VOLTAS QUE A VIDA DÁ: Inquérito sobre tentativa de homicídio contra ex-prefeito Clermont Castor retorna para as mãos de delegado apontado como suspeito de participação no crime e interessado em ocultar receptação e adulteração de cadastro no sistema de trânsito 28

ATENTADO
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Clermont Castor (PL) não corre risco de morte
Prefeito de Cubatão leva dois tiros; polícia não tem pistas de atirador

DA AGÊNCIA FOLHA, EM SANTOS  03 de julho de 2001
O prefeito de Cubatão (SP),  Clermont Silveira Castor (PL), levou pelo menos dois tiros em um  atentado na noite de ontem,  quando ía da prefeitura para casa. Às 20h30, um Corsa Sedan preto emparelhou com o carro oficial  em que o prefeito estava com seu  motorista, na avenida Tancredo  Neves (bairro Vila São José). Do interior do Corsa, um homem efetuou disparos contra o  carro do prefeito, que recebeu um  tiro na mandíbula e outro no rosto. Ele teria sido atingido ainda  por um terceiro tiro, não confirmado pela polícia. Castor foi levado de ambulância  para a Santa Casa de Santos, onde  estava sendo submetido a uma tomografia computadorizada às  22h. Segundo os médicos, ele não  corria risco de morte. Até a noite de ontem, a polícia  não tinha pistas do Corsa nem  dos autores do atentado, que fugiram. Também não se sabia qual  teria sido a motivação do crime. A principal testemunha, o motorista do carro oficial, estava sendo preservada pela polícia, que  iria interrogá-lo. O veículo foi levado para a delegacia-sede de Cubatão e seria submetido à perícia. A administração de Castor enfrenta uma crise interna devido às  divergências entre os secretários  dos vários partidos que integram  a administração. O prefeito cogita  substituir alguns auxiliares e até  mesmo deixar o PL. Médico, foi eleito no ano passado, quando disputou sua quarta  eleição consecutiva para prefeito  -foi derrotado nas três primeiras. Sua vitória interrompeu um  ciclo de 15 anos em que Nei Serra  (PTB) e José Osvaldo Passarelli  (PFL) se alternaram no poder.

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A tentativa de homicídio – entre diversos pretextos que iriam desde ordem passional até políticos – supostamente teria como principal motivação o fato de o prefeito ter comprado um motor diesel e efetuado a transformação das características de sua camioneta gasolina a cargo do então delegado de trânsito de Cubatão: Vanderlei Mange.

Quando a falcatrua – O MOTOR ERA ROUBADO – ganhou publicidade o prefeito teria tomado satisfações e exigido seu motor original e restituição do dinheiro.

Dias depois sofreu o atentado.

Logo na fase inicial do inquérito o delegado de trânsito – que também tinha se encarregado da presidência das investigações – foi reputado suspeito do crime por chefiar uma quadrilha instalada naquela CIRETRAN.

Foi denunciado em dezembro de 2001 e teve a prisão preventiva requerida pelo MP .

Processo vai, processo vem; um acerto aqui, um pedido acolá, tudo acabou em PIZZA!

Mange, em razão de suas ligações políticas, com pouco mais de dois anos como Delegado, foi nomeado diretor da CIRETRAN de Cubatão; permanecendo sete anos como dirigente daquele órgão – apesar das reiteradas acusações de corrupção no quadro funcional.

Hoje – além de continuar fazendo política   – é um dedicado pregador e defensor das igrejas evangélicas.

Será que a defesa que faz dessas igrejas é tão pura quanto a defesa que sempre fez  do DETRAN?

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Jornal A Tribuna

Quinta-feira, 29 de novembro de 2001 – 6h48

Diretor da Ciretran é denunciado

O promotor de Justiça de Cubatão, Pablo Perez Greco, disse ontem que o Ministério Público já formalizou a denúncia contra o diretor da 159ª Ciretran de Cubatão, Wanderley Mange de Oliveira.
‘‘Ele talvez ainda não tenha sido notificado. Mas isso deverá ocorrer nos próximos dias’’, disse.Mange é suspeito de participar de um esquema de cobrança de propina de perueiros clandestinos, em Cubatão.
Ontem, também, o comando da Polícia Civil da Baixada Santista anunciou que Wanderlei Mange de Oliveira será transferido para ocupar a função de delegado plantonista em Guarujá. O seu cargo na 159ª Ciretran será ocupado pelo delegado Roberto Conde Guerra, que estava no 3º Distrito Policial de São Vicente.

De acordo com a Polícia Civil, a mudança não tem relação com as denúncias feitas na terça-feira, pela Promotoria Pública de Cubatão. As transferências já estavam programadas com antecedência.

Segundo o promotor Pablo Perez Greco, a 4ª Vara Criminal de Cubatão é que vai se encarregar de acompanhar a ação penal envolvendo Daniel Gualberto Chaib e Wanderley Mange de Oliveira. ‘‘Pelo que sei, os dois devem ser convocados para serem interrogados, também nos próximos dias’’.

Pablo Greco disse que a prisão preventiva de Daniel Chaib tem caráter provisório, podendo ser revista pela Justiça. ‘‘Mas pelos documentos coletados durante o mandado de busca e apreensão e em função da autuação em flagrante por porte ilegal de arma, acho pouco provável que isso possa ocorrer de forma rápida’’.

Se nada piorar neste ano de 2013, cerca de 250 policiais serão assassinados no Brasil até o dia 31 de dezembro 44

Namorando com o suicídio’

Publicada em 30/01/2013

Por J. R. Guzzo

Se nada piorar neste ano de 2013, cerca de 250 policiais serão assassinados no Brasil até o dia 31 de dezembro. É uma história de horror, sem paralelo em nenhum país do mundo civilizado. Mas estes foram os números de 2012, com as variações devidas às diferenças nos critérios de contagem, e não há nenhuma razão para imaginar que as coisas fiquem melhores em 2013 – ao contrário, o fato de que um agente da polícia é morto a cada 35 horas por criminosos, em algum lugar do país, é aceito com indiferença cada vez maior pelas autoridades que comandam os policiais e que têm a obrigação de ficar do seu lado. A tendência, assim, é que essa matança continue sendo considerada a coisa mais natural do mundo – algo que “acontece”, como as chuvas de verão e os engarrafamentos de trânsito de todos os dias.

Raramente, hoje em dia, os barões que mandam nos nossos governos, mais as estrelas do mundo intelectual, os meios de comunicação e a sociedade em geral se incomodam em pensar no tamanho desse desastre. Deveriam, todos, estar fazendo justo o contrário, pois o desastre chegou a um extremo incompreensível para qualquer país que não queira ser classificado como selvagem. Na França, para ficar em um exemplo de entendimento rápido, 620 policiais foram assassinados por marginais nos últimos quarenta anos – isso mesmo, quarenta anos, de 1971 a 2012. São cifras em queda livre. Na década de 80, a França registrava, em média, 25 homicídios de agentes da polícia por ano, mais ou menos um padrão para nações desenvolvidas do mesmo porte. Na década de 2000 esse número caiu para seis – apenas seis, nem um a mais, contra os nossos atuais 250. O que mais seria preciso para admitir que estamos vivendo no meio de uma completa aberração?

Há alguma coisa profundamente errada com um país que engole passivamente o assassínio quase diário de seus policiais -e, com isso, diz em voz baixa aos bandidos que podem continuar matando à vontade, pois, no fundo, estão numa briga particular com “a polícia”, e ninguém vai se meter no meio. Essa degeneração é o resultado direto da política de covardia a que os governos estaduais brasileiros obedecem há décadas diante da criminalidade. Em nenhum lugar a situação é pior do que em São Paulo, onde se registra a metade dos assassinatos de policiais no Brasil; com 20% da população nacional, tem 50% dos crimes cometidos nessa guerra. É coisa que vem de longe. Desde que Franco Montoro foi eleito governador, em 1982, nas primeiras eleições diretas para os governos estaduais permitidas pelo regime militar, criou-se em São Paulo, e dali se espalhou pelo Brasil, a ideia de que reprimir delitos é uma postura antidemocrática – e que a principal função do estado é combater a violência da polícia, não o crime. De lá para cá, pouca coisa mudou. A consequência está aí: mais de 100 policiais paulistas assassinados em 2012.

O jornalista André Petry, num artigo recente publicado nesta revista, apontou um fato francamente patológico: o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conseguiu o prodígio de não comparecer ao enterro de um único dos cento e tantos agentes da sua polícia assassinados ao longo do ano de 2012. A atitude seria considerada monstruosa em qualquer país sério do mundo. Aqui ninguém sequer percebe o que o homem fez, a começar por ele próprio. Se lesse essas linhas, provavelmente ficaria surpreso: “Não, não fui a enterro nenhum. Qual é o problema?”. A oposição ao governador não disse uma palavra sobre sua ausência nos funerais. As dezenas de grupos prontos a se indignar 24 horas por dia contra os delitos da polícia,reais ou imaginários, nada viram de anormal na conduta do governador. A mídia ficou em silêncio. É o aberto descaso pela vida, quando essa vida pertence a um policial. É, também, a capitulação diante de uma insensatez: a de ficar neutro na guerra aberta que os criminosos declararam contra a polícia no Brasil.

Há mais que isso. A moda predominante nos governos estaduais, que vivem apavorados por padres, jornalistas, ONGs, advogados criminais e defensores de minorias, viciados em crack, mendigos, vadios e por aí afora, é perseguir as sua próprias polícias – com corregedorias, ouvidorias, procuradorias e tudo o que ajude a mostrar quanto combatem a “arbitrariedade”. Sua última invenção, em São Paulo, foi proibir a polícia de socorrer vítimas em cenas de crime, por desconfiar que faça alguma coisa errada se o ferido for um criminoso; com isso, os policiais paulistas tornam-se os únicos cidadãos brasileiros proibidos de ajudar pessoas que estejam sangrando no meio da rua. É crescente o número de promotores que não veem como sua principal obrigação obter a condenação de criminosos; o que querem é lutar contra a “higienização” das ruas, a “postura repressiva” da polícia e ações que incomodem os “excluídos”. Muitos juízes seguem na mesma procissão. Dentro e fora dos governos continua a ser aceita, como verdade científica, a ficção de que a culpa pelo crime é da miséria, e não dos criminosos. Ignora-se o fato de que não existe no Brasil de hoje um único assaltante que roube para matar a fome ou comprar o leite das crianças. Roubam, agridem e matam porque querem um relógio Rolex; não aceitam viver segundo as regras obedecidas por todos os demais cidadãos, a começar pela que manda cada um ganhar seu sustento com o próprio trabalho. Começam no crime aos 12 ou 13 anos de idade, estimulados pela certeza de que podem cometer os atos mais selvagens sem receber nenhuma punição; aos 18 ou 19 anos já estão decididos a continuar assim pelo resto da vida.

Essa tragédia, obviamente, não é um “problema dos estados”, fantasia que os governos federais inventaram há mais de 100 anos para o seu próprio conforto – é um problema do Brasil. A presidente Dilma Rousseff acorda todos os dias num país onde há 50 000 homicídios por ano; ao ir para a cama de noite, mais de 140 brasileiros terão sido assassinados ao longo de sua jornada de trabalho. Dilma parece não sentir que isso seja um absurdo. No máximo, faz uma ou outra reunião inútil para discutir “políticas públicas” de segurança, em que só se fala em verbas e todos ficam tentando adivinhar o que a presidente quer ouvir. Não tem paciência para lidar com o assunto; quer voltar logo ao seu computador, no qual se imagina capaz de montar estratégias para desproblematizar as problematizações que merecem a sua atenção. Não se dá conta de que preside um país ocupado, onde a tropa de ocupação são os criminosos. Bela solução dada pela Itália, foi a criação da denominada POLÍZIA PENITENZIÁRIA na década de 90, no Brasil, os agentes prisionais são considerados a escoria da sociedade e da segurança pública, e o crime reina latente em todos lugares.

Muito pouca gente, na verdade, se dá conta. Os militares se preocupam com tanques de guerra, caças e fragatas que não servem para nada; estão à espera da invasão dos tártaros, quando o inimigo real está aqui dentro. Não podem, por lei, fazer nada contra o crime – não conseguem nem mesmo evitar que seus quartéis sejam regularmente roubados por criminosos à procura de armas. A classe média, frequentemente em luta para pagar as contas do mês, se encanta porque também ela, agora, começa a poder circular em carros blindados; noticia-se, para orgulho geral, que essa maravilha estará chegando em breve à classe C. O número de seguranças de terno preto plantados na frente das escolas mais caras, na hora da saída, está a caminho de superar o número de professores. As autoridades, enfim, parecem dizer aos policiais: “Damos verbas a vocês. Damos carros. Damos armas. Damos coletes. Virem-se.”

É perturbadora, no Brasil de hoje, a facilidade com que governantes e cidadãos passaram a aceitar o convívio diário com o mal em estado puro. É um “tudo bem” crescente, que aceita cada vez mais como normal o que é positivamente anormal – “tudo bem” que policiais sejam assassinados quase todos os dias, que 90% dos homicídios jamais cheguem a ser julgados, que delinquentes privatizem para seu uso áreas inteiras das grandes cidades. E daí? Estamos tão bem que a última grande ideia do governo, em matéria de segurança, é uma campanha de propaganda que recomenda ao cidadão: “Proteja a sua família. Desarme-se”. É uma bela maneira, sem dúvida, de namorar com o suicídio.

Fonte: “Veja”, edição que está nas bancas