Segurança pública: um debate atrasado e urgente
Segurança pública não é só um problema cotidiano dos cidadãos – é questão de governo e de Estado, diz especialista
01 de maio de 2010 | 7h 25
ENTREVISTA – Rogério Bastos Arantes é professor do departamento de Ciência Política da USP
Quando o cientista político Rogério Bastos Arantes decidiu, em um trabalho inédito, construir um banco de dados para analisar 600 operações da Polícia Federal ocorridas entre 2003 e 2008, ele esperava conhecer a ação do Estado contra a corrupção e o crime organizado no País. O que acabou conhecendo melhor, conta ele, foi outra coisa: “Como o crime organizado e a corrupção são dependentes do Estado”.
Professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (USP) e docente da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) de 1995 a 2008, Arantes, 41 anos, é um especialista no funcionamento das instituições políticas e judiciais brasileiras. Goiano de Anápolis, ele viu sua pesquisa sobre a atuação da PF ganhar relevância extra essa semana, quando notícias sobre o grupo criminoso Primeiro Comando da Capital (PCC) extrapolaram as fronteiras nacionais.
Dois brasileiros supostamente ligados à organização foram presos em Pedro Juan Caballero após um atentado contra o senador paraguaio Robert Acevedo. Não foi só isso: na segunda-feira, o governo dos EUA emitiu um comunicado pedindo que seus cidadãos evitem o litoral sul paulista, onde 13 assassinatos foram atribuídos à facção criminosa nos últimos dias.
Diante dos fatos, os principais pré-candidatos à Presidência da República foram à guerra. O postulante tucano, José Serra, prometeu, se eleito, a criação de um Ministério da Segurança Pública. A petista Dilma Rousseff rebateu, exaltando a coordenação federal da área, que já vem sendo feita via Ministério da Justiça. “Pela Constituição, cabe aos governos estaduais o combate ao crime”, ressalta Rogério Arantes, “mas segurança pública diz respeito também a políticas de governo e de Estado”.
Na entrevista a seguir, o cientista político fala do atraso com que o tema da segurança entrou na agenda da redemocratização, dos R$ 22 bilhões em recursos sugados do País pelas organizações criminosas – mais que o orçamento anual do Bolsa-Família -, do papel decisivo e dos riscos da atuação da PF e da conivência que marca por vezes o cidadão brasileiro: “As pessoas costumam ver a corrupção apenas no Estado, mas ela está na sociedade também”.
Pesquisas de opinião mostram que a segurança, ao lado da educação, é a segunda maior preocupação dos eleitores brasileiros, atrás apenas da saúde. O tema será decisivo na campanha presidencial?
Sem dúvida, é um dos temas candentes da opinião pública nacional por aquilo que cerca as pessoas em seu cotidiano. Mas o debate entre os principais candidatos, Serra e Dilma, me parece, vai além: diz respeito a políticas de governo e de Estado. Foi o que os levou a divergir sobre a criação de um Ministério da Segurança Pública.
Um novo ministério é o caminho?
Eu diria que é natural que essa ideia apareça no contexto atual. Uma política que, segundo a Constituição, é fundamentalmente estadual, sofreu nos últimos anos um deslocamento para o plano federal – em função da política de segurança capitaneada pelo Planalto. Esse deslocamento envolve um fortalecimento das instituições federais de combate ao crime organizado e à corrupção, como a Polícia Federal e o Ministério Público. O governo chamou para si a responsabilidade de coordenar a área, e a proposição de um Ministério da Segurança viria consolidar esse processo.
E por que Dilma rejeitou a proposta?
Foi como se Serra se apropriasse de uma política que vem sendo conduzida de modo bem-sucedido pelo atual governo – na linha da estratégia de campanha tucana, que é a do “podemos mais”. Dilma disse que a questão é mais de coordenação que de institucionalização em forma de ministério, pois é o que o Ministério da Justiça já vem fazendo. E em nível bastante agressivo: hoje, 17 Estados têm como secretários de segurança delegados da PF que foram conduzidos ao cargo mediante essa política articulada entre o governo federal e estaduais. E as Secretarias de Segurança sempre foram cargos estratégicos para as elites locais – que hoje não se incomodam ou se veem obrigadas a cedê-los para o nível federal. Dilma também disse: “Nós fizemos a Força Nacional”. Mas o eleitor pergunta: onde está essa força? Ela não existe como corporação, é um conceito, que serve, nos casos previstos pela lei, para reunir policiais de corporações já existentes. A verdadeira força nacional hoje é a PF.
Por quê?
Ela é uma novidade republicana. Para repetir o bordão de Lula, nunca na história deste país se teve uma força policial de caráter civil, sob o comando do Poder Executivo federal e com capacidade de atuação em todo o território nacional. Nem os militares ousaram “empoderar” assim a organização. Após a ditadura não se fez isso, o governo FHC não o fez – exceto no final, quando inicia o reaparelhamento da PF. Quem de fato “soltou os federais” foi Lula. Já a criação de um ministério específico para a área esbarraria no texto constitucional. Seria uma tarefa mais complicada.
Nos últimos dias, o PCC saltou do noticiário paulista para o internacional, com o atentado no Paraguai e a recomendação do governo americano para que seus turistas evitem o litoral sul de São Paulo. A pressão de fora pode mobilizar as autoridades brasileiras?
Esses episódios pressionam o governo, mas são de fôlego curto. Entretanto, é perigoso para a segurança do Estado brasileiro o fato de que na região fronteiriça haja uma confluência do tráfico de drogas, de armas e do crime organizado. Quando um Estado não consegue controlar minimamente seu território e o uso da força nele, a ponto de ter que decretar “estado de exceção”, como fez o Paraguai, passa a caminhar na direção do que a literatura chama de failed states – “Estados falidos”. No Brasil, o crime organizado nunca chegou a ameaçar a ordem nesse nível. Mas a atenção do País deve ser redobrada.
Depois de um período de retração, o número de homicídios em São Paulo, a principal unidade da federação, voltou a subir. Outro dado preocupante: desde 2004, 21.240 das 97.549 armas de fogo registradas em nome de empresas de segurança privada foram roubadas ou furtadas. O que fazer?
Cabe à PF a fiscalização do porte de armas pelas empresas de segurança. A polícia não vinha sendo capaz de exercer esse controle de fato, e a sociedade desconhecia esses números e seu significado. Nós realizamos um referendo nacional sobre comercialização de armas e não dispúnhamos dessa informação crucial sobre o ingresso de armas no mercado ilegal brasileiro.
Por que o debate sobre segurança parece tão atrasado no País?
Porque desde a redemocratização a questão da segurança foi muito mais trabalhada sob o signo dos direitos humanos do que do fortalecimento do aparato policial. Isso foi muito benéfico, mas travou a discussão sobre a questão do crime a necessidade de reaparelhar as instituições de segurança pública. Naquele momento, importava mais reconstruir o Estado de Direito. O que ocorre agora é uma mudança de paradigma, e não deixa de ser curioso que tenha tido início na passagem da era FHC para a era Lula. Talvez por isso o Plano Nacional de Direitos Humanos (PNDH-3) não tenha encontrado terreno propício no debate público ou o STF tenha posto uma pedra sobre a ideia de revisão da Lei de Anistia. Não sei se essa é a melhor forma de encerrar o longo ciclo da redemocratização, mas diria que foram os últimos suspiros do cisne.
Uma das conclusões da pesquisa que o sr. realizou foi de que o crime organizado no Brasil é ‘dependente-associado’ do Estado em 4 de cada 10 casos. O que isso quer dizer?
Que, em grande parte dos casos, o crime organizado depende do Estado e de seus agentes para se realizar. Seja de modo ativo, pelo assalto a recursos públicos, seja passivo, pela corrupção das atividades de fiscalização e de policiamento. Quando decidi estudar as operações da PF, estava motivado pela ideia de conhecer a ação do Estado contra a corrupção e o crime organizado. O que acabei conhecendo melhor foi como o crime organizado e a corrupção são dependentes do Estado. O maior número de operações da PF, por exemplo, ocorreu no combate à corrupção no INSS – que, no orçamento federal, detém a maior rubrica. Uma única operação desbaratou uma quadrilha que desfalcou a Previdência em R$ 1 bilhão. De modo que a PF a apelidou de “Ajuste Fiscal”. O volume de recursos movimentados pelas organizações criminosas, estimado a partir de 125 dessas operações, foi da ordem de R$ 22 bilhões (o orçamento do Bolsa-Família previsto para 2010 é de R$ 13,7 bi). Isso quer dizer que boa parte da riqueza socialmente produzida no Brasil não é apropriada pelas vias legais – mas pelo crime, pela sonegação, pela facilitação de negócios ilícitos, etc. As pessoas costumam ver a corrupção apenas no Estado, mas ela está na sociedade também.
Sua pesquisa considera a atuação da PF positiva. Há problemas também?
A PF aparece na linha de frente dessas operações, mas por trás dela há quase sempre uma “força-tarefa”, envolvendo também o MP e o Poder Judiciário e até agentes de outras instituições. Isso gera maior eficácia, mas preocupa os defensores das garantias e liberdades individuais. É o receio de que resultem em abuso de autoridade – como chegou a alertar o ex-presidente do STF, Gilmar Mendes.
Os principais candidatos à Presidência parecem bem informados sobre segurança?
O primeiro round travado entre os dois revela baixo grau de entendimento dessas questões. Quero crer que a campanha eleitoral seja capaz de produzir informação mais qualificada. Se a gente considerar que nas áreas econômica e social o mais provável é que haja continuidade, independentemente de quem assumir a Presidência em 2011, o que pode fazer diferença nas eleições deste ano são áreas como a da segurança. Seria muito útil, por exemplo, se esses candidatos pelo menos antecipassem o perfil dos futuros ocupantes dos cargos de ministro da Justiça e procurador-geral da República. São estes que lideram as organizações mais importantes para a segurança hoje, a PF e o MP, e terão que enfrentar o desafio de manter o equilíbrio das funções no interior do sistema. Eu definiria o meu voto em função dessas escolhas.
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As instituições de maior importância para a segurança do cidadão permanecem fora de quaisquer debates; continuaremos, na visão de políticos e doutores, como meros órgãos destinados ao extermínio e extorsão. Pontualmente: como reles cães de guarda ou de caça; obedientes ao grupo de poder do momento.
Uma tentanto aniquilar outra com grande valentia e estardalhaço, digo das posturas da Polícia Civil e Militar.
Contudo, quando se trata de levantar vozes contra os desmandos e crimes dos governantes, nos postamos como BANDO DE ABESTALHADOS COMANDADOS POR AFEMINADOS BAJULADORES DO PODER.
como tem mãe dina no brasil
é so chamar o dr. pinote que ele resolve
ou melhor chama o velho barreiro
resolver que é bom, ninguem resolve
tamos é bem fudidos
é so colocar dificuldades,e depois fazer palestras
e comecar a vender facilidades, ai esta a solução.
PSDB/DEM NUNCA MAIS [me engana,que eu gosto]
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Bases da Polícia Militar no centro
de São Paulo só dão informação
Pelo menos cinco bases na região central da cidade enfrentam o problema
Texto:
Cinco bases de policiamento comunitário na região central de São Paulo estão ociosas. Os 75 policiais militares que trabalham nelas passam o dia apenas dando informações sobre localização de ruas da área. Moradores e comerciantes afirmam que os PMs não fazem patrulhamento, não interagem com a comunidade e deixam de lado o principal da atividade policial comunitária: a prevenção do crime e da violência. O comando da Polícia Militar admite que o serviço está deficitário e promete encontrar uma solução ainda este semestre.
A reportagem flagrou fechadas as bases do largo do Arouche e da praça da República. Na mesma região, a base localizada na praça Dom José Gaspar, onde fica a Biblioteca Municipal Mário de Andrade, a principal da cidade, é uma das que mais recebe queixas.
Angela Maria de Oliveira, de 68 anos, presidente da Ação Local da Praça Dom José Gaspar, conta que em 2009 viu uma pessoa colocando fogo na praça. A primeira reação foi procurar o policial comunitário que estava próximo ao local.
– O policial me perguntou se isso (o fogo) estava me incomodando.
A presidente pediu então que ele acionasse o 190 da PM.
– Esperei 45 minutos até que chegasse uma viatura, mas ele estava ali ao lado e poderia ter resolvido a questão, já que é um policial comunitário.
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É simples resolver este problema. Tirem as algemas dos Policiais de verdade que querem trabalhar, estou de saco cheio de ver vagabundos cheios de notoriedades levando uma herói só porque seguram a onda de magnatas, tudo isso com aval superior.
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É a Polícia do PSDB, desunida e desmotivada, acho que está na hora de mudar.
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