Quebrou-se o mito: também abundam canalhas, ignaros e corruptos no Ministério Público 24

Quebrou-se o mito

A Constituição não confere poderes absolutos ao Ministério Público, mas, da forma como ele está organizado, sem hierarquia funcional, cada membro da instituição torna-se a própria instituição 

O Estado de S.Paulo

20 Setembro 2017 | 03h11

A Constituição de 1988 foi um valioso instrumento para consolidar a redemocratização do País, resgatando o respeito a importantes direitos e garantias fundamentais. Deve-se reconhecer, no entanto, que ela também trouxe alguns sérios problemas, que até hoje dificultam o desenvolvimento político, econômico e social da Nação. Várias reformas constitucionais foram feitas, mas os desequilíbrios ainda persistem e, em alguns casos, foram agravados. Basta ver, por exemplo, o tratamento dado pelo texto constitucional a supostos direitos, sem a necessária contrapartida e, pior, sem condicioná-los à existência de recursos. Um grave problema fiscal foi introduzido no próprio fundamento do Estado.

Outro sério problema institucional trazido pela Constituição de 1988 foi o tratamento dado ao Ministério Público, contemplado com uma autonomia que, a rigor, é incompatível com a ordem democrática. Num Estado Democrático de Direito não deve existir poder sem controle, interno e externo. Não há poder absoluto. Explicitamente, a Constituição de 1988 não confere poderes absolutos ao Ministério Público, mas, da forma como ele está organizado, sem hierarquia funcional, cada membro da instituição torna-se a própria instituição.

Ao longo dos anos, esse problema foi agravado por dois motivos. Em primeiro lugar, consolidou-se nos tribunais uma interpretação extensiva das competências do Ministério Público. Obedecendo a uma visão unilateral, que olhava apenas para os supostos benefícios de uma atuação “livre” do Ministério Público, permitiu-se que procuradores se imiscuíssem nos mais variados temas da administração pública, desde a data do vestibular de uma universidade pública até a velocidade das avenidas. Parecia que o Estado nada podia fazer sem uma prévia bênção do Ministério Público.

A segunda causa para o agravamento da distorção foi uma bem sucedida campanha de imagem do Ministério Público, que, ao longo dos anos, conseguiu vincular toda tentativa de reequilíbrio institucional à ideia de mordaça. Qualquer projeto de lei que pudesse afetar interesses corporativos do Ministério Público era tachado, desde seu nascedouro, de perverso conluio contra o interesse público. O resultado é que o País ficou sem possibilidade de reação.

Na prática, a aprovação no concurso público para o Ministério Público conferia a determinados cidadãos um poder não controlado e, por isso mesmo, irresponsável. Nessas condições, não é de assustar o surgimento, em alguns de seus membros, do sentimento de messianismo, como se o seu cargo lhes conferisse a incumbência de salvar a sociedade dos mais variados abusos, públicos e privados. Como elemento legitimador dessa cruzada, difundiu-se a ideia de que todos os poderes estavam corrompidos, exceto o Ministério Público, a quem competiria expurgar os males da sociedade brasileira.

Nos últimos três anos, esse quadro foi ainda reforçado pelos méritos da Lava Jato, como se as investigações em Curitiba conferissem infalibilidade aos procuradores e um atestado de corrupto a todos os políticos. Os bons resultados obtidos ali foram utilizados para agravar o desequilíbrio institucional.

Construiu-se, assim, a peculiar imagem de um Ministério Público inatingível, como se perfeito fosse. Basta ver, por exemplo, o escândalo produzido quando o Congresso não acolheu suas sugestões para o combate à corrupção. A reação dos autores do projeto foi radical: ou os parlamentares aceitavam todas as vírgulas – com seus muitos excessos – ou seriam comparsas da impunidade.

Pois bem, esse monopólio da virtude veio abaixo nos últimos meses de Rodrigo Janot à frente da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ações radicais e destemperadas deixaram explícita a necessidade de que todos, absolutamente todos, estejam sob o domínio da lei, com os consequentes controles. Poder sem controle não é liberdade, como alguns queriam vender, e sim arbítrio.

Na crise da PGR envolvendo a delação de Joesley Batista há uma incrível oportunidade de aprendizado e de reequilíbrio institucional. Com impressionante nitidez, os eventos mostram que também os procuradores erram.

Estupidez e hediondez – Polícia Civil de São Vicente prende PM que emboscou e matou amante da companheira 38

PM é preso por morte de estudante; motivo do crime foi passional

Matheus Garcia Vasconcelos Alves foi morto com um tiro na nuca na noite de segunda-feira, em SV

DE A TRIBUNA ON-LINE @atribunasantos
EDUARDO VELOZO FUCCIA
19/09/2017 – 16:50 – Atualizado em 19/09/2017 – 19:42
Jarbas (foto) confessou informalmente o crime
na tarde desta terça-feira (foto: Reprodução)

A execução do universitário Matheus Garcia Vasconcelos Alves, de 24 anos, está esclarecida. Policiais da Delegacia de São Vicente prenderam, nesta terça-feira (19), o soldado Jarbas Colferai Neto, de 23 anos, que confessou informalmente o crime. A motivação do homicídio foi passional. Ele tinha ciúme de sua companheira e desconfiava que ela mantivesse um envolvimento amoroso com o estudante.

A Tribuna, com exclusividade, apurou os últimos diálogos entre a vítima e a suposta jovem por meio do aplicativo Messenger do Facebook.

O PM se passou pela jovem e o atraiu até a Rua Nicolau Guirão Pérez, Parque Bitaru. O jovem chegou ao local, por volta das 21h30 de segunda-feira (18),  em um carro do Uber imaginando que se encontraria com a moça, mas quem o aguardava armado com um revólver calibre 32 era Jarbas, o policial.

Ele exigiu a entrega do celular e mandou que o rapaz virasse de costas para a parede de uma casa, executando-o sumariamente com um tiro na nuca.

Em seguida, o policial fugiu a pé e abandonou o celular da vítima em uma rua. O aparelho ainda não foi encontrado.

Amigos e parentes se despedem do jovem na Memorial Necrópole Ecumênica (foto: Alberto Marques/AT)

A morte do estudante provocou grande comoção entre parentes e amigos. O velório começou por volta das 15 horas e centenas de pessoas estão na Memorial Necrópole Ecumênica, em Santos, para se despedir do estudante. O sepultamento ocorreu por volta das 19 horas.

Matheus era aluno da Universidade Santa Cecília, em Santos, e estava no último ano do curso de Publicidade e Propaganda. Morador de Santos, o rapaz também era atleta e chegou a defender a Seleção Brasileira de Hóquei em patins no Campeonato Mundial de 2015.

Jovem foi atraído até uma rua no Parque
Bitaru, em SV (Foto: Reprodução/Facebook)

No Facebook

No post publicado na página de A Tribunano Facebook, centenas de comentários eram em tom de lamentação.

“Ele trabalhou comigo, muito triste, rapaz de ouro. Jogador de hóquei, estudante… Não dá pra acreditar numa coisas dessas. Meus sentimentos a toda família”, disse Igor Meneses.

Vinicius Pablos postou que “sempre é triste ver alguém da mesma idade partindo tão cedo e de forma tão banal.. Mesmo não sendo próximo, fico numa bad. força para os familiares e amigos”.

Eli Lobo afirma que não tem mais hora ou lugar para que os casos de violência ocorram. “Que Deus conforte a família desse rapaz. Uma vida inteira pela frente, interrompida por algo que, infelizmente, virou rotina nas páginas de jornais. Até quando?”, se questiona.

Outro comentário, desta vez de Guilherme Alonso, reforça que a vítima era amada por muitos. “Tive o prazer de jogar hóquei com o Matheus e posso dizer com certeza que sempre foi uma pessoa do bem . (…) Vou levar as coisas boas que esse cara me presenteou durante nosso contato”.