E a greve do JUDICIÁRIO continua.
Veja a matéria do nobre jurista WALTER CENEVIVA.
28/06/2010
Uma greve em dez notas.
Cabe discutir e analisar os modos de evitar a repetição de movimentos que podem ser prejudiciais para o povo.
Por Walter Ceneviva (Folha de SP de 26/06/10)
NO MOMENTO EM QUE DIGITO esta coluna, não é certo se a greve dos servidores do Judiciário paulista será suspensa. Mesmo assim cabe discutir e analisar modos de evitar a repetição de movimentos prejudiciais para o povo, sem tolher a liberdade dos servidores na defesa de seus interesses.
Na ciência do direito, o problema se liga à divisão dos Poderes do Estado, pensada por Montesquieu, que viveu entre 1689 e 1755. Passados quase trezentos anos de sua teoria, o Executivo tem tendido a se impor ao Legislativo e ao Judiciário, com maus resultados. A composição do perfil analítico leva ao tratamento da greve em dez notas.
1. A Constituição Federal (artigo 2º) reconhece três Poderes independentes e harmônicos entre si. Garante ao Judiciário (artigo 99) “autonomia administrativa e financeira”. O primeiro dever do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) é assegurar a autonomia do Judiciário (artigo 103-B).
2. O TJ-SP (Tribunal de Justiça de São Paulo) diz que o Executivo se recusa a repassar recursos necessários para o reajuste anual da remuneração dos trabalhadores.
3. O TJ-SP diz ainda que não se cumpre a Constituição, porque a autonomia nela reafirmada não vale nessa parte. Sente-se como se pedisse esmola ao Executivo.
4. O reajuste anual da remuneração do funcionalismo é imposto pela Carta. O cronômetro do estômago e das despesas do servidor não para, enquanto discutem o Judiciário pedinte e o Executivo imponente. Daí a greve.
5. Os atuais dirigentes do TJ-SP ficaram com a bomba nas mãos, mas não a criaram. A proposta orçamentária em execução não é deles, mas lhes coube resolver o problema. É verdade reconhecida pelo próprio Judiciário que a magistratura não é treinada para enfrentar os encargos da administração. É necessário modificar os procedimentos a respeito.
6. O Executivo e o Legislativo afirmam que os desembargadores gastaram o dinheiro com seus próprios aumentos, em pagamentos de atrasados, em despesas adiáveis, deixando o cofre vazio. O Judiciário nega, mas o CNJ cobra do TJ-SP, entre outros pontos, pagamentos excessivos que teriam sido feitos à magistratura. A averiguação do CNJ não chegou às conclusões, recomendando prudência na avaliação.
7. O Ministério Público, parcialmente, e a Advocacia, completamente, mantiveram-se em silêncio, embora sejam funções essenciais à Justiça, assim indicadas na Carta.
8. A greve ganhou vigor quando o TJ-SP resolveu descontar os dias não trabalhados, sob a desculpa de cumprir a lei, mas o resultado foi o estímulo para a extensão da greve. Cumprir a lei é alegação válida quando satisfeita por inteiro, sem espaços vagos.
9. O movimento associativo dos servidores também tem suas culpas. A eclosão da greve, no momento em que o novo presidente do TJ-SP nem esquentou a cadeira, foi infeliz, permitindo a suspeita de interesses políticos, que, até outubro, tende a se generalizar. A greve do Judiciário, por sua natureza, exige -antes de ser detonada- a precisa divulgação de seus motivos.
10. Sejam quais forem as razões das partes, a solução é urgente, para mais além da greve atual. A preservação da dignidade da Justiça exige a correção das deficiências que levaram todos os lados à situação atual, com sacrifício dos jurisdicionados.
Walter Ceneviva é advogado, jurista, professor universitário e assina a coluna “Letras Jurídicas” no jornal Folha de S. Paulo.
http://www.aojesp.org.br/artigos.php?id=596&tipo=2
Após mais uma assembleia, funcionários do Judiciário de SP decidem manter paralisação
Do UOL Notícias
Em São Paulo
Os servidores do Judiciário paulista pedem uma reposição salarial de 20,16%
Funcionários do Judiciário paulista decidiram, em assembleia na tarde desta quarta-feira (30), na praça João Mendes, região central de São Paulo, manter a greve que entra hoje em seu 64º dia.
Segundo a Associação dos Oficiais de Justiça de SP (Ajoesp), uma das entidades envolvidas nas negociações, a greve deve continuar, pelo menos, até a próxima quarta-feira, para quando está marcada nova assembleia.
Os grevistas pedem uma reposição salarial de 20,16%, além da suspensão da Resolução 520, que permite que os dias parados sejam descontados do salário dos grevistas.
Mais cedo, as entidades negociadoras estiveram reunidas com três juízes assessores da presidência do Tribunal de Justiça de São Paulo para tentar entrar em um acordo. Entretanto, a categoria rejeitou a proposta de reajuste de 4,77%.
A associação disse ainda que não há reunião marcada para os próximos dias com o TJ para continuar as negociações.
Na avaliação da OAB SP, “como a greve atinge em média 30% dos serviços forenses do Estado, já se pode estimar que cerca de 240 mil processos estariam sendo represados, 82 mil audiências não teriam sido realizadas e 192 mil sentenças não haviam sido prolatadas”.
“Quem vai pagar esse prejuízo? Em 2004, quando a Justiça parou três meses, muitos escritórios fecharam porque não conseguiam mais pagar o salário do pessoal administrativo, nem arcar com as despesas ordinárias desses escritórios”, ressaltou Luiz Flávio Borges D´Urso, presidente da OAB SP.
Em entrevista ao UOL Notícias, o vice-presidente da OAB-SP, Marcos da Costa, disse que a greve está prejudicando a tramitação dos processos e reiterou que o prejuízo ao andamento de alguns processos pode chegar a um ano de atraso.
“O reflexo da greve não é só durante a greve. Nós teremos muitos problemas mesmo após o término da paralisação, pois agora a agenda, que já é cheia, está totalmente desorganizada”, disse da Costa, que não deixou de frisar que a OAB-SP respeita e apoia as reivindicações dos servidores.
“Compreendemos as reivindicações, pois realmente existe uma grande defasagem nos salários. O que não apoiamos é a greve, que, na nossa opinião, é um instrumento radical que está prejudicando muitas pessoas”, afirmou.
http://noticias.uol.com.br/cotidiano/2010/06/30/apos-mais-uma-assembleia-funcionarios-do-judiciario-de-sp-decidem-manter-paralisacao.jhtm