Indiciamentos de manifestantes são frágeis e ameaçam direito de protestar, diz Defensora Pública de São Paulo 19

“O estado é mas cego do que eu” diz fotógrafo que perdeu o olho em protesto.
Postada em: 06/12/2013 ás 10:04:34Link:
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A defensora Daniela Skromov, coordenadora do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública de São Paulo, afirmou que os indiciamentos de 116 manifestantes que participaram protestos na capital paulista desde junho são, em geral, frágeis e colocam o risco o direito de manifestação da população.

Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, os 116 manifestantes indiciados representam um terço do total de detenções realizadas durante protestos em São Paulo nos últimos seis meses. Em 76% dos casos, as testemunhas são policiais (militares e civis) ou guardas municipais.

“O indiciamento é uma consequência natural do flagrante. E normalmente nos flagrantes têm-se apenas a palavra dos policiais como testemunhas. É a praxe, inadequada, dos flagrantes, que os tornam frágeis. No caso de prisões em protestos, não dá para sustentar a tese de que só tinha policial como testemunha. É da essência da manifestação que inúmeras pessoas estejam nas ruas”, disse Daniela em entrevista ao UOL.

Até agora o Ministério Público de São Paulo denunciou dois manifestantes, acusados de terem agredido o policial militar Vanderlei Paulo Vignoli, 42, no dia 11 de junho, no centro da capital. A Promotoria não soube informar quantos inquéritos com indiciamentos recebeu desde junho.

Para a defensora, quando um policial testemunha, existe a tendência de querer legitimar a conduta do agente de segurança. “É natural que isso aconteça, caso contrário eles estariam assumindo abuso de autoridade”.

Para o advogado criminalista Adan Daré, o MP deverá investigar se houve alguma “contaminação” nos indiciamentos pelo fato de as testemunhas serem policiais. “Eu acredito que não há problema com o fato dos policiais serem testemunhas. O que importa é a qualidade do depoimento oferecido por eles. Muitas provas terão que ser colhidas novamente durante o processo.”

O fotógrafo Sérgio Silva, 32, perdeu o olho esquerdo ao ser alvejado por um policial militar enquanto cobria os protestos contra o aumento da tarifa em São Paulo, quase seis meses atrás, no dia 13 de junho. Sem conseguir trabalhar, contou com a ajuda de familiares e amigos para pagar as contas –-só o atendimento no hospital custou R$ 3.200. Questionado sobre uma possível ajuda do governo, Silva é categórico: “Nenhuma”.​

“Acusação genérica”

Daniela avalia que, além da fragilidade, em grande parte das detenções não há individualização da conduta dos detidos. “O crime de dano ao patrimônio é difícil de individualizar. Então se faz uma acusação genérica, o que não é permitido, em vez de apurar, buscar elementos para provar que a pessoa é autora daquele delito.”

Ela diz acreditar que o indiciamento em massa de manifestantes provoca um efeito deletério na população. “As pessoas passam a pensar que manifestação não é um direito, que se está sujeito a uma prisão. O recado que se passa é que manifestar-se é sinônimo de perigo, porque você fica sujeito a uma prisão ilegal.”

Outro problema apontado por Daniela está no registro de ocorrências contra abusos praticados por policiais. “As vítimas de agressão são impedidas de registrar boletim de ocorrência logo após o acontecimento. Não há como fazer registro de agressões com PMs. Só vão conseguir lavrar no dia seguinte.”

As dificuldades em registrar as agressões, afirma a defensora pública, têm como consequência o baixo número de processos abertos contra policiais que cometeram abusos. “Aqui em São Paulo, por exemplo, duas pessoas ficaram cegas. Algum policial foi atuado pela Polícia Civil? Não.”

PMs investigados

A assessoria de imprensa da Polícia Militar informou que a Corregedoria da PM abriu dois IPMs (Inquéritos Policiais Militares) para investigar denúncias contra policiais militares nos protestos. Os dois inquéritos, segundo a PM, foram prorrogados “para continuidade das diligências” e são acompanhados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP) e pelo MP.

Questionada pela reportagem, a assessoria da PM não informou quantos policiais estão sendo investigados, nem se houve afastamentos. A assessoria invocou o artigo 16 do Código de Processo Penal Militar, que garante o sigilo do inquérito.

Formatura celebra conclusão de doutorado de 30 delegados e 51 oficiais 44

Formatura celebra conclusão de doutorado de 81 policiais civis e militares

Curso estimulou ações conjuntas entre as corporações e capacitou os profissionais a exercerem funções estratégicas e de planejamento

A segurança pública do Estado de São Paulo recebeu um importante reforço nesta sexta-feira, 6. Trinta delegados da 1ª classe da Polícia Civil e 51 oficiais da Polícia Militar se tornaram doutores em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública. “Nós estamos aqui para reconhecer o sacrifício pessoal, a dedicação, o empenho. Estamos aqui para agradecer este trabalho em benefício do coletivo, de gente que a gente nem sabe o nome, mas que luta e coloca sua vida para nos defender”, ressaltou o governador Geraldo Alckmin durante a cerimônia da formatura.

Durante oito meses, o Curso Superior de Polícia Integrado (CSPI) estimulou ações conjuntas entre as polícias e capacitou os alunos para funções no alto escalão das corporações, como comando, direção e assessoria. Além disto, a formação também promoveu linhas de pesquisa que permitem diagnósticos, formulações e propostas práticas para a área de segurança pública.

 
“Estamos aqui para reconhecer o sacrifício pessoal, a dedicação, o empenho”, destacou Alckmin 

Os policiais, que agora podem alcançar postos mais altos em suas respectivas carreiras, tiveram aulas em disciplinas como Direitos Humanos, Tecnologia e Informação em Segurança Pública, Gestão Estratégica, Ciências Policiais, Administração Superior de Polícia Ostensiva, entre outras.

Com início em abril deste ano, o curso recebeu a inscrição de 60 delegados para as 30 vagas, e de 900 policiais militares para a seleção de 51. Para ingressar na formação, os delegados passaram por uma prova escrita, além da apresentação de títulos. Já os policiais militares tiveram provas dissertativa e oral e elaboraram um projeto de pesquisa.

“Este ato representa motivo de comemoração, de alegria e de reconhecimento para todos nós. É algo conquistado pelo mérito dos policiais que disputaram as vagas, passaram oito meses recebendo aulas e ensinamentos das academias, pesquisando e estudando até a elaboração de suas teses”, destacou o secretário da Segurança Pública, Fernando Grella Vieira.”

Do Portal do Governo do Estado

CSP