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10 de maio de 2010 | N° 16331 ZERO HORA

FIM DE CARREIRA

Chefe deixa Polícia Civil após sumiço de pistola

Episódio, que ainda não está esclarecido depois de 74 dias, ajudou a desgastar João Paulo Martins

O delegado João Paulo Martins não é mais o chefe da Polícia Civil do Rio Grande do Sul. Com 32 anos de serviço, Martins ruma para a aposentadoria, que deve ser publicada no Diário Oficial do Estado. O principal motivo para a saída de Martins é o desaparecimento de sua pistola funcional, em 24 de fevereiro. Setenta e quatro dias depois, o episódio não foi esclarecido.

Martins pediu para sair. É a versão oficial. Nos bastidores, porém, sabe-se que a história é um pouco mais delicada. O delegado, que já foi corregedor-geral da corporação, teria sido pressionado a deixar o cargo desde que o suposto furto de sua Taurus calibre.40, publicado na página 3 de ZH, se tornou público.

O desaparecimento da pistola, que leva um brasão do Estado do Rio Grande do Sul e o nome da Polícia Civil gravados na lateral direita do cano, tem pelo menos duas versões oficiais.

De acordo com Martins, antes de ingressar no prédio da Secretaria da Segurança Pública, na Rua Voluntários da Pátria, para um encontro com o secretário Edson Goularte, ele acomodou sua pistola no soalho do Focus utilizado pela Chefia de Polícia. Polido, Martins evita transitar com pistola na cintura em alguns prédios públicos para não constranger interlocutores.

O lapso se iniciou quando o delegado retornou ao veículo, no final daquela manhã, e não teria pego a arma. Ele só se daria conta de que não estava com a pistola às 14h30min do mesmo dia, já em seu gabinete.

Martins não sabia, mas logo após o almoço, o motorista – cujo nome o delegado prefere preservar – havia deixado o veículo no pátio da Divisão de Transportes da Polícia Civil para que fosse lavado. Ao ingressar no carro, por volta das 15h, a pistola havia sumido.

Na semana passada, uma hipótese diferente se tornou pública. Martins passou a admitir que a arma talvez tivesse sido levada quando o veículo estava estacionado no pátio da Secretaria da Segurança Pública. No prédio, trabalham presos em regime semiaberto. Em consequência, duas equipes de policiais civis estão rastreando os passos desses detentos. Uma delas chegou a receber dica com nome do homem que teria furtado a arma e inclusive do traficante que a teria comprado, na zona sul de Porto Alegre. Até agora, apesar da pressão que sabidamente a polícia faz nesse tipo de episódio, a pistola não reapareceu.

Pedido de prisão de coronel pode ser outro motivo

Outra hipótese para a saída seria o pedido, na sexta-feira, da prisão preventiva do ex-chefe da Casa Militar do Palácio Piratini, coronel Joel Prates Pedroso, de acordo com o blog Direto da Fonte (www.zerohora.com/diretodafonte), do jornalista jornalista Giovani Grizotti. O coronel foi indiciado no suposto envolvimento no desvio de telhas da Defesa Civil. Segundo Grizotti, fontes do governo apontam que Yeda Crusius teria ficado irritada porque só foi comunicada do caso pelo ex-chefe de Polícia após o pedido de prisão entrar na Justiça. A governadora teria pedido a Martins para que avocasse o inquérito, ou seja, assumisse a investigação, mas não houve tempo.

Uma terceira possibilidade é a recente animosidade envolvendo delegados e promotores que trabalharam na investigação da morte do ex-secretário municipal da Saúde Eliseu Santos. O Ministério Público apontou aquilo que considera um elenco de falhas no inquérito sobre esse assassinato, num desgaste que se tornou público. Todos os delegados consultados por ZH são unânimes: um embate com o MP seria incapaz de derrubá-lo.

Por enquanto, o cargo será ocupado pelo subchefe, Álvaro Chaves