Vamos resolver na delegacia! 120

Blog Fausto Macedo – Estadão

Redação

14 julho 2015 | 03:00

Marilda Pansonato Pinheiro. Foto: Divulgação

*Por Marilda Pansonato Pinheiro

A figura do delegado de polícia é rodeada de mitos e senso comum. Do xerife do bairro até uma autoridade distante, as pessoas enchem a imaginação quando pensam nas delegacias e no dia a dia desses profissionais. A verdade está no nome. A polícia é civil porque a sociedade é civil. Ou seja, o delegado está mais próximo do cidadão comum do que ele mesmo imagina.

Essa proximidade e esse entendimento dos problemas sociais fundamentaram a criação dos Núcleos Especiais Criminais, os Necrims. O nome é complexo, mas nada mais é do que um serviço prestado diretamente à população. Com mediação de um delegado de polícia, crimes de pequeno potencial ofensivo são resolvidos diretamente com as partes envolvidas.

Uma briga de vizinhos ou um acidente de trânsito são bons exemplos de casos que podem demandar meses enquanto esperam uma posição judicial, igualmente iniciada pela tentativa de conciliação. Sabemos que os fóruns hoje estão abarrotados de processos de todos os tipos. O Necrim existe para que o problema seja resolvido de forma mais célere, conforme prevê a Lei 90999/99, que criou o procedimento. O acordo entre as partes, promovido por um delegado conciliador, estanca mais uma ação penal e, acima de tudo, assegura justiça rápida, eficaz e sem reincidência.

O gabarito profissional é garantido: o delegado de polícia é dirigente da Polícia Judiciária, composta por integrantes das carreiras jurídicas. Ele detém técnica e conhecimentos jurídicos capazes de entregar a cada um o que é seu, trazendo de volta a paz social, rompida pelo conflito de interesses. Ademais, o delegado de polícia é integrante da sociedade, portanto, apto a atuar em seu benefício de forma objetiva e direta.

O perfil do delegado que integra uma unidade do Necrim é necessariamente conciliador. Para isso, além da aptidão pessoal, há o preparo técnico e jurídico que lhe empresta requisitos objetivos que o tornam diferenciado para a resolução dessas demandas – que se iniciam de forma corriqueira, mas podem evoluir para crimes mais graves por conta da eventual sensação de injustiça.

A resposta rápida promove o reequilíbrio social, desestimula a contenda, além de garantir acesso rápido à Justiça sem onerar os cofres públicos, uma vez que os delegados acumulam suas funções, agendando previamente as audiências sem prejuízo para o trabalho policial e investigativo. Portanto, o trabalho da Polícia Civil como órgão restaurador e estrutural da sociedade deve ser reconhecido e estimulado em todas as esferas do Poder Judiciário.

Um novo horizonte na luta por carreiras mais valorizadas e reconhecidas, marcado pela pronta resposta na prestação de bons serviços e no atendimento aos anseios da população, se desenha com o Necrim, presente em 36 cidades do interior de São Paulo e com mais de 90% de conciliações realizadas.

Do lado de cá, esse trabalho nos aproxima ainda mais das pessoas e das comunidades, desmistificando o encastelamento e pavimentando a estrada de um novo olhar para as delegacias e delegados, derrubando os muros de um distanciamento que não nos define. Galga espaços e faz valer nosso papel como conciliadores e garantidores da Justiça. Do outro lado, a sociedade fica amparada na defesa de seus interesses por meio de prestação de serviço público de qualidade pelo qual clama e ao qual tem direito.

O Necrim nasceu para ficar. Veio do interior de São Paulo e continua avançando por todo o Estado, graças a um delegado que um dia ousou sonhar e nos inspirou, transformando o sonho em realidade.

Hoje, a ideia está plantando sementes em outros Estados, ainda que haja muito a conquistar por aqui. A cidade de São Paulo, a região metropolitana e muitas das cidades do interior precisam e merecem igual tratamento. Basta que os homens que conduzem os rumos da sociedade e fazem parte dos poderes constituídos também ousem sonhar.

*Marilda Pansonato Pinheiro é Presidente da Associação dos Delegados de Polícia do Estado de São Paulo e a primeira mulher a ocupar o cargo

INICIATIVA EXEMPLAR – PMs cobram indenização do Palmeiras por agressões de torcedores organizados 30

Pedro Lopes – UOL

14/07/201506h00

Uma confusão ocorrida em 2012, em Araraquara, pode custar à principal torcida organizada da do Palmeiras e até ao próprio clube mais de R$ 700 mil: cinco policiais militares ingressaram com ação na Justiça cobrando indenização por agressões de membros da Mancha Alviverde.

O incidente aconteceu em uma partida entre Palmeiras e Botafogo na Fonte Luminosa, pelo Brasileirão 2012. Na ocasião, o alviverde vivia situação dramática e lutava contra o rebaixamento; exaltados, torcedores tentaram invadir o gramado e precisaram ser contidos pela polícia.

Os autores da ação não terão os nomes revelados pela reportagem – o processo corre em segredo de justiça. Na confusão, um deles afirma que teve uma fratura na costela, e todos sofreram ferimentos na cabeça. Segundo o relato, as cenas aterrorizaram crianças e famílias presentes no local e deixaram os próprios policiais com receio de trabalhar em outras partidas de futebol.

Depois do incidente, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva puniu o Palmeiras com perda de mando de quatro jogos e multa. O alviverde, inclusive, tinha realizado uma promoção com ingressos mais baratos, tentando convocar a torcida para apoiar o time na luta contra o rebaixamento.

Dois anos depois, em dezembro de 2014, cinco dos policiais agredidos decidiram entrar com ação, que cobra da Mancha Alviverde, do Palmeiras e da Federação Paulista uma indenização de R$ 724 mil pelos danos físicos e morais causados pela confusão. O clube é réu por ser o mandante do jogo; a federação por  ter permitido que ele ocorresse na Fonte Luminosa, que, segundo os PMs, não tinha condições suficientes para receber a partida.

Os policiais ainda afirmam que as imagens divulgadas na mídia deles sofrendo as agressões feriram sua imagem, sua honra e trouxe sequelas para as suas famílias.

A ação foi distribuída recentemente e organizada, Palmeiras e Federação Paulista ainda não apresentaram suas defesas. O processo corre na 1ª Vara da Fazenda Pública de Araraquara, no interior de São Paulo.

Reprodução/CBF

Súmula relata agressão de torcedores do Palmeiras em 2012

E as fraudes em licitações dos coronéis do Kassab ? 29

Fraudes em licitações da PM usavam até a assinatura de motorista

REYNALDO TUROLLO JR.
ROGÉRIO PAGNAN
DE SÃO PAULO

14/07/2015 02h00

O esquema de fraudes em licitações no Comando-Geral da Polícia Militar de São Paulo, com desvios que envolveram ao menos R$ 10 milhões, segundo apuração inicial da própria polícia, utilizou até assinaturas de um motorista.

Foi o próprio motorista, o soldado Gerri Dener Zeferino, que informou aos superiores ter participado, em “duas ou três oportunidades”, da formalização de contratos que ele não sabia o que eram.

Zeferino foi ouvido em sindicância que apurou irregularidades no departamento de compras do Comando-Geral em 2009 e 2010.

No depoimento, o soldado disse que seu nome constava da lista de policiais que atuavam no departamento de compras porque, à época, era motorista do tenente-coronel Kooki Taguti, o chefe do setor.

Como ficava no quartel à espera de ordens, afirmou, ele era chamado algumas vezes para assinar papéis dos quais desconhecia o teor.

A sindicância da PM não apontou quais foram as licitações assinadas pelo motorista nem o montante envolvido.

Na documentação da sindicância, entretanto, não há nenhum registro de que Zeferino tenha sido questionado sobre quem pediu a ele que assinasse tais papéis.

Procurado pela Folha, o soldado não quis comentar o caso (leia texto nesta página).

Como a Folha revelou em junho, uma apuração da própria PM confirmou um esquema de fraudes em licitações da cúpula da corporação, que envolviam de papel higiênico e peças de carro até obras e serviços no quartel. Os pagamentos eram feitos sem a comprovação de entrega.

O então responsável pelos contratos do setor, o tenente-coronel José Afonso Adriano Filho, admitiu parte das fraudes e afirmou que tinha autorização de seus superiores.

Disse ainda que o dinheiro desviado era utilizado para quitar dívidas da própria PM.

A sindicância concentrou-se em 2009 e 2010, mas, como mostraram as reportagens, as mesmas empresas de fachada venceram licitações desde 2005, envolvendo mais de
R$ 21,5 milhões. O governo, então, determinou a reabertura das investigações, ampliando o período em análise.

‘PARA REGULARIZAR’

Outros oficiais do departamento de compras do Comando-Geral disseram, na sindicância, que parte dos processos licitatórios vinha pronta do setor chefiado por Adriano Filho. Assim, esses oficiais apenas assinavam os papéis.

Um deles, o capitão Gilberto Monteiro Freire, disse que, nas vésperas de auditorias, “os oficiais eram chamados para assinarem documentações em licitações que estavam tramitando, […] sem a devida documentação de origem, […] tudo para se regularizar os processos”.

Freire disse ainda que não havia uma comissão para receber os produtos –como é comum no serviço público– e que, em alguns casos, até soldados temporários eram usados para atestar o recebimento. Soldados temporários são jovens contratados por tempo determinado para funções administrativas.

OUTRO LADO

A Secretaria da Segurança Pública de São Paulo informou em nota que foi instaurado um IPM (Inquérito Policial Militar), por determinação do secretário Alexandre de Moraes, para apurar mais detalhadamente o esquema de fraudes em compras.

A nova apuração terá como foco “todos os fatos relacionados às contratações que não foram objeto da sindicância realizada pela PM.”

O IPM é presidido pelo coronel Levi Anastácio Felix, corregedor da Polícia Militar.

Ainda segundo a secretaria, todos os indícios de irregularidade foram encaminhados para outros órgãos, como Ministério Público e Tribunal de Contas do Estado.

“Este mesmo material fará parte da instrução de processo no Conselho de Justificação da Polícia Militar, que definirá se o tenente-coronel [Adriano Filho, já aposentado] perderá a patente”, diz a nota. A perda de patente leva à perda dos benefícios.

O motorista Gerri Dener Zeferino não quis comentar o assunto. “Eu não lembro e não posso falar sobre isso”, disse.

A reportagem não conseguiu localizar o tenente-coronel Kooki Taguti, chefe de Zeferino à época, nos telefones registrados em seu nome.

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A fraude
Dinheiro destinado à aquisição de produtos –muitos não eram entregues– e à contratações de serviço para o Comando-Geral da PM era desviado por meio de licitações fraudulentas

Período
Entre 2009 e 2010, no mínimo, mas operador do esquema atuava no departamento desde 2000

Comando-geral
Formado pelo comandante-geral (indicado pelo governador), subcomandante e oficiais do Estado-Maior; fica na região da Luz (centro de SP)

O operador
Tenente-coronel José Afonso Adriano Filho é apontado como operador. Ele era o responsável pelas finanças do Departamento de Suporte Administrativo do Comando-Geral

O que ele diz
Confirma parte doesquema, mas alega que o dinheiro era desviado para pagar dívidas da própria PM R$ 10 milhões é o montante envolvido nas licitações irregulares; não se sabe o destino exato do dinheiro.

Transcrito da Folha de São Paulo ; nos termos do artigo 46 da Lei nº 9.610, de 19 de Fevereiro de 1998.