ELOÁ…DECISÃO POLÍTICA? 3

29/10/2008
Eloá… decisão política?
*Dirceu Cardoso
Depoimentos de policiais do caso de Santo André, revelam que o grupo de elite da Polícia Militar não tinha autorização do gabinete de crise – formado pelo governador José Serra e pelo secretário da Segurança Pública, Ronaldo Marzagão – para dar o tiro de neutralização no seqüestrador Lindemberg Fernandes Alves, que subjugou por mais de 100 horas a namorada Eloá e sua amiga Nayara e nelas atirou, provocando a morte da primeira e ferimentos na outra. Difícil acreditar nessa versão, mas, se a ordem (de não atirar) realmente partiu do palácio, o governo tem a obrigação de explicar e convencer a população quanto aos motivos técnicos dessa decisão.As autoridades precisam esclarecer a razão da definição sobre o tiro ser de um gabinete burocrático e não da equipe que acompanhou o caso desde o começo mantendo o seqüestrador sob a mira de policiais especialmente treinados (inclusive psicologicamente) para a missão.
Com certeza, esses profissionais, além do preparo, ainda dispunham de melhores condições para decidir e agir com mais precisão do que seus chefes, reunidos sob o ar-condicionado, a quilômetros dali.
Se tivessem a necessária autonomia, talvez, a vítima continuasse viva e o Estado de São Paulo São Paulo teria um criminoso a menos para julgar e cuidar.
É estranho que o poder público faça grandes investimentos para manter grupos especializados de polícia – como o GATE – e limite sua atuação, justo na hora em que a competência e experiência de seus integrantes poderiam fazer a diferença entre a vida e a morte de inocentes submetidos a atos criminosos.
As polícias paulistas mantêm intercâmbio com suas congêneres dos pontos mais avançados do planeta, investem em treinamento e, na hora da emergência, são os políticos e burocratas que decidem…
No exterior ocorre o contrário.
Recentemente, por questões de magnitude infinitamente menor que o seqüestro de Santo André ou, até, por um simples engano, a polícia matou brasileiros.
Esses tristes episódios não servem de exemplo, mas demonstram a autonomia das polícias de lá, lamentavelmente perdida pela instituição paulista, especialmente por seus elementos de elite.
Se o governador José Serra, o secretário Marzagão e auxiliares participaram da decisão de poupar o seqüestrador Lindemberg, produzindo como resultado a morte e ferimento de suas vítimas, devem explicar tudo à comunidade.
Precisam esclarecer o ocorrido e convencer das razões da transferência da decisão operacional do “teatro” dos acontecimentos para a sede do governo.
Não podem deixar nem ao menos parecer que a ordem de não atirar tenha alguma relação com o processo eleitoral em curso ou com qualquer outra razão que não se relacione exclusivamente com os ditames da segurança pública.
E, mesmo que expliquem, espera-se do Ministério Público, com sua inequívoca independência, a mais acurada apuração de todo o ocorrido para que a sociedade não mergulhe no mar da dúvida e da descredibilização das autoridades.
O episódio, se verdadeiro, abre um perigoso precedente. Seqüestros ocorrem todos os dias, com mais, menos ou nenhuma divulgação.
A população não pode conviver com a cruel incerteza de se, na próxima ocorrência do gênero, o governo vai deixar ou não a polícia com a decisão técnica e solitária de, em situação extrema, atirar no seqüestrador para salvar a vítima…
Dirceu Cardoso Gonçalves é diretor da Aspomil (Associação de Assistência Social dos Policiais Militares de São Paulo)
http://www.reporterdiario.com.br

Um Comentário

  1. Se representantes do (des)governo de São Paulo deram tal ordem, não devem tão-somente “explicar à comunidade”. Devem ser identificados nominalmente e ir a Júri Popular, pois concorreram, por omissão, para o homicídio de uma das vítimas e para a tentativa de homicídio de outra vítima.

    Mas, ainda assim, a equipe que estava no “teatro das operações” agiu erradamente.

    Eram eles Policiais. Estavam diante de prática delituosa em que a vida terceiros estava em risco ante agressão injusta iminente.

    Ora, era dever legal daqueles policiais agir em legítima defesa de tais vítimas cujas vidas estavam em notório risco!

    O Policial tem o dever jurídico de agir!

    Ordem para não atirar em legítima defesa, dada a Policiais, é, portanto, ordem manifestamente ilegal.
    AD.

    E, até em regulamento militar, é cediço que “ordem ilegal não se cumpre”.

    Esta versão está estranha. Parece um recado cifrado dos milicanos, mormente da tal de Aspomil no sentido de “cutucar” a cúpula da Segurança Pública a não abandonar à própria sorte a equipe de PM´s que, é fato, com ordem ilegal ou sem ordem ilegal, permitiram a superveniência do desfecho trágico.

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  2. DR GUERRA,

    O COLEGA DAS 22H33 TEM RAZÃO.

    A JUSTIFICATIVA VÃO VALE.

    O VERDADEIRO POLICIAL, NESSA SITUAÇÃO, TEM QUE COLOCAR A VIDA DAS VÍTIMAS EM PRIMEIRO LUGAR.

    MAS, A GENTE SABE QUE NA PM “MANDA QUEM PODE E OBEDECE QUEM TEM JUIZO”.

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