| Traficantes conversam sobre suposta indústria de habeas corpusNovos trechos obtidos por ÉPOCA de transcrições feitas pela Polícia Federal revelam o deputado Pinheiro Landim conversando com três traficantes e a lógica de criminosos convictos de que podem corromper o Judiciário.FIGURINHASConversa em 5/6/2001
Fernandinho Beira-Mar e Leonardo Mendonça discutem o preço de eventuais defensores:
Beira-Mar – Então, não, ele vai se unir, pode encontrar com o Vicente. Ou tu acha que o Vicente ou a doutora?
Leonardo – Não, melhor a doutora… pra ele o que que tem, certo?
Beira-Mar – Hum hum.
Leonardo – Tem que aproveitar. Deixa te falar uma coisa: o ano que vem é o ano que troca todo mundo, entendeu? Então ele falou que é a grande chance por isso, certo?
Beira-Mar – Mas como é que vai poder resolver? Esse negócio tá na minha cidade ainda.
Leonardo – Não, vão pegar e levar tudo pro centro (Brasília, segundo a PF).
Beira-Mar –Ah, entendi. Olha só! O doutor Vicente falou o seguinte: que resolve, mas, antes de dois anos, não, por causa da imprensa. Então é uma coisa séria o cara dizer que resolve e depois me deixar a ver navios.
Leonardo – E ele falou… esse doutor que falou contigo pediu o quê?
Beira-Mar – Um verde (US$ 1 milhão, segundo o relatório da polícia) pra resolver tudo. Cinqüenta por cento na mão e 50% no dia que resolver, entendeu?
Leonardo – Hum.
Beira-Mar – E a despesa do advogado eu pagaria a Carla (uma das advogadas de Beira-Mar). A Carla, eu ia dar a ele 100, 100 verde (US$ 100 mil).
Leonardo – Você é tão inteligente ou mais inteligente que eu. Então, cabe a você decidir. Agora, do outro lado, vamos supor… dar uma força…
Beira-Mar – Deixa eu te fazer uma pergunta: não é o mesmo esquema do Vicente não, né?
Leonardo – Ué! Eu não sei qual é esse que você tá falando, bicho.
Beira-Mar – O Cernichiaro, Vicente Cernichiaro?
Leonardo – Hã?
Beira-Mar – Do Vicente Cernichiaro? O ex-ministro?
Leonardo – Ah! Não, não, não. É… eu te digo o seguinte: é acima.
Beira-Mar – Então tá bom. Vamos mudar de assunto então. E amanhã eu aguardo o cara aqui.
CONEXÕES 1
Conversas de 2/5/2002
O desembargador Eustáquio Silveira pergunta ao filho Igor sobre o deputado Pinheiro Landim. Diz que gostaria de apresentá-lo ao chefe do Banco do Brasil no Ceará:
Eustáquio – Igor?
Igor – Oi, pai!
Eustáquio – Cadê o deputado?
Igor – O deputado vai estar aqui domingo de noite.
Eustáquio – Ah. Hoje ele não tá aqui, não?
Igor – Não tá, não. Que que era?
Eustáquio – Eu tô com um grande amigo meu aqui que é lá do Ceará…
Igor – Hã?
Eustáquio – Que é o… o nosso grande chefe do Banco do Brasil.
Igor – Ah, legal.
Eustáquio – Nós estamos almoçando aqui na Vila Planalto (bairro de Brasília).
Igor – Hã?
Eustáquio – Eu queria botar o Pinheiro com ele, mas o Pinheiro não tá aí, né?
Igor – Pois é, ele só chega domingo à noite…
ORDEM DE PAGAMENTO
Conversa em 9/4/2001
Leonardo Mendonça fala com seu secretário, Luiz Antônio, sobre diversos pagamentos realizados. Entre eles, um supostamente para Pinheiro Landim, identificado pelos dois como ‘Ceará’.
Leonardo – Quinhentos do André, tá lá nos quatro quinhentos e setenta e oito, né?
Luiz – Exatamente, positivo.
Leonardo – Tá, tudo bem. Mil, abastecimento de avião, não tem nada a ver, é aí vem entrada trinta mil daquela primeira OP (ordem de pagamento), depois quarenta e quatro, depois dezenove anterior, depois Ceará OP (referindo-se a Pinheiro Landim), tem do Olímpio (traficante interlocutor de Landim), tem do Júlio Bernardes vinte e cinco, tá? Vinte e um, cento e vinte e cinco demonstrativo, vinte cinco e duzentos, demonstrativo, OP São Miguel. Isso tá aqui.
CONEXÕES 2
Conversa em 20/7/2001
O desembargador Eustáquio pergunta ao filho Igor sobre o deputado Pinheiro Landim. Diz que precisa ver o parlamentar:
Eustáquio – Igão?
Igor – Oi, paizão.
Eustáquio – Seu chefe, o deputado, tá na cidade?
Igor – Tá, mas já tá indo embora. Vai embarcar agora.
Eustáquio – Poxa, queria encontrar com ele.
Igor – Pois é. Ele queria te ver.
Eustáquio – É…
Igor – Tô levando ele pro aeroporto agora. Cê tá onde?
Eustáquio – Ah, eu tô chegando em casa. Quando é que ele volta?
Igor – Quando é que o senhor volta, deputado? Terça? Terça ele tá aqui.
Eustáquio – Pois é. Então terça, fala com ele pra gente se encontrar.
Igor – Tá jóia, vou falar.
Eustáquio – Dá um abraço nele aí.
Igor – Eu vou até passar… eu queria saber alguma notícia, eu vou passar lá rapidinho. Ver se tem alguma notícia.
Eustáquio – Hum?
Igor – Tá?
Eustáquio – É… tá cuidando.
Igor – Tá bom, então.
Eustáquio – Tchau.
‘MÁFIA COMPLETA’
Conversa em 23/10/2001
Orlando Marques dos Santos, traficante preso em São Paulo, diz a sua ex-mulher Antônia Gonzaga que precisa de US$ 400 mil para ‘um habeas corpus’:
Orlando – Achei um jeito pra resolver aquele negócio em Brasília, mas é caro demais.
Antônia – Ah, meu Jesus amado.
Orlando – É bom que resolve, sabe?
Antônia – É lógico, vamos desfazer de alguma coisa pra pagar.
Orlando – Quatrocentos mil dólar, muié.
Antônia – Tem um carro aqui que vale cento e trinta.
Orlando – Uma máfia completa lá, sabe? Por isso que quando é um cara famoso assim…
Antônia – Certo.
Orlando – Entendeu? Então, simples, os cara aí, eles num conhece, não. Eu descobri através do Dica. Tem um cara que é lá do Pará (referem-se a Leonardo Mendonça) que rodou com um avião carregado (de drogas) e em três meses tiraram ele.
Antônia – O importante é resolver.
Orlando – Ah é. Imóvel não vende, pra começar.
Antônia – Hã?
Orlando – Imóvel não vende. Seu carro só vale 50 mil dólar, mulher.
Antônia – Ué, mas 50 mil dólar não é dinheiro não, ô. Já não ajuda no montante, não.
Orlando – Mas vai vender pra tu vê se tu acha isso.
Antônia – Ôxi, tu é muito pessimista. Tem de ser otimista. Eu sempre digo eu vou conseguir, eu vou, vou conseguir…
PRUDÊNCIA
Conversa em 25/10/2001
O deputado Pinheiro Landim diz para o traficante Wilson Torres, sócio de Leonardo Mendonça, ‘ficar calado’ e ‘esperar o resultado’, para que possam resolver satisfatoriamente. ‘Como as outras vezes’:
Wilson – Bão, como é que andam as coisas?
LANDIM – …Tá sendo preparada daqui pra segunda-feira.
Wilson – Hã?
Landim – Daqui pra manhã, segunda tá dando entrada.
Wilson – É?
Landim – Tá.
Wilson – Certeza?
Landim – Certeza. Tá dando entrada, não é a… não é decisão.
Wilson – Ah, tá dando entrada ainda?
Landim – Lógico.
Wilson – Eu tinha dado entrada.
Landim – Não… tem que ter muita cautela, viu? Muita cautela, muita cautela. Eu tenho reclamado muito, vim aqui só reclamar, fofoca, num sei o quê, isso não ajuda; qualquer tipo de pressão só prejudica.
Wilson – É…
Landim – Isso é assunto pra ficar calado esperando o resultado. Você sabe que já é uma reincidência, né?
Wilson – É ..eu achei que tinha dado pelo menos entrada.
Landim – É, mas tem que ser na hora certa, para cair na pessoa certa. Isso tem uma estratégia.
Wilson – É… tá certo… deve demorar mais uns…
Landim – …quase tudo envolvido com isso.
Wilson – Aí ninguém sabe quando, né?
Landim – Na próxima semana eu te dou uma posição. Isso não é assunto fácil, requer toda prudência, toda discrição, tá entendendo? Para que a gente possa resolver satisfatoriamente, como resolvemos as outras duas vezes, só que essa já é uma terceira vez, que, evidentemente, a gente tem é informações bem mais precisas de uma análise profunda, que tem grande possibilidade, como teve das outras vezes. Agora, na base do tem que ser hoje, tem que ser amanhã, não funciona, e não existe isso.
LÁ EM BRASÍLIA
Conversa em 5/11/2001
Orlando Marques, traficante preso em São Paulo, fala com Valdemar Ferreira, um dos gerentes da quadrilha:
Orlando – Vou pagar US$ 250 mil pro cara resolver aquele problema meu lá.
Valdemar – É mesmo, cara?
Orlando – Lá em Brasília. O cara queria quatrocentos. A máfia que tem lá, né?
Valdemar – Pelo amor de Deus.
Orlando – Tem até ministro no meio. Mas vale a pena, num vale?
Valdemar – Ah, sei lá. Você tá correndo atrás desse objetivo de limpar seu nome, né? Eu encaminhava pra outro caminho, mas você já gastou o maior dinheiro, né, fazer o quê?
Orlando – Anula pelo menos a cadeia, não fica condenado lá, não tem mais risco de ir pra cadeia de São Paulo, né?
PAPEL
Conversa em 20/3/2002
Leonardo Mendonça diz ao sócio Wilson Torres que Pinheiro Landim ajuda sua campanha:
Leonardo – Ele (Landim) ainda falou o seguinte pra mim: manda ele seguir a vida dele e caçar um jeito de arrumar papel pra campanha (risos). Já não deixou de dar uma cantada, né?
ENCONTRO
Conversa em 9/5/2002
Pinheiro Landim, Leonardo Mendonça e Silvio Rodrigues marcam encontro:
Landim – Eu vou agora pro aeroporto e a gente se encontra antes. Tem um posto de gasolina…
Leonardo – Pera aí, explica pro Silvio que ele entende melhor. Eu não conheço nada.
Landim – Silvio, antes do aeroporto não tem um posto de gasolina?
Silvio – Tem, chegando lá no aeroporto.
Landim – A gente se encontra naquele posto, tá?
Silvio – Combinado.
O PROCURADOR
Conversa em 25/1/2001
Leonardo Mendonça e Wilson Torres conversam sobre suposto controle que teriam sobre procurador da República no Maranhão:
Wilson – O Cabeção.
Leonardo – Não, o Cabeção tá no Comprido. O cara marcou com ele lá no final de semana, entendeu? Ele vai inclusive almoçar com o cara no domingo. Não tem… os dois, tem um que assina e tem um que pede?
Wilson – É exatamente.
Leonardo – Ele vai almoçar com o que pede, entendeu?
Wilson – Ah, mas o importante é o que decreta.
Leonardo – Não… não… não, mas num é, porque ele decreta se o outro pedir, né? Na verdade, o outro é que bota fogo, né?
O DINHEIRO ATRASOU
Conversa em 5/12/2000
Luiz Antônio de Abreu, secretário de Leonardo Mendonça, explica a Núbia Zanine, mulher do traficante Ecival de Pádua, que Ecival e outro criminoso não saíram da prisão porque a parcela do suborno atrasou:
Luiz Antônio de Abreu – E o careca… também tudo olho grande, começa fazer, não então liga pras muié, vamos falar que o trem tá tudo dando errado… Agora o trem lá é certeza… Sabe o que eles falaram. Não, num saiu os meninos aí, porque tinha uma parcela do Menino (a PF acha que é Igor Silveira), que atrasou oito dias, pode um trem desse? Era pra ter pagado dia 24, pagou dia 30, atrasou na realidade seis dias.
Núbia Zanine – É, tanto é que ele ligou aqui esses dias e falou que num sei o quê, tá entendendo, falou isso também.
Luiz – Você entendeu?
Núbia – Hum hum.
Luiz – Quer dizer… realmente atrasou, mas você acha que um motivo desses de atrasar seis dias numa parcela naquele valor… volume que é, e você sabe que os volume é grande, né?
Núbia – Sei, sei.
O CAPA PRETA
Conversa em 2/1/2001
Helder Mendonça, irmão de Leonardo, fala com Luiz Antônio de Abreu sobre um processo que está com o desembargador Eustáquio Silveira, do Tribunal Regional Federal, do Distrito Federal:
Luiz Antônio – Você sabe: é hoje, é amanhã, é hoje, é amanhã, e tá na mesma situação, assim, só que tá na mão do pai do Igor (desembargador Eustáquio Silveira), você entendeu? Você sabe quem é, né?
Helder – Sei.
Luiz – Tá lá na casa dele, e ele falou que só… na mesma situação do outro menino lá.
O PEQUENO
Conversa em 10/2/2001
Antônio Carlos Ramos e Silvio Rodrigues Silva, sócios de Leonardo Mendonça no tráfico, falam sobre habeas corpus de Leonardo que está na 4a Turma do TRF.
Antônio Carlos – Você tá olhando o papel aí direto?
Silvio Rodrigues – Tô olhando, tô olhando… ainda não, só se tiver alguma notícia. Mas eu acho que só segunda-feira, porque… desceu pra turma de lá, vai pra pauta, quando desce pra lá, de lá vai pra plenário, aí tem que ver que dia que tem sessão, como é lá no TRF, não sei, tinha que ir lá para saber.
Antônio Carlos – Quero saber o do Pequeno (Leonardo Mendonça).
Silvio – É isso mesmo, na 4a Turma. E aí, como é que tá aí?
Antônio Carlos – Só agoniado, aguardando a posição. |