Plano Real comemora 15 anos
O Plano Real comemora nesta quarta-feira 15 anos desde a implementação com a missão primordial aparentemente cumprida: o controle da inflação. Em dezembro de 1993, ano em que foi iniciado o programa de estabilização econômica, a taxa de inflação medida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estava em alarmantes 2.477,15% anuais. Uma década e meia depois, em dezembro de 2008, a taxa era de 5,9%.
O programa, elaborado pela equipe econômica do presidente Itamar Franco, teve início em 1993 e foi concluído em 1º de julho de 1994. Era nada menos que o sétimo plano em uma série de tentativas de organizar a economia brasileira, que à época era uma das únicas do mundo com inflação acima de 1.000%, junto com Rússia, Ucrânia e Zaire.
A equipe de Itamar possuía nomes como Persio Arida, André Lara Resende, Gustavo Franco, Pedro Malan e Edmar Bacha.
– Foi a primeira e única tentativa bem sucedida de controlar a inflação – destaca o economista Raul Velloso, ex-secretário adjunto de Planejamento do Ministério da Economia, Fazenda e Planejamento que participou de todos os planos anteriores à criação do real.
Para Júlio Gomes de Almeida, economista que atuou como secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda na década de 80, o Plano Real representou o início de um processo que hoje caminha para o que pode ser a “melhor fase do controle da inflação no Brasil”.
Depois da chamada âncora cambial, da taxa de juros muito alta e do ajuste fiscal que o governo fez ao longo dos últimos seis anos, podemos chegar a um modelo melhor, com juros civilizados – acredita Almeida, hoje diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).
Nos 15 anos desde o Plano Real, a inflação acumulada no Brasil foi de 244% – ou 9% dos 2.477% registrados em 1993. Houve também melhora no ganho real do salário mínimo, que valorizou 564% no período, mais que duas vezes a variação da inflação, e acima também da alta da cesta básica, de 158, 1%.
Nos 14 anos e meio anteriores ao programa – de janeiro de 1980 a julho de 1994 – a inflação no país pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do IBGE foi de 11.252.275.628.119% (11 trilhões, 252 bilhões, 275 milhões, 628 mil, 119%).
O professor Fernando Nogueira da Costa, do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), considera inadequado o alinhamento do Plano Real com políticas posteriores.
O Plano Real acabou no ano seguinte. A política de sobrevalorização da moeda já foi algo completamente diferente – diz o economista, que foi vice-presidente da Caixa Econômica Federal.
Entretanto, para a grande maioria dos especialistas o plano real foi sepultado em janeiro de 1999, depois de FHC ter assegurado o 2º mandato. Ou seja, quando o dólar de pouco mais de R$ 1,00, saltou para cerca de R$ 1,80
Crises econômicas
O Plano Real, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, enfrentou três grandes crises mundiais: a Crise do México (1995), a Crise Asiática (1997-1998) e a Crise da Rússia (1999). Nenhuma das três comparáveis à atual crise iniciada em 2008, mas naquelas ocasiões o Brasil – pela necessidade política de FHC manter a paridade entre o real e a moeda americana – foi afetado gravemente, pois estava em reformas e necessitava de recursos, investimentos e financiamentos estrangeiros. Grandes somas de dinheiro deixaram o país devido ao medo que os investidores tinham com os mercados emergentes, o que agravou sensivelmente a situação brasileira.
A crise produziu um grande movimento de fuga de recursos do Brasil, deixando-o sem meios de financiar seu plano de estabilização. Diante dessa situação, o governo viu-se obrigado a aumentar a taxa básica de juros para remunerar melhor esses capitais, impedindo-os de deixar o país. A taxa de juros do Brasil chegou a 45% ao ano em março de 1999. Como conseqüência, houve maior endividamento público, mais cortes de gastos públicos, retração de alguns setores da economia e desemprego.
Outras crises menores também prejudicaram o processo de estabilização econômica do Brasil, tais como a Crise da Argentina (2001), a Crise de 11 de setembro (2001), a Crise Eleitoral (2002). Esta em razão da propaganda alarmista antipetista, ou melhor: contrária ao atual presidente Lula.