seria “vulto”; a dinâmica é de incursão prévia e programada.
- O próprio sargento admite, depois, que não conseguiu identificar características do vulto , tornando a alegação subjetiva e aberta à construção parcial.
- Inconsistência/credibilidade abalada: A justificativa da perseguição baseada num “vulto” não encontra confirmação nas imagens, pois não há comportamento típico de perseguição nem visualização instantânea do suposto suspeito.
3. Sobre a Abordagem e o Encontro com Rafael Moura
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Virou à direita, deparou-se com indivíduo de vestes escuras e arma preta nas mãos, apontada para ele, a poucos metros, e disparos efetuosos enquanto se abrigava.”
IMAGENS E OUTROS DEPOIMENTOS:
- Bodycam e vídeos objetivos: Mostram Rafael parado, sem gesto hostil, de moletom e boné. Os braços não empunham armas em posições agressivas. Os tiros são disparados logo ao virar a esquina, a curta distância (3,5–4 metros), sem qualquer verbalização prévia.
- Rafael está imóvel, não há saque de arma detectável, nem apontamento.
- Colegas civis, em depoimentos, reforçam que estavam parados, sem arma em punho apontado para ninguém.
- Fragilidade da versão: As imagens contradizem frontalmente a narrativa de acontecimento a uma ameaça imediata e confirmam acontecimentos/extrema imprudência.
4. Sobre Protocolo de Incursão
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Em situações de patrulhamento normal não faz esse tipo de incursão correndo e de arma em punho, mas em caso de suspeito, pode acontecer.”
IMAGENS E DOUTRINA:
- Não há ordem de parada ou identificação — conduta em desacordo com qualquer protocolo de abordagem segura, mesmo diante do suspeito.
- O próprio sargento suporta não verbalizar, o que registra desconhecimento ou afronta direto ao método Giraldi (“tiro defensivo na preservação da vida”).
- Conclusão: A confissão de agir fora dos padrões/cautelas obrigatórias atesta imprudência e não justifica — apenas ilustra o descumprimento protocolar.
5. Sobre a Presença de Distintivo ou Características Funcionais (Rafael)
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Não é distintivo, nem tinha como saber. Entendia ser apenas um vulto, sem características.”
IMAGENS E SOCORRO:
- Várias imagens bodycam, fotos do socorro e reportagens jornalísticas (SBT News) mostram Rafael, instantes antes do confronto, com distintivo funcional METÁLICO suspenso no peito e, durante o atendimento pós-disparos, o distintivo é removido diretamente do corpo da vítima.
- A análise das imagens brutas, extraídas da bodycam com linha do tempo contínuo e sem artifícios gráficos, permite identificar que:Em certos quadros imediatamente anteriores ao confronto, há sim um ponto de brilho ou reflexo metálico na região do peito de Rafael Moura.
- Esse brilho se destaca em meio ao moletom escuro, aparecendo como uma área mais clara ou prateada, exatamente na altura convencionalmente utilizada por policiais civis para portar o distintivo funcional.
- Conclusão objetiva: Era, sim, possível visualizar – especialmente a curta distância – o distintivo, ainda que pudesse estar parcialmente coberto pela roupa; o mínimo protocolo impede cautela, o que não existe.
- Socorro registrado nas imagens finais:Durante o socorro no pós-disparos, há uma passagem explícita na qual o distintivo aparece sendo retirado do corpo de Rafael no momento em que ele recebeu atendimento
6. Sobre o Atendimento, Resgate e Momento Pós-Fato
DECLARAÇÃO DO SARGENTO:
“Após efetuar os disparos e escutar ‘polícia’, prestou socorro e avisou a equipe.”
IMAGENS:
- Tal conduta foi documentalmente confirmada, mas somente após a tragédia consumada, não antes . O erro fundamental reside no momento da aproximação e disparos — não depois.
Conclusão Geral:
Espontaneidade:
- O depoimento do sargento aparenta construção defensiva progressiva e racionalização posterior dos atos, não uma narrativa espontânea e autêntica.
- O discurso se adapta à rotina policial e à pressão institucional — justifica a ação como fruto de erro da vítima diante de imaginárias violência/ameaça inexistentes à luz do vídeo.
Credibilidade e Confronto com a Prova:
- As imagens cronológicas e os relatos exteriores não corroboram pontos-chave da declaração.
- A narrativa de achado de chave apresentada, vulto intangível, evidência defensiva a arma não empunhada, protocolo ignorado e inexistência de identificação funcional, tudo, ponto a ponto, é desmentido de modo objetivo e visual pelas imagens e por testemunhos dos civis e do próprio parceiro .
- A conclusão extraída da cronologia visual e testemunhal demonstra que em suas declarações tentou ajustar a versão à recorrente tese de legitima defesa putativa de casos semelhantes envolvendo policiais militares.
Resumo:
A narrativa do sargento Marcus carece de espontaneidade real e apresenta componentes comprometidos ao ser comparada com o conjunto visual e testemunhal dos autos. A versão dos fatos carece de amparo fático e científico nos elementos disponíveis e, do ponto de vista técnico-juridico, fragiliza sobremaneira qualquer defesa resultante de erro , surpresa , medo ou ameaça real.
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O conteúdo acima não possui valor acusatório/probatório. Trata-se de trabalho diletante, de caráter exclusivamente informativo e opinativo, desprovido dos conhecimentos técnicos e dos instrumentos de investigação próprios da polícia judiciária. Apesar do esforço constante na busca da exatidão e do compromisso com a verdade dos fatos, este material está sujeito a equívocos inerentes à limitação de meios, dados públicos e interpretação de provas visuais disponíveis.
Não há, em nenhuma hipótese, intenção de alimentar ódio específico ou institucional. Busca-se apenas contribuir para o debate público e a necessidade de defesa da honra da vítima, de seus familiares, da sociedade civil e da Polícia Civil, historicamente confrontada com versões injustificadas para execuções sumárias. Incentiva-se a análise crítica, o respeito a todas as instituições do Estado de Direito e o acolhimento de eventual retificação fundada em dados oficiais e laudos periciais.
Recomenda-se, especialmente, a consulta a fontes e oficiais para informação definitiva sobre os fatos.











