A difícil arte de definir Delegados. 20

A difícil arte de definir Delegados.

Hoje minha mulher me perguntou se eu não faria concurso para Delegado, pois me vira desistimulado, diferente de outros tempos que ficava até começo da madrugada e mitigava horário de almoço e lazer por livros e pesquisas.
Confesso que a resposta não saiu facilmente da boca. Rapidamente respondi que não participaria mais de concurso algum, pois já estava com muitas feridas pelo que tinha experimentado dessa classe e do que via acontecer com colegas que não tinham conhecimento de direito, mas mesmo rápida a resposta fiquei com ela processando na mente por um bom tempo.
Não sabia distinguir se estava ressentido por não ter passado no concurso e daí praguejar contra a classe ou se realmente a classe, excetuando-se minoria da minoria, realmente não valia um balde de esterco.
Vivi um começo de polícia civil em plena alucinação, culpa de uma droga, ou cachaça, sei lá, que entra no corpo e acreditamos que de uma cidadezinha qualquer vamos consertar o mundo. Tão logo terminei a facul prestei a ordem e foi de prima, mas advogar não era algo que desejava, pois queria mesmo era ser delegado. O casamento com a polícia civil então entrou em crise. Comecei a ver defeitos na amada. Seus parentes então passaram a tomar forma de monstros a mim. Mesmo assim insisti num concurso e sinceramente a prova não era difícil, faltou mais alguns meses de empenho, mas depois pratiquei uma introspecção sobre os dirigentes da PC. Que tristeza. Trabalhei com vários delegados, também com vários não delegados, como nós somos chamados, meros carregadores de piano. Hoje apenas cumpro horário, não faço questão de orientar o sanguessuga de 100 quilos da distrital a como resolver melhor determinado problema. Se ele quebrar a cara quebrou, se não quebrar não quebrou. Claro que o Governo tem parcela de culpa, mas indubitavelmente foram eles que em tempos idos deixaram escorrer pelas mãos a grande oportunidade de melhorar nossa pc. Estão até hoje a grande maioria afogados na própria vaidade. Já ouvi da boca de alguns poucos que nas reuniões que fazem que a ordem é para “fritar” qualquer um dos não delegados, antes que atirem a frigideira quente neles. Sufocar qualquer movimento pela intimidação, não deixar descobrir que nós somos detentores de direitos que qualquer trabalhador tem. A meus olhos é típico comportamento de fracos. Claro, no meio de tantos há alguns que são bons, outros melhores, mas de certa maneira já sucumbiram à mão pesada e retrógrada dos chefetes. São corpos vazios a caminhar nos DPs, talvez aprisionando um espírito revoltado com o que veem e ouvem nas ditas reuniões. A nós não delegados cumpre apenas “executar”. Pensar ou exigir é algo injurioso e inaceitável. Observo o chefe de meu DP. Arrasta um corpo pesado, cheio de problemas, fingindo que gosta dos funcionários e implicitamente suplicando para que escrivães façam a parte dele, ou seja, relatem inquéritos, não o incomodem com a natureza de certos boletins e que façam um flagrante sozinho, sem lhe aborrecer, ou que a tiragem não alcance nada na rua, que sejam as boas vaquinhas de presépio, mas quando questionado para aposentar, pois tem tempo de sobra, diz que por conta do GAT não pode, pois é dinheiro que sempre vem em boa hora. Com tal gratificação o governo está criando matusaléns na polícia, que ficaram arrastando seus cadáveres pelos corredores, despencando em pedaços diários em detrimento da melhoria da polícia. Juro que fiz um raciocínio para encontrar qualidades, mesmo naqueles que foram bons delegados, mas está difícil a tarefa. Claro que respeito aqueles que já os encontraram, mas diariamente sedimento o entendimento que é necessária uma reforma na legislação, que contemple o cargo de delegados, seus misteres e uma melhor aplicação no contexto policial-judiciário. Lamentavelmente apenas nas equipes de futebol que mudam o técnico quando o time vai mal. A polícia civil é uma equipe, buscando a vitória de um longo campeonato, mas há tempos que disputa partidas de um sofrido varzeano e que ninguém se deu conta que a tática do técnico está totalmente errada.

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Sublime!

Luís, apenas  faça com amor as tarefas que executar; na atual ou futura carreira. Ame a tua obra em favor da coletividade , dela você faz parte;  nunca ame o cargo, a carreira ou a Polícia. 

Acima de tudo, no teu trabalho, ame o teu nome. 

O amor  pela carreira e pela ” instituição”  tão exacerbado internamente não passa de FALSO CORPORATIVISMO; de certa forma igual ao patriotismo conceituado por Samuel  Johnson: O ÚLTIMO REFÚGIO DOS CANALHAS.

P.S. :  GAT , ALE e penduricalhos: conversa mole! É o 1530 que nos fala muito alto. Esse o verdadeiro motivo e combustível, nosso Viagra, pelo qual nos  arrastamos  até os 70. Uma grande parcela  de nós.

Um Comentário

  1. Luis, sua reflexão tem meu respeito e faz parte de uma autocrítica que a classe precisa fazer.

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  2. Você não precisa ter o melhor emprego para fazer o melhor trabalho.

    Parabéns pelo texto.

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  3. Olha Dr. Guerra, não me dá prazer algum esse tipo de postagem que fiz. Poucas classes de funcionários públicos tem suas denominações contempladas na Constituição Federal. Delegados de Polícia nesse quesito posicionam-se lado a lado com juízes e promotores, carreiras fundamentais para a justiça brasileira e que tem suas atribuições e poderes determinadas por legislações, infelizmente leis essas criadas por alguns homens de pouquíssima cultura, seja jurídica, social ou outra ciência que os faça melhores como indivíduos. Não há dúvida que o cargo de delegado de polícia é a menina dos olhos de muitos jovens que deixaram, vão deixar ou ainda não ingressaram em uma universidade. O que causa mágoa é que um cargo tão portentoso assim, tão desejado por muitos e alcançado por poucos, interna corporis causa repulsa na maioria dos agentes de autoridade. Cortar a própria carne como alguns dizem não resolverá muita coisa. Delegados e agentes são indivíduos que a sociedade emprestou ao Estado para desempenho de determinada função e por isso carregam em si os genes dessa mesma sociedade. Se a sociedade é má, dificilmente seu empréstimo dará bons frutos. Não devo culpar tão somente os dirigentes da polícia civil, mas insisto que tiveram oportunidades boas para melhoras institucionais. Se querem que tão somente a classe cresça, desistam. Todos os cargos são a polícia civil. Mesmo que eu tenha cursado uma faculdade, obtido êxito num exame de ordem e faça cursos complexos que vão aprimorar-me como homem ou policial, ainda assim aos olhos do estado serei tão somente um policial como aquele outro, que chega nos plantões dopado de algum tarja preta, que tira o fone do gancho para não ser atrapalhado na hora que vê um filme. Os delegados tem papel fundamental na recuperação da polícia civil e mesmo que leve 100 anos para mudanças radicais na estrutura policial civil, sem nos convidar para essa empreitada, farão tão somente uma grande pirâmide, bela de se admirar, misteriosa na razão da construção, mas que nada mais é do que um túmulo.

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  4. Realmente precisamos de novos tecnicos pois o nosso time vai de mal a pior. so quem não percebe que tal mudança é bem vinda são os ditos caipitães cegos pela vaidade, que se acham insubistituíveis e não percebem que estão perdendo todas as partidas e levando o time para o fundo do poço com todos seus jogadores desanimados,cansados e sem perspectiva, exceto os que lucram com tanta derrota.

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  5. A Policia Penal VÊm aeeeee !!!!

    Pec 308 !! Vamos assumir os DPs !!!

    Policia Penal é o futuro !!!

    seremos os melhores !!

    `PEC 308 já

    Vacarezza Deputado !!!

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  6. “…mas de certa maneira já sucumbiram à mão pesada e retrógrada dos chefetes. São corpos vazios a caminhar nos DPs, talvez aprisionando um espírito revoltado com o que veem e ouvem nas ditas reuniões…”

    É triste dizer, mas me reconheci nessa frase.

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  7. Sinto-me envergonhado por me deixar comandar por homens sem a menor capacidade de liderança, administrativa e jurídica.
    Embora também Delegados de Polícia, tratam-nos com desdém, como se não ferissem de morte a sí próprios.

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  8. falou pouco,mas disse muito,é para refletir e pensar
    bem naquilo que deseja fazer,mas o nosso tipo de serviço nos torna frio pois convivemos com o que ha de pior, portanto temos que refletir e muito.

    PSDB/DEM NUNCA MAIS

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  9. A esperança são os novos delegados, porém os mesmos já estao sendo engolidos por essa maquina de moer gente.

    Tenho algumas perguntas:

    Será que em outros estados é assim também?

    A quem interessa acabar com a polícia civil bandeirante?

    A quem interessa a polícia civil fragilizada deste jeito?

    Será que o crime organizado já conseguiu ter exito nesta missão?

    A unica certeza! O PSDB é o grande culpado por parte desta tragédia no estado de SP.

    E nós ficamos paralizados, nem greve conseguimos fazer…. a gente somos inuteis!.

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  10. Não culpem o PSDB pelo estado em que se encontra nosso comando,como oLuis bem disse , são os “matusalem” que se agarram ou ao GAt,ou ao pseudo poder, ou mesmo a outra vantagens , taís, como a mordomia de terem em suas delegacias ,carro, combustível, secretárias, telefones a seu dispor,presentes de empresas,acesso franqueado à vários setores,tanto comerciais como industriais,fazendo em paralelo sua firmas de segurança, seus despachantes familiares,cartórios,sem falar na facilidade das informações para contratação de funcionários (empresas) cujos DVcs são levantados a preço de ouro,as seguradoras, os leiloeiros de plantão,enfim junto com o Gat, vem mil outras desculpas bem remuneradas,para que se perpetuem no cargo que nunca amaram nem ao qual se dedicaram.Note-se que em nenhuma dessas vantagens está ocumprimento do dever,o cuidado com a população.Enfim, oPSDB pode ter cavado nos reconcavos da PC,despreparados sem vocação, para servir e proteger, e sim para serem servidos e protegidos.è tudo uma questão de competência, alguns cumprem seu trabalho por amor ao que fazem,mas a grande maioria aqui está, para serem beneficiados a qualquer preço desde que valoro$$o.

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  11. RESUMINDO: “Somos os indesejáveis, chefiados pelos incompetentes, fazendo o indispensável, em favor dos ingratos.”

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  12. Este é o grande erro da Policia Civil, não prestigia seus integrantes, prefere aos não integrantes da carreira para Delegado. È uma questão obvia de lógica, se um Escrivão, Investigador etc.. está na carreira a cerca de dez anos, é bem provavel que já conheça a fundo as agruras da profissão, logo, sua desistência é quase impossivel, já que por anos demonstrou que tem aptidão pela Polícia, porém, dá-se preferência à inexperientes, que já no começo da carreira ficam trancadinhos em seus mundinhos da internet, navegando enquanto o plantão corre solto. Não estou generalizando, muitos são ótimos, mas alguns não mereceriam ser Delegados, isso em detrimento dos operacionais que já demonstraram competência suficiente. Diriamos que seria desleal para com os de fora darmos preferência ao nosso público externo, porém, se o tal “Dr.Tonelada” que nem formado em direito era, galgou a carreira, e só foi descoberto por uma série de burradas no exercício, e só se tornou Autoridade por razões de apadrinhamento político, por que não fazemos mais uma para benefício dos desmotivados policiais antigos, e porque não dizer da propria Policia Civil. Sou policial a 26 anos,22 anos como Delegado, tenho amigos Operacionais ultra competentes e honestos,porém, não conseguem êxito em concursos, logicamente a desmotivação e a exacerbação do trabalho os torna desatualizados da doutrina juridica, que os levam à concorrência injusta com os jovens recem saidos das faculdades. A PM nesse ponto foi mais estratégica, percebendo a evasão de praças para à PC. criou o concurso interno para oficiais. Após 15 anos de carreira, não tendo punições, possuindo formação superior, o praça tem a chance de chegar ao oficialato após um ano de academia, podendo, ao final da carreira, chegar à patente de MAJOR RES PM, o que garante um salário digno. Façamos isso também na Policia Civil, se a transposição é inconstitucional, criemos um cargo para esse fim, que garanta um salário e um status ao Operacional quando da aposentadoria.Que a cúpula e os políticos pensem seriamente sobre isso, somente assim reconquistaremos a confiança perdida por parte dos Operacionais, se é que um dia ela existiu.

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  13. errata: leia-se darmos preferência ao nosso público interno, e não externo como foi grafado

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  14. Decente esse Luis hein……..belas palavras…..

    Muita serenidade……….Pura realidade

    Meus Parabéns

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  15. Estamos nesta estagnação, primeiro por culpa da nossa cúpula, que devida a sua inércia auxilia indiretamente a PM e o MP.

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  16. capitão do mato esta certo, a propria cupula da policia não valoriza os seus operacionaes,da preferencia a sobre nome e quem não tem na veia o sangue policial, porque para ser policia tem que ser vocacionado e não apadrinhado, por isso que estamos nesta merda, não adianta se formar e depois se brecado num exame horal, e quando chega no fim da carreira fica esperando que aconteca algo para ter uma melhoria salarial, não é justo.

    PSDB/DEM NUNCA MAIS
    fora serra fora alkimim.

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  17. Belo texto, triste realidade…
    Não nos esqueçamos que a PC sempre foi subordinada à ssp. Portanto, tivemos como técnicos os sucessivos governos, que escalam matusalens como titulares absolutos. Parabéns, Luiz, mas não há mal que sempre dure, não há mal que nunca acabe. Tenho esperanças de que o serviço público bandeirante melhore. A imprensa não fala, mas houve um desmonte e sucateamento brutal do estado nestes últimos 20 anos.

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  18. Interessante é que nos concursos pra oficias FFAA tem RESERVA de vaga pra quem já é a da casa (praças). Enquanto isso, a vantagem de um não-delegado para um universitário patrocinado é lá no QUINTO critério de DESEMPATE, DEPOIS da prova de títulos.

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