VALE A PELA LER DE NOVO: Um traficante preso em São Paulo explica à mulher que precisa levantar dinheiro para comprar um habeas corpus em Brasília. Não dá nomes, mas fala em quantias: ‘Quatrocentos mil dólar, muié (…) Uma máfia completa lá, sabe? 4

JUSTIÇA – TOGAS SOB SUSPEITA

Força estranha

Investigações de conexões entre juízes e crime organizado chegam ao Superior Tribunal de Justiça

CARLOS ALBERTO JR.

Roberto Stuckert Filho/Ag. O Globo
OUTRA VEZ
Convencido a pedir licença na Câmara e no PMDB, Pinheiro Landim aparece agora em conversas com outros dois traficantes

Na tarde do sábado 20, o presidente em exercício do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Edson Vidigal, telefonou para o ministro Vicente Leal, que estava em Fortaleza. Pediu que o colega voltasse a Brasília para ser inquirido em uma sessão extraordinária convocada às pressas para o dia seguinte. Leal respondeu que não poderia ir, porque queria acompanhar o casamento de uma sobrinha. ‘Quem vai casar é ela, não você’, respondeu Vidigal. Na manhã do domingo, 21 dos 31 ministros da corte postaram-se no plenário do tribunal. Leal apareceu na hora marcada. Chegou irritado. ‘Não entendo o porquê desta inquisição’, afirmou. Em seguida, mudou o tom. Disse que estava vivendo um inferno astral e chorou ao relembrar os obstáculos que superou ao longo de sua carreira. Ainda assim, os demais ministros pediram que ele assinasse um requerimento autorizando uma investigação de seus atos na corte. É a primeira vez que o STJ – a segunda maior instância da Justiça brasileira – abre processo administrativo para apurar denúncias contra um de seus integrantes. Leal é acusado pela Polícia Federal de participar de uma fábrica de habeas corpus para tirar traficantes de cadeias. Não foi afastado de seu cargo. Mas conviverá com três colegas que, junto com policiais, vão esquadrinhar as decisões que tomou nos últimos dois anos.

Dos cinco Tribunais Regionais Federais do Brasil, três investigam denúncias de conexões entre seus integrantes e o crime organizado. Nos últimos dois anos, pelo menos sete juízes e desembargadores foram expulsos de tribunais pelo país afora, sob acusação de vender sentenças a traficantes. A investigação em curso no STJ pretende passar a limpo a suspeita estarrecedora de que essas ligações tenham chegado também às instâncias superiores da Justiça brasileira – um tipo de conexão comum a países contaminados pela relação atávica entre o crime e autoridades constituídas, como a Colômbia.

A acusação que paira sobre Vicente Leal resultou de uma investigação feita durante três anos pela Polícia Federal – que produziu um baú de onde não param de sair novos nomes. Ao fazer escutas telefônicas com autorização judicial para monitorar a quadrilha do megatraficante Leonardo Dias de Mendonça em cinco Estados e no Distrito Federal, os policiais gravaram 400 horas de conversas. Trata-se de um conjunto de diálogos que mostra como os traficantes trocam informações e conversam com advogados sobre supostos esquemas de suborno para tirá-los da cadeia. Vicente Leal é citado nelas como uma das pessoas que estariam no ‘esquema’ de ajuda aos criminosos. Referências feitas por criminosos não podem ser vistas como provas numa investigação séria. Há mais do que isso, porém. Em outubro de 2000, o ministro derrubou um pedido de prisão preventiva contra Leonardo Mendonça. Alegou que o réu estava preso havia mais de 81 dias, prazo máximo previsto em lei para casos de detenção preventiva. O relator do processo, ministro Fontes de Alencar, tinha decidido manter o traficante preso. Leal pediu vistas e, na votação, convenceu a maioria dos presentes a liberar o criminoso. Isoladamente não há nada de errado nesse comportamento. Mas, quando se liga a soltura do supertraficante com conversas sobre esquemas de venda de sentenças, é difícil negar que o caso merece um exame mais detalhado. (Leia os diálogos reproduzidos ao longo desta reportagem.)

Nascido na pequena cidade de Jaicós, no Piauí, Leal tem uma carreira surpreendente. Formou-se oficial da Polícia Militar do Ceará em 1961. Foi promovido até o posto de capitão. Mas abandonou o quartel 13 anos depois para dar uma guinada em seu currículo. Virou juiz de Direito substituto na Comarca de Orós. No fim de 1994, foi indicado para o STJ. É conhecido nos corredores da corte como um ministro discreto mas vaidoso. Costuma dizer que suas decisões contêm uma dose de humanismo por influência de uma forte formação católica e que sua ascensão profissional se deve a sua inteligência privilegiada. Tem hábitos simples. Mora num amplo apartamento de quatro quartos na Asa Sul de Brasília. Católico fervoroso, é ministro de eucaristia e todos os anos promove uma missa em ação de graças. Sempre que pode, volta ao Piauí e ao Ceará. Como ministro do STJ recebe um salário de R$ 12.084. Agora, só uma investigação mais detalhada poderá dizer se, de fato, sua biografia se cruzou com a do traficante conhecido no submundo do crime como Leo. A Polícia Federal está convencida de que as sentenças eram vendidas num esquema triangular. Pelo que já se apurou, as outras duas pontas da operação estão identificadas com mais nitidez – os compradores e os intermediários do negócio


Força estranha

CARLOS ALBERTO JR.

 

Roberto Stuckert Filho/Ag. O Globo
‘ESQUEMA’
Em conversas com Leonardo Mendonça, Fernandinho Beira-Mar discute estratégias e honorários de defensores que podem ajudá-los a sair da cadeia

As investigações que resultaram nos grampos – batizadas de Operação Diamante – encontraram em poder de Mendonça um dote formado por 1,2 tonelada de cocaína, 1,4 tonelada de maconha, 42,4 quilos de crack e 6 quilos de pasta-base de cocaína, US$ 757,5 mil, R$ 4 mil e diamantes no valor de R$ 2 milhões. O traficante também é dono de aviões monomotores e bimotores, postos de gasolina, empresas de factoring, casas de câmbio, frigoríficos, transportadoras e fazendas com pistas clandestinas. Nascido em Mambaí, em Minas Gerais, há 36 anos, foi criado em Goiânia. Envolveu-se com o narcotráfico no fim da década de 80, quando começou a trabalhar com garimpo no Pará. De lá para cá, sua rede de influência só aumentou. Pelos caminhos que parecem sair das investigações da Polícia Federal, ela pode ter alcançado o Judiciário e o Congresso Nacional.

O político flagrado pelos grampos – o deputado federal Pinheiro Landim (PMDB-CE) – está cada vez mais enrolado. O relatório produzido pelos policiais que investigaram o caso aponta o parlamentar como o elo entre traficantes e integrantes do Judiciário. Por conta da coleção de indícios contra Landim, a executiva do PMDB espera parecer do corregedor-geral da Câmara, deputado Barbosa Neto (PMDB-GO), que pediu cópia do processo, para decidir se é favorável à cassação, caso em que Landim será expulso do partido. Mas, para evitar constrangimentos imediatos, Landim já foi convencido a se licenciar do mandato e da legenda. A despedida temporária do deputado deve ser anunciada ainda nesta semana.

Transcrições divulgadas na semana passada mostram o parlamentar em contato direto com Leonardo Mendonça. Nas conversas, ele marca encontros em um aeroporto e até briga com o megatraficante porque seus advogados pediram um habeas corpus sem consultá-lo. ‘Ou vocês deixam o assunto ser tratado com a pessoa que eu acertei, ou então tô fora. Ficar metendo gente não resolve p… nenhuma. Tu nunca resolveu nada, nem teu povo’, esbraveja o deputado. Trechos obtidos por ÉPOCA revelam o parlamentar falando com outros dois narcotraficantes de alto calibre, Silvio Rodrigues da Silva e Wilson Torres, sócios de Mendonça e encarregados de cuidar de parte da contabilidade de seus negócios. As conversas também reforçam suspeitas do que pode ser uma linha de contato entre o deputado e outra ponta da Justiça, o desembargador Eustáquio Silveira, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 1a Região. O elo entre os dois é o filho do desembargador, Igor Silveira, assessor de Pinheiro Landim. Como Igor aparece nas conversas falando com traficantes e intermediando encontros entre o pai e o deputado, o TRF decidiu investigar o desembargador. Assim como acontece no STJ, é a primeira vez que o tribunal investiga um de seus pares.

As denúncias de conexões de juízes e crime organizado já freqüentam o noticiário faz algum tempo. A novidade é que nunca se havia chegado a degraus tão altos. Há duas semanas, o Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul decidiu, por unanimidade, afastar o juiz Marcos Antônio Sanches. Em 1999, Sanches foi denunciado pela CPI do Narcotráfico da Câmara dos Deputados por ter libertado o traficante Ruben Binatti. Em troca, teria ganho de presente uma locadora de veículos. ‘A acusação foi feita por um advogado e não foi provada’, afirma o advogado Joaquim José de Souza, que defende o magistrado. No fim do ano passado, o juiz paulista Paulo Theotônio Costa foi afastado de suas funções no Tribunal Regional Federal da 3a Região sob a acusação de mandar soltar um dos principais traficantes de Mato Grosso do Sul, o major da Polícia Militar Sérgio Roberto de Carvalho. Preso em flagrante com 237 quilos de cocaína em sua fazenda em Rio Verde, interior de Mato Grosso do Sul, o major – dono de uma rede de postos de gasolina e de uma transportadora – é considerado pela polícia um traficante em franca ascensão. O magistrado é acusado de ter violado o sistema de distribuição de processos do TRF-SP, quando comandava o plantão nas férias forenses de janeiro de 1998, para poder dar um habeas corpus ao traficante. Um mês antes, um pedido idêntico a favor do major fora negado no mesmo tribunal. Além de ter sido afastado, Paulo Theotônio Costa responde a duas ações penais no STJ. Uma delas, por conta da gambiarra que teria feito para ajudar o traficante. ‘Houve apenas um erro, ou falha, de distribuição que posteriormente foi corrigido’, alega o advogado Fernando Neves da Silva, que defende o juiz no processo. A outra ação é por enriquecimento ilícito. Na semana passada, o Ministério Público Federal pediu o bloqueio dos bens do juiz em ação de improbidade administrativa. Em 1998, uma de suas empresas comprou a Fazenda Rio Negro, uma propriedade de 2.393 hectares em Rio Verde, a mesma cidade em que o major Carvalho foi preso. Condenado a 18 anos em regime fechado, o traficante conseguiu progressão de pena. Desde abril, só passa as noites em um quartel em Campo Grande.

Na Bahia, o juiz Ivan José de Oliveira Rocha foi afastado duas vezes – até ser aposentado compulsoriamente no ano passado. O juiz coleciona histórias folclóricas. Na Comarca de Juazeiro, costumava dormir durante o dia e abrir o fórum à noite, para emitir liminares permitindo que pessoas usassem títulos podres na compra de terras. Também aproveitou as férias da titular de outra comarca para mandar soltar três ladrões de cargas ligados ao grupo de Wander Dornelles, que, além de comandar uma das maiores quadrilhas do Estado, se dedica ao tráfico de drogas. Vinte minutos depois de emitir o parecer, foi pessoalmente ao presídio retirar os criminosos. Um deles, Eydimar Medrado, acabou preso outra vez por roubo de cargas e porte de moedas falsas. Conseguiu novo habeas corpus, emitido pelo desembargador Mario Albiani. Pouco tempo depois – mais uma vez – foi parar na cadeia. Outro pedido de habeas corpus caiu nas mãos de outro desembargador, Lourival Ferreira. Em novembro de 1999, Lourival entregou ao presidente do Tribunal de Justiça um despacho acusando o colega Mario Albiani de pressioná-lo para soltar o acusado. O caso foi investigado pelo TJ. ‘Nunca tive nada com isso. Foi armação para me enxovalhar’, diz Albiani, já aposentado.

As gravações que resultaram da Operação Diamante mostram um submundo que se movimenta com a certeza de que pode pagar bons defensores e corromper o Judiciário se for necessário. Em uma delas os traficantes Leonardo Mendonça e Fernandinho Beira-Mar – que depois acabaram brigando – falam sobre o preço cobrado por potenciais defensores e de um ‘esquema Vicente Cernichiaro’, que vem a ser o nome de um antigo ministro do STJ.
Procurado por ÉPOCA, o ex-ministro do STJ disse que trabalhou uma única vez para o traficante, há um ano. ‘Atendi a uma consulta feita pela advogada de Beira-Mar. Ele queria transferir para o Brasil a irmã presa na Colômbia’, explica. Segundo Cernichiaro, ele apenas levou a advogada de Beira-Mar ao departamento do Ministério da Justiça que cuida do assunto. ‘Estive com ele na carceragem da PF para tratar da questão.’

Em outra conversa, um traficante preso em São Paulo explica à mulher que precisa levantar dinheiro para comprar um habeas corpus em Brasília. Não dá nomes, mas fala em quantias: ‘Quatrocentos mil dólar, muié (…) Uma máfia completa lá, sabe?’, comenta.
As investigações sobre o Judiciário encontram-se em sua etapa inicial, mas têm ocorrido fatos estranhos que recomendam cautela com o que se fala e se ouve. A divulgação de trechos de conversas gravadas produziu uma cena nobre, que foi a decisão do STJ de abrir uma investigação sobre Vicente Leal e qualquer outro magistrado que possa ser colocado sob suspeita. Ao longo da semana, contudo, outro magistrado procurava os órgãos de comunicação com mais transcrições, que poderiam incriminar outros juízes. É bom que todos os indícios encontrados sejam apurados e investigados até o fim. Nada seria tão pernicioso, neste momento, quanto uma guerra civil entre juízes

 

‘QUATROCENTOS MIL DÓLAR, MUIÉ’
Traficantes conversam sobre suposta indústria de habeas corpusNovos trechos obtidos por ÉPOCA de transcrições feitas pela Polícia Federal revelam o deputado Pinheiro Landim conversando com três traficantes e a lógica de criminosos convictos de que podem corromper o Judiciário.FIGURINHASConversa em 5/6/2001

Fernandinho Beira-Mar e Leonardo Mendonça discutem o preço de eventuais defensores:

Beira-Mar – Então, não, ele vai se unir, pode encontrar com o Vicente. Ou tu acha que o Vicente ou a doutora?
Leonardo – Não, melhor a doutora… pra ele o que que tem, certo?
Beira-Mar – Hum hum.
Leonardo – Tem que aproveitar. Deixa te falar uma coisa: o ano que vem é o ano que troca todo mundo, entendeu? Então ele falou que é a grande chance por isso, certo?
Beira-Mar – Mas como é que vai poder resolver? Esse negócio tá na minha cidade ainda.
Leonardo – Não, vão pegar e levar tudo pro centro (Brasília, segundo a PF).
Beira-Mar –Ah, entendi. Olha só! O doutor Vicente falou o seguinte: que resolve, mas, antes de dois anos, não, por causa da imprensa. Então é uma coisa séria o cara dizer que resolve e depois me deixar a ver navios.
Leonardo – E ele falou… esse doutor que falou contigo pediu o quê?
Beira-Mar – Um verde (US$ 1 milhão, segundo o relatório da polícia) pra resolver tudo. Cinqüenta por cento na mão e 50% no dia que resolver, entendeu?
Leonardo – Hum.
Beira-Mar – E a despesa do advogado eu pagaria a Carla (uma das advogadas de Beira-Mar). A Carla, eu ia dar a ele 100, 100 verde (US$ 100 mil).
Leonardo – Você é tão inteligente ou mais inteligente que eu. Então, cabe a você decidir. Agora, do outro lado, vamos supor… dar uma força…
Beira-Mar – Deixa eu te fazer uma pergunta: não é o mesmo esquema do Vicente não, né?
Leonardo – Ué! Eu não sei qual é esse que você tá falando, bicho.
Beira-Mar – O Cernichiaro, Vicente Cernichiaro?
Leonardo – Hã?
Beira-Mar – Do Vicente Cernichiaro? O ex-ministro?
Leonardo – Ah! Não, não, não. É… eu te digo o seguinte: é acima.
Beira-Mar – Então tá bom. Vamos mudar de assunto então. E amanhã eu aguardo o cara aqui.

CONEXÕES 1

Conversas de 2/5/2002

O desembargador Eustáquio Silveira pergunta ao filho Igor sobre o deputado Pinheiro Landim. Diz que gostaria de apresentá-lo ao chefe do Banco do Brasil no Ceará:

Eustáquio – Igor?
Igor – Oi, pai!
Eustáquio – Cadê o deputado?
Igor – O deputado vai estar aqui domingo de noite.
Eustáquio – Ah. Hoje ele não tá aqui, não?
Igor – Não tá, não. Que que era?
Eustáquio – Eu tô com um grande amigo meu aqui que é lá do Ceará…
Igor – Hã?
Eustáquio – Que é o… o nosso grande chefe do Banco do Brasil.
Igor – Ah, legal.
Eustáquio – Nós estamos almoçando aqui na Vila Planalto (bairro de Brasília).
Igor – Hã?
Eustáquio – Eu queria botar o Pinheiro com ele, mas o Pinheiro não tá aí, né?
Igor – Pois é, ele só chega domingo à noite…

ORDEM DE PAGAMENTO

Conversa em 9/4/2001

Leonardo Mendonça fala com seu secretário, Luiz Antônio, sobre diversos pagamentos realizados. Entre eles, um supostamente para Pinheiro Landim, identificado pelos dois como ‘Ceará’.

Leonardo – Quinhentos do André, tá lá nos quatro quinhentos e setenta e oito, né?
Luiz – Exatamente, positivo.
Leonardo – Tá, tudo bem. Mil, abastecimento de avião, não tem nada a ver, é aí vem entrada trinta mil daquela primeira OP (ordem de pagamento), depois quarenta e quatro, depois dezenove anterior, depois Ceará OP (referindo-se a Pinheiro Landim), tem do Olímpio (traficante interlocutor de Landim), tem do Júlio Bernardes vinte e cinco, tá? Vinte e um, cento e vinte e cinco demonstrativo, vinte cinco e duzentos, demonstrativo, OP São Miguel. Isso tá aqui.

CONEXÕES 2

Conversa em 20/7/2001

O desembargador Eustáquio pergunta ao filho Igor sobre o deputado Pinheiro Landim. Diz que precisa ver o parlamentar:

Eustáquio – Igão?
Igor – Oi, paizão.
Eustáquio – Seu chefe, o deputado, tá na cidade?
Igor – Tá, mas já tá indo embora. Vai embarcar agora.
Eustáquio – Poxa, queria encontrar com ele.
Igor – Pois é. Ele queria te ver.
Eustáquio – É…
Igor – Tô levando ele pro aeroporto agora. Cê tá onde?
Eustáquio – Ah, eu tô chegando em casa. Quando é que ele volta?
Igor – Quando é que o senhor volta, deputado? Terça? Terça ele tá aqui.
Eustáquio – Pois é. Então terça, fala com ele pra gente se encontrar.
Igor – Tá jóia, vou falar.
Eustáquio – Dá um abraço nele aí.
Igor – Eu vou até passar… eu queria saber alguma notícia, eu vou passar lá rapidinho. Ver se tem alguma notícia.
Eustáquio – Hum?
Igor – Tá?
Eustáquio – É… tá cuidando.
Igor – Tá bom, então.
Eustáquio – Tchau.

‘MÁFIA COMPLETA’

Conversa em 23/10/2001

Orlando Marques dos Santos, traficante preso em São Paulo, diz a sua ex-mulher Antônia Gonzaga que precisa de US$ 400 mil para ‘um habeas corpus’:

Orlando – Achei um jeito pra resolver aquele negócio em Brasília, mas é caro demais.
Antônia – Ah, meu Jesus amado.
Orlando – É bom que resolve, sabe?
Antônia – É lógico, vamos desfazer de alguma coisa pra pagar.
Orlando – Quatrocentos mil dólar, muié.
Antônia – Tem um carro aqui que vale cento e trinta.
Orlando – Uma máfia completa lá, sabe? Por isso que quando é um cara famoso assim…
Antônia – Certo.
Orlando – Entendeu? Então, simples, os cara aí, eles num conhece, não. Eu descobri através do Dica. Tem um cara que é lá do Pará (referem-se a Leonardo Mendonça) que rodou com um avião carregado (de drogas) e em três meses tiraram ele.
Antônia – O importante é resolver.
Orlando – Ah é. Imóvel não vende, pra começar.
Antônia – Hã?
Orlando – Imóvel não vende. Seu carro só vale 50 mil dólar, mulher.
Antônia – Ué, mas 50 mil dólar não é dinheiro não, ô. Já não ajuda no montante, não.
Orlando – Mas vai vender pra tu vê se tu acha isso.
Antônia – Ôxi, tu é muito pessimista. Tem de ser otimista. Eu sempre digo eu vou conseguir, eu vou, vou conseguir…

PRUDÊNCIA

Conversa em 25/10/2001

O deputado Pinheiro Landim diz para o traficante Wilson Torres, sócio de Leonardo Mendonça, ‘ficar calado’ e ‘esperar o resultado’, para que possam resolver satisfatoriamente. ‘Como as outras vezes’:

Wilson – Bão, como é que andam as coisas?
LANDIM – …Tá sendo preparada daqui pra segunda-feira.
Wilson – Hã?
Landim – Daqui pra manhã, segunda tá dando entrada.
Wilson – É?
Landim – Tá.
Wilson – Certeza?
Landim – Certeza. Tá dando entrada, não é a… não é decisão.
Wilson – Ah, tá dando entrada ainda?
Landim – Lógico.
Wilson – Eu tinha dado entrada.
Landim – Não… tem que ter muita cautela, viu? Muita cautela, muita cautela. Eu tenho reclamado muito, vim aqui só reclamar, fofoca, num sei o quê, isso não ajuda; qualquer tipo de pressão só prejudica.
Wilson – É…
Landim – Isso é assunto pra ficar calado esperando o resultado. Você sabe que já é uma reincidência, né?
Wilson – É ..eu achei que tinha dado pelo menos entrada.
Landim – É, mas tem que ser na hora certa, para cair na pessoa certa. Isso tem uma estratégia.
Wilson – É… tá certo… deve demorar mais uns…
Landim – …quase tudo envolvido com isso.
Wilson – Aí ninguém sabe quando, né?
Landim – Na próxima semana eu te dou uma posição. Isso não é assunto fácil, requer toda prudência, toda discrição, tá entendendo? Para que a gente possa resolver satisfatoriamente, como resolvemos as outras duas vezes, só que essa já é uma terceira vez, que, evidentemente, a gente tem é informações bem mais precisas de uma análise profunda, que tem grande possibilidade, como teve das outras vezes. Agora, na base do tem que ser hoje, tem que ser amanhã, não funciona, e não existe isso.

LÁ EM BRASÍLIA

Conversa em 5/11/2001

Orlando Marques, traficante preso em São Paulo, fala com Valdemar Ferreira, um dos gerentes da quadrilha:

Orlando – Vou pagar US$ 250 mil pro cara resolver aquele problema meu lá.
Valdemar – É mesmo, cara?
Orlando – Lá em Brasília. O cara queria quatrocentos. A máfia que tem lá, né?
Valdemar – Pelo amor de Deus.
Orlando – Tem até ministro no meio. Mas vale a pena, num vale?
Valdemar – Ah, sei lá. Você tá correndo atrás desse objetivo de limpar seu nome, né? Eu encaminhava pra outro caminho, mas você já gastou o maior dinheiro, né, fazer o quê?
Orlando – Anula pelo menos a cadeia, não fica condenado lá, não tem mais risco de ir pra cadeia de São Paulo, né?

PAPEL

Conversa em 20/3/2002

Leonardo Mendonça diz ao sócio Wilson Torres que Pinheiro Landim ajuda sua campanha:

Leonardo – Ele (Landim) ainda falou o seguinte pra mim: manda ele seguir a vida dele e caçar um jeito de arrumar papel pra campanha (risos). Já não deixou de dar uma cantada, né?

ENCONTRO

Conversa em 9/5/2002

Pinheiro Landim, Leonardo Mendonça e Silvio Rodrigues marcam encontro:

Landim – Eu vou agora pro aeroporto e a gente se encontra antes. Tem um posto de gasolina…
Leonardo – Pera aí, explica pro Silvio que ele entende melhor. Eu não conheço nada.
Landim – Silvio, antes do aeroporto não tem um posto de gasolina?
Silvio – Tem, chegando lá no aeroporto.
Landim – A gente se encontra naquele posto, tá?
Silvio – Combinado.

O PROCURADOR

Conversa em 25/1/2001

Leonardo Mendonça e Wilson Torres conversam sobre suposto controle que teriam sobre procurador da República no Maranhão:

Wilson – O Cabeção.
Leonardo – Não, o Cabeção tá no Comprido. O cara marcou com ele lá no final de semana, entendeu? Ele vai inclusive almoçar com o cara no domingo. Não tem… os dois, tem um que assina e tem um que pede?
Wilson – É exatamente.
Leonardo – Ele vai almoçar com o que pede, entendeu?
Wilson – Ah, mas o importante é o que decreta.
Leonardo – Não… não… não, mas num é, porque ele decreta se o outro pedir, né? Na verdade, o outro é que bota fogo, né?

O DINHEIRO ATRASOU

Conversa em 5/12/2000

Luiz Antônio de Abreu, secretário de Leonardo Mendonça, explica a Núbia Zanine, mulher do traficante Ecival de Pádua, que Ecival e outro criminoso não saíram da prisão porque a parcela do suborno atrasou:

Luiz Antônio de Abreu – E o careca… também tudo olho grande, começa fazer, não então liga pras muié, vamos falar que o trem tá tudo dando errado… Agora o trem lá é certeza… Sabe o que eles falaram. Não, num saiu os meninos aí, porque tinha uma parcela do Menino (a PF acha que é Igor Silveira), que atrasou oito dias, pode um trem desse? Era pra ter pagado dia 24, pagou dia 30, atrasou na realidade seis dias.
Núbia Zanine – É, tanto é que ele ligou aqui esses dias e falou que num sei o quê, tá entendendo, falou isso também.
Luiz – Você entendeu?
Núbia – Hum hum.
Luiz – Quer dizer… realmente atrasou, mas você acha que um motivo desses de atrasar seis dias numa parcela naquele valor… volume que é, e você sabe que os volume é grande, né?
Núbia – Sei, sei.

O CAPA PRETA

Conversa em 2/1/2001

Helder Mendonça, irmão de Leonardo, fala com Luiz Antônio de Abreu sobre um processo que está com o desembargador Eustáquio Silveira, do Tribunal Regional Federal, do Distrito Federal:

Luiz Antônio – Você sabe: é hoje, é amanhã, é hoje, é amanhã, e tá na mesma situação, assim, só que tá na mão do pai do Igor (desembargador Eustáquio Silveira), você entendeu? Você sabe quem é, né?
Helder – Sei.
Luiz – Tá lá na casa dele, e ele falou que só… na mesma situação do outro menino lá.

O PEQUENO

Conversa em 10/2/2001

Antônio Carlos Ramos e Silvio Rodrigues Silva, sócios de Leonardo Mendonça no tráfico, falam sobre habeas corpus de Leonardo que está na 4a Turma do TRF.

Antônio Carlos – Você tá olhando o papel aí direto?
Silvio Rodrigues – Tô olhando, tô olhando… ainda não, só se tiver alguma notícia. Mas eu acho que só segunda-feira, porque… desceu pra turma de lá, vai pra pauta, quando desce pra lá, de lá vai pra plenário, aí tem que ver que dia que tem sessão, como é lá no TRF, não sei, tinha que ir lá para saber.
Antônio Carlos – Quero saber o do Pequeno (Leonardo Mendonça).
Silvio – É isso mesmo, na 4a Turma. E aí, como é que tá aí?
Antônio Carlos – Só agoniado, aguardando a posição.

Um Comentário

  1. UFA!!!! AINDA BEM QUE ESSAS COISAS SÓ ACONTECEM NA ESFERA FEDERAL, E LÁ EM BRASÍLIA, GERALMENTE POLÍTICOS E TRAFICANTES DE OUTROS ESTADOS.

    AMO SÃO PAULO , POIS AQUI ,DINHEIRO NÃO RESOLVE PROBLEMAS DE VAGABUNDOS, O JUDICIÁRIO DAQUI É INCORUPTÍVEL. A POLÍCIA ENTÃO , SÓ DE FALAR EM DINHEIRO PRA ALGUM POLICIAL JÁ É MOTIVO PRA ELE PRENDER.

    SÃO PAULO SIM QUE É LUGAR DE GENTE, AQUI ATÉ TEM DEPARTAMENTO DE PROTEÇÃO A ,COMO SE DIZ MESMO!!!!
    AQUELES CARAS QUE DÃO O MAIOR TRAMPO PRA IMPEDIR QUE DESTRUAM O MEIO AMBIENTE, QUE SE VENDA COMIDA ESTRAGADA OU COMETAM CRIMES DE SONEGAÇÃO FISCAL.
    SÃO PAULO É FODA, O PSDB É MUITA TRETA!!!!!!!

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  2. ELEICAO GERAL PRO CONSELHO DA POLICIA CIVIL:
    MEU VOTO PARA REPRESENTAR ,POR MEIO DE DIRETORIA, COM COMISSIONAMENTO EM CLASSE SUPERIOR, O DPPC NO CONSELHO ;

    DR GUERRA

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  3. No TJSP não é diferente também são vendidos habeas corpus é só ter a quantia e ligar pra pessoa certa.

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