Comandante da Rota afirma que não há discriminação da polícia
ROGÉRIO PAGNAN
DA REPORTAGEM LOCAL
O tenente-coronel da PM Paulo Telhada, comandante da Rota, disse que os casos envolvendo os motoboys foram fatos isolados, fatalidades, que não refletem o trabalho realizado em milhares de atendimentos feitos todos os meses. Desde abril, dois motoboys foram assassinados na capital paulista. Os suspeitos dos crimes são 16 policiais militares. A acusação diz que os motoqueiros foram agredidos até a morte. A defesa nega o envolvimento dos PMs. Um deles, Eduardo Luís dos Santos, foi detido, em 9 de abril, por discutir com policiais na Casa Verde (zona norte de SP). O corpo dele foi encontrado no dia seguinte. O outro motoboy, Alexandre dos Santos, apanhou até morrer no bairro Cidade Ademar (zona sul). Sua mãe, Maria Aparecida Menezes, testemunhou as agressões.

FOLHA – A polícia está mais truculenta?
PAULO TELHADA – A polícia, mais do que nunca, está investindo em instrução. Infelizmente, aconteceram esses problemas. Duas ocorrências causam todo esse transtorno e levam a pensar que a polícia está truculenta. De maneira nenhuma. Isso foi uma fatalidade, o comando está tomando todas as providências que precisam ser tomadas. Pode ter certeza que no final de todo esse procedimento todas as providências que precisarem ser tomadas, serão. Na Polícia Militar nada fica escondido. Se precisar cortar na própria carne, será cortado.
FOLHA – Há preconceito por parte do policial com motoboys?
TELHADA – Para com isso. É até um absurdo ouvir isso. A polícia não tem preconceito contra nada. Não temos time de futebol, religião, não temos cor. A polícia trabalha para todo o mundo. Se fossem japoneses, teríamos preconceito contra japoneses. Se fosse com negros, seria contra negros. Se fosse com macumbeiros, seria contra macumbeiros. Não tem nada a ver. Vocês sabem muito bem, quanto mais hoje em dia, o número de roubos envolvendo motociclistas. Não existe qualquer preconceito. Nem sei se era motoboy. E quem garante que o cara era motoboy. Motoboy de madrugada? Eu nunca vi isso. Entregador de pizza depois da meia-noite? Quantas ocorrências atendemos por dia? São milhares. A PM tem 93 mil homens. Quando um pratica uma besteira dessas, os outros 92.999 precisam ouvir isso: que somos truculentos, que somos racistas. É complicado.
Motoqueiros dizem sofrer preconceito da polícia
Dois motoboys já foram assassinados pela PM neste ano em São Paulo
Profissionais descrevem agressões cometidas por policiais e desrespeito de motoristas; reportagem não conseguiu falar com a PM
RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL
Quem anda de moto em São Paulo não reclama apenas dos perigos do trânsito. Os motociclistas da cidade também se dizem vítimas de preconceito.
A Folha foi à General Osório (centro), famosa pelas lojas e oficinas especializadas em motos, e ouviu a mesma queixa tanto de pessoas que têm a moto como instrumento de trabalho quanto de quem a usa como mero meio de transporte.
“Basta estar em cima de uma moto, e você vira um bandido. É assim que as pessoas raciocinam”, afirma o motoboy Adilson Cabral, 28, que trabalha para uma empresa de seguros.
A situação mais grave, segundo eles, é quando são parados nas blitze da Polícia Militar. “A abordagem é estúpida. Mandam pôr a mão na cabeça, são violentos, te chamam de vagabundo, multam por qualquer coisinha…”, afirma o motoboy Lúcio Rodrigues, 31.
“Existe uma minoria [dos motociclistas] que faz besteira [comete crime]. A maioria está na rua para trabalhar. Mas, quando um faz, todos pagam.”
O mecânico Tiago Cristiano, 26, que só usa a moto para ir ao trabalho, diz ser parado pela polícia quase todos os dias: “Já levei pontapé [de policial]. O curioso é que eles nunca fazem isso com quem está de carro”.
Capacete proibido
A Folha não conseguiu contato com a Polícia Militar na sexta para que comentasse as declarações. Dois motoboys foram mortos pela PM nas últimas semanas em São Paulo.
A moto permite fuga rápida e o capacete impede que se identifique o criminoso. Procurada pela Folha, a Secretaria de Estado da Segurança Pública disse não ter estatísticas sobre crimes em São Paulo cometidos por ladrões em motos.
Em 2007, um juiz da cidade alagoana de São Sebastião contrariou as leis de trânsito e proibiu os motociclistas de usarem capacete no município. Alegou questões de segurança.
Mulheres assustadas
O constrangimento mais comum, de acordo com os motociclistas, ocorre no sinal vermelho. Quando a moto para, a pessoa que dirige o carro ao lado não esconde o temor: corre para fechar a janela, trancar a porta e esconder a bolsa.
“Algumas mulheres viram a cabeça para o outro lado. Têm medo até de olhar. Se pudessem furariam o sinal vermelho para sair dali”, conta o advogado Sérgio Cordeiro, 27.
Ele diz que já se acostumou aos olhares tortos quando está em cima de uma de suas duas motos. “A culpa também é da TV. Já reparou que o bandido está sempre de moto?”
Os motociclistas dizem que também veem expressões de susto quando entram numa loja ou num edifício com o capacete na cabeça.
De acordo com a Abraciclo (associação de fabricantes de motos), São Paulo é o Estado com mais motos no país -cerca de 3,6 milhões.
_“A instituição não é composta por um delegado que faz acusações, e sim por 35 mil pessoas. Até provem o contrário todas são honestas. Se ficar provado contra estes policiais todos serão punidos”, afirmou o delegado da corregedoria Caetano Paulo Neto.
http://sptv.globo.com/Sptv/0,19125,LPO0-6147-20070705-289874,00.html
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Verdadeiramente, ambos dominam a arte de induzir em erro publicamente.
