O Caso dos Irmãos Naves
narrado por Rogério Schietti Machado Cruz
Promotor de Justiça do MPDFT
Considerado o maior erro judiciário do Brasil. Aconteceu na cidade mineira de Araguari, em 1937. Os irmãos Naves (Sebastião, de 32 anos de idade, e Joaquim, contando 25), eram simplórios trabalhadores que compravam e vendiam cereais e outros bens de consumo.
- “Estamos a 12 de janeiro. Dia terrível para os irmãos Naves. O depoimento de Malta tinha sido tomado a 7. Nos cinco dias subseqüentes, o tenente era ferro em brasa. Diligências aqui, lá, acolá. Dia a dia, levava os presos pro mato. Longe. Onde ninguém visse. Nos ermos cerradões das chapadas de criar emas. Batia. Despia. Amarrava às árvores. Cabeça pra baixo, pés para cima. Braços abertos. Pernas abertas. Untados de mel. De melaço. Insetos. Formigas. Maribondos. Mosquitos. Abelhas. O sol tinia de quente. Árvore rala, sem sombra. Esperava. De noite cadeia. Amarrados. Amordaçados. Água? Só nos corpos nus. Frio. Dolorido. Pra danar. Pra doer. Pra dar mais sede. Pra desesperar. Noutro dia: vai, vem, retornam. O mesmo. Noutra noite: assim. Eles, nada. Duros. Nunca viu gente assim. Nunca teve de ser tão cruel. Tão mau. Tão violento. Nunca teve tanto trabalho para inventar suplícios. E, nada. Dia. Noite. Noites. Dias. Assim, assim. Um dia: 12, vão lá, à beira do rio Araguari, descem a serra. Eles vão juntos. Depois, separados. Escondidos, um do outro. Amarrados nas árvores. Como feras. Como touros no sangradoiro. Pensam que é o fim. Não agüentam mais. Inchados. Doloridos. Dormentes. Esperam. Morre? Não morre? O tenente estava satisfeito. Tinha um plano. Perdera a noite. Mas valia, valeu. Conta pros dois, antes de separá-los, de amarrá-los longe, invisível um ao outro. Vocês vão morrer agora. Vamos matá-los. Não tem mesmo remédio. Não contam. Não confessam. Morrem. Morrerão. Separa-os. É a vez do Bastião. Tiros perto dos ouvidos, por trás. Gritos. Encenação. Ele resiste. Largam-no. Voltam para o Joaquim: Matamos seu irmão. Agora é a sua vez. Vai morrer. Joaquim era mais fraco. Aniquilado. Descora mais ainda. Não tem mais sangue. Verde. Espera. Tem piedade! Não me mate, seu tenente. Não tem jeito. Você não conta: morre. Bastião já se foi. Você vai também. Irá com ele. Só se contar. Confessa, bandido! Confessa, bandido! Confessa! Não quer mesmo? Então, vamos acabar com essa droga. Podem atirar. Atenção: Preparar! Fogo! Tiros. Joaquim sente o sangue correr perna abaixo. Não sabe onde o ferimento. Pensa que vai morrer. O delegado: Andem com isso, acabem com ele. Por piedade, seu tenente! Não me mate! Eu faço o que o senhor quiser! Pode escrever. Assino tudo, não me mate! Não agüento mais. Joaquim perde os sentidos. É levado secretamente aonde possa ser curado do ferimento. Mantém-se ausente. Feito o curativo. Não pode contar a ninguém. Caiu; machucou-se. Só. Tem de repetir tudo na Delegacia. Direitinho. Cara boa. Se não fizer, não terá mesmo outro jeito. Você é que sabe, Joaquim. Só se quiser morrer. Joaquim não mais vê Sebastião. Acha que está morto. Apavorado, procura controle. Quando está em ordem, levam-no à delegacia. Vai depor. Segunda. Terceira vez. Desta vez é confissão. Perfeita. Minuciosa. Bem ensaiada. Decorada como discurso de menino em grupo escolar…” (p. 58).
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OBSERVAÇÕES PESSOAIS:
No livro “O CASO DOS IRMÃOS NAVES, UM ERRO JUDICIÁRIO” ( Ed. Del Rey, 3ª ed., Belo Horizonte, 1993), o advogado dos irmãos Naves, João Alamy Filho, dá a sua interpretação das condições que tornaram possível esse tremendo erro: estávamos sob nova ditadura. Não havia garantias legais. Subvertia-se a ordem democrática, extinto o Legislativo, o Poder Executivo sobrepunha-se à lei e ao Judiciário. Saía-se de uma breve revolução. Forçava-se punição criminal comum como substrato da punição criminal política. A pessoa humana, o cidadão, era relegados a um plano inferior, secundário. Interessava-se apenas pelo Estado. A subversão da ordem influenciava a subversão do Direito, e a falta de soberania do Tribunal Popular. Naqueles tempos o Tribunal de Justiça podia reformar o veredito do Júri, o que não acontece mais hoje. ”
OS TEMPOS SÃO OUTROS.
MUITAS COISAS MUDARAM É VERDADE. SÓ NÃO MUDOU A NATURAL INCLINAÇÃO ESTATAL PARA INJUSTIÇAR PRETOS e POBRES.
MELHOR AINDA SE FOR “PRETO-POBRE”.
Joaquim Naves era sócio de Benedito Caetano. Este comprara, com auxílio material de seu pai, grande quantidade de arroz, trazendo-o para Araguari, onde, preocupado com a crescente queda dos preços, vende o carregamento por expressiva quantia. Na madrugada de 29 de novembro de 1937, Benedito desaparece de Araguari, levando consigo o dinheiro da venda do arroz. Os irmãos Naves, constatando o desaparecimento, e sabedores de que Benedito portava grande importância em dinheiro, comunicam o fato à Polícia, que imediatamente inicia as investigações. O caso é adrede atribuído ao Delegado de Polícia Francisco Vieira dos Santos, personagem sinistro e marcado para ser o principal causador do mais vergonhoso e conhecido erro judiciário da história brasileira. Militar determinado e austero (Tenente), o Delegado inicia as investigações e não demora a formular a sua convicção de que os irmãos Naves seriam os responsáveis pela morte de Benedito. A partir de então inicia-se uma trágica, prolongada e repugnante trajetória na vida de Sebastião e Joaquim Naves, e de seus familiares. Submetidos a torturas as mais cruéis possíveis, alojados de modo abjeto e sórdido na cela da Delegacia, privados de alimentação e visitas, os irmãos Naves resistiram até o esgotamento de suas forças físicas e morais. Primeiro Joaquim, depois Sebastião. A perversidade do Tenente Francisco não se limitou aos indiciados. Também as esposas e até mesmo a genitora deles foram covardemente torturadas, inclusive com ameaças de estupro, caso não concordassem em acusar os maridos e filhos. A defesa dos irmãos Naves foi exercida com coragem e perseverança pelo advogado João Alamy Filho, que jamais desistiu de provar a inocência de seus clientes, ingressando com habeas corpus, recursos e as mais variadas petições, na busca de demonstrar às autoridades responsáveis pelo processo o terrível equívoco que estava sendo cometido. Iniciado o processo, ainda sob as constantes e ignominiosas ameaças do Tenente Francisco, os irmãos Naves são pronunciados para serem levados ao Tribunal do Júri, sob a acusação de serem autores do latrocínio de Benedito Caetano, ao passo que a mãe dos irmãos, D. Ana Rosa Naves, é impronunciada. Na sessão de julgamento, a verdade começa a surgir, com a retratação das confissões extorquidas na fase policial, e, principalmente, com o depoimento de outros presos que testemunharam as seguidas e infindáveis sevícias sofridas pelos acusados na Delegacia de Polícia. Dos sete jurados, seis votam pela absolvição dos irmãos Naves. A promotoria, inconformada, recorre ao Tribunal de Justiça, que anula o julgamento, por considerar nula a quesitação. Realizado novo julgamento, confirma-se o placar anterior: 6 X 1. Tudo indica que os irmãos Naves seriam finalmente libertados da triste desdita iniciada meses antes. Ledo engano: o Tribunal de Justiça resolve alterar o veredito (o que era então possível, mercê da ausência de soberania do Júri no regime ditatorial da Constituição de 1937), condenando os irmãos Naves a cumprirem 25 anos e 6 meses de reclusão (depois reduzidos, na primeira revisão criminal, para 16 anos). Após cumprirem 8 anos e 3 meses de pena, os irmãos Sebastião e Joaquim, ante comportamento prisional exemplar, obtêm livramento condicional, em agosto de 1946. Joaquim Naves falece, como indigente, após longa e penosa doença, em 28 de agosto de 1948, em um asilo de Araguari. Antes dele, em maio do mesmo ano, morria em Belo Horizonte seu maior algoz, o tenente Francisco Vieira dos Santos. De 1948 em diante, o sobrevivente Sebastião Naves inicia a busca pela prova de sua inocência. Era preciso encontrar o rastro de Benedito, o que vem a ocorrer, por sorte do destino, em julho de 1952, quando Benedito, após longo exílio em terras longínquas, retorna à casa dos pais em Nova Ponte, sendo reconhecido por um conhecido, primo de Sebastião Naves. Avisado, Sebastião apressa-se em dirigir-se a Nova Ponte, acompanhado de policiais, vindo a encontrar o “morto” Benedito, que, assustado, jura não ter tido qualquer notícia do que ocorrera após a madrugada em que desapareceu de Araguari. Coincidentemente, dias após sua efêmera prisão e o citado juramento, toda a família de Benedito morre tragicamente, na queda do avião que os transportava a Araguari, onde prestariam esclarecimentos sobre o desaparecimento daquele. O caso passou a ser nacionalmente conhecido. A imprensa o divulgou com o merecido destaque. A mesma população que, influenciada pela autoridade do delegado, inicialmente aceitava como certa a culpa dos irmãos Naves, revoltava-se com o ocorrido, tentando, inclusive, linchar o desaparecido Benedito. Em nova revisão criminal, os irmãos Naves foram finalmente inocentados, em 1953. Como etapa final e ainda custosa e demorada, iniciou-se processo de indenização civil pelo erro judiciário. Em 1956 foi prolatada a sentença, que mereceu recursos pelo Estado, até que, em 1960, vinte e dois anos após o início dos suplícios, o Supremo Tribunal Federal conferiu a Sebastião Naves e aos herdeiros de Joaquim Naves o direito à indenização. No livro “O CASO DOS IRMÃOS NAVES, UM ERRO JUDICIÁRIO” ( Ed. Del Rey, 3ª ed., Belo Horizonte, 1993), o advogado dos irmãos Naves, João Alamy Filho, dá a sua interpretação das condições que tornaram possível esse tremendo erro: estávamos sob nova ditadura. Não havia garantias legais. Subvertia-se a ordem democrática, extinto o Legislativo, o Poder Executivo sobrepunha-se à lei e ao Judiciário. Saía-se de uma breve revolução. Forçava-se punição criminal comum como substrato da punição criminal política. A pessoa humana, o cidadão, era relegados a um plano inferior, secundário. Interessava-se apenas pelo Estado. A subversão da ordem influenciava a subversão do Direito, e a falta de soberania do Tribunal Popular. Naqueles tempos o Tribunal de Justiça podia reformar o veredito do Júri, o que não acontece mais hoje. Segue, para ilustrar o sofrimento por que passaram os irmãos Naves, um trecho do livro de onde se extraíram as informações do texto supra, quando são descritas as torturas físicas e morais impingidas a Sebastião e Joaquim, pelo Delegado de Araguari, tenente Francisco Vieira dos Santos:
Pelo que entendi foram condenados por homicídio e não havia um corpo. Como pode?
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Prodígios por obra e graça dos oficiar, que comprovam materialidade, autoria, e outros insetos voadores, utilizando de seus conhecimentos jurídicos ímpares.
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primeiro q para haver condenação em homicidio n precisa haver encontro do corpo.
segundo q este caso, guardada as devidas proporções, se equipara a escola base de sp e este n foi feito pela pm.
conclusão: erros acontecem em qquer instituição. o problema é q no brasil policia n é coisa seria.
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Quantos irmãos naves ainda existem nos dias de hoje? sendo julgados por um sistema meramente ……
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O caso dos irmãos Naves é apenas um entre milhares de tortura que diariamente acontece em nossas delegacias nos dias de hoje. O nefasto Fleury durante a ditadura é apenas outro caso.
Nossos presos são brutalizados diariamente e julgados e condenados por juízes corruptos.
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e muito triste a historia dos irmaos naves
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como a familha do benedito cail
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O que sabemos é que tudo isto está se transformando num circo. Todos os dias, toda hora ficamos sabemdo de crimes terríveis que sequer veiculam de forma como esta.
Gostaria de saber o pq da repercussão: -se é por que é uma criança indefesa, ou uma menina que é neta de um advogado rico. Todo mundo de alguma forma quer aparecer.
Baseiem-se no caso dos Irmãos Naves, foram torturados, humilhados, suas famílias ( mãe e esposa tb sofreram humilhação de todo tipo.
Se fossem de família tradicional, duvido que chegariam a tanto. Já se passaram tantos anos, e as histórias se repetem.
As famílias tem que educar os filhos, principalmete os pobres, que se errarem estão fritos, pois a justiça só prende quem é preto, pobre e favelado.
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Este caso dos Irmãos Naves, marca a história do Direito Penal no país, que até então, não se exigia a materialidade no conceito de homicídio. Hoje no conceito de homicídio “culpabilidade- materialidade e autoria”, caso contrário não há homicídio, inicia-se apenas o processo de investigação. Admito que os irmãos naves, apesar de vítimas, ao mesmo tempo foram heróis, precursores da teoria da materialidade e do “in dubio pro reo”,em nosso Direito Penal.
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Isso é uma verdadeira vergonha, pelo amor de deus! Eu fico cada vez mais revoltado com isso, como estudadante de direito não posso adimitir uma barbárie dessa. me dá nojo! E o pior é saber que atualmente neste país ainda existe esse tipo de coisa, infelizmente o tempo passa e gente comtinua a viver com esse tipo de atitude covarde de se omitir perante situaçães como essa. Sinceramente, são coisas que não toleramos, estamos cansados, mas nada podemos fazer. É constrangedor, não poder confiar na polícia, nos polícos, enfim nas pessoas! Falta muita muita coisa, falta amor, compaixão, amizade, bom senso
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Em nosso país as coisas nunca se explicam, elas só acontecem. Tá na hora disso acabar, vamos rever nossas léis, mudar nossas atitudes, porque erros como esse são imperdoáveis. Assistindo esse fime, comfesso que isso foi determinante pra escolha da minha profição, ser um advogado, defender os oprimidos, os coagidos, os que precisão e muitas vezes tem seus direitos igrorados, por serem pobres, ou pela má fé alheia. Vendo e analisando os fatos do processo, constatei, que se trata do maior erro do judiciário brasileiro. Então, tá na hora de dá um basta nisso! vamos pesar nossas atitudes antes de agir, pois mesmo 70 anos depois erros de tipo continua acontecendo, vidas estão sendo jogadas fora. Portanto, fica meu apelo pra todos os advogados, juízes, promotores, vamos raciocinar, procedendo de forma coerente erudita
para que “culpado seja, culpado; inocente, seja inocente!”
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Francisco Vieira dos Santos, ele sim, era o bandido,estrupador, não tinha competência para ser um tenente de responsabilidade. Pena que morreu, senão hoje iríamos fazê-lo igual, mesmo velhinho, para aprender a ouvir o que os outros tenham a dizer. Mesmo os irmãos Naves insiste em falar verdade? Os covardes dizem e insitem contrariando os inocentes dizendo que são mentirosos. Esse tal tenente Francisco quis se aparecer diante dos fracos. Que infelizmente obedeciam. Se fosse hoje? nós arrancaríamos a cabeça dele. Bundão, covardão e burrão.
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os irmaos naves esta com deus a justiça é divina bjs.
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A sra Anna Rosa mãe dos naves dizia: Deus da o cobertor conforme o frio, antes da mesma vir a falecer ela teve o prazer de ver os filhos sendo aclamados inocentes, embora o joaquim, já havia falecido, porém a dignidade e a honestidade sempre norteia a vida das pessoas justas. Que o exemplo dos Naves e a justiça possam prevalecer neste mundo e em nossas familias. Em tudo Deus seja louvado e amado, sobretudo no rosto daqueles que sofrem.
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Bruno, goleiro do Flamengo: O irmão Naves de hoje
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O que tem que ser visto é que a culpa não é da polícia e sim do regime, que na época era ditatorial, sem garantias aao direito a qualquer cidadão. E mais, apesar da crueldade e barbaridade, não foram só os irmãos Naves que, mesmo inocentes, foram torturados e tiveram seus direitos desrespeitados em nosso país. Muita gente, na época da ditadura, também foi torturada, presa e morta apenas pelo capricho alheio. Acho que o maior avanço na questão penal é, sem dúvida, a Constituição de 1988, que tem em seu artigo 5, os mais indispensáveis direitos do ser humano.
A democracia, apesar de ainda não totalmente consolidada, é a mais poderosa arma contra tais arbitrariedades.
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segue para sua apreciação
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mesmo hoje, a investigação policial, a perícia é falha, vê o caso do jogador da Portuguesa.
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De acordo com o dicionário, o sinônimo da palavra “erro” é equívoco, engano. O ministério Público não cometeu um engano que é uma situação bem diferente do que gerou esta tragédia. Esta tragédia teve como ingredientes a psicopatia, o amor pela violência, a truculência a arrogância oriunda de um problema, com certeza, psicológico, e o mostrar serviço num Estado Novo para mostrar eficiência fechando um arquivo. É isso.
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meu e joao alberto tenho um relato a diz tenho um filho que se encomtra se preso em araguari por um injustiça , presiço de ajusta para que nao acontece o que aconeteu com os irmao naves ,pois ele tambem por destino da vida ele e parente do s irmao naves sao muitas coisas errado deste o pricipio do processo .mas parece um vingança de uma das pessoas do magisterio . meu telefone e 39-9104-0032 posso relatar tudo e oque tem de errado e porque estao errado
QUERO AJUDA POR FAVOR POIS MEU FILHO SO TEM 23 ANOS E NAO UM BATIDO COMO ELE ESTAO COLOCANDO
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