
03/06/2008 – 17h26 – Atualizado em 03/06/2008 – 17h31
Corregedoria do Detran é suspeita de receber propina
Ligações feitas por integrantes de quadrilha que falsifica habilitações comprometem órgão.
Oito auto-escolas foram fechadas na Grande SP sob suspeita de participar do esquema.
SILVIA RIBEIRO Do G1, em São Paulo
As investigações que levaram à prisão de 19 suspeitos de integrar um esquema de emissão de carteiras de habilitação falsificadas também levantaram suspeitas de que a Corregedoria do Detran, órgão responsável pela fiscalização de irregularidades, estivesse recebendo propina para fazer vista grossa à produção das carteiras falsas. As falsificações chegavam a custar até R$ 1,8 mil e eram distribuídas para todo o país.
Saiba mais
“A Corregedoria do Detran esteve no dia 29 de abril fazendo uma correição extraordinária (na Ciretran) em Ferraz de Vasconcelos na apreensão de lote de CNHs (carteira nacional de habilitação) emitidas lá para o Rio Grande do Sul. Houve duas ligações telefônicas significativas entre integrantes da quadrilha que tentavam levantar dinheiro, pedindo para trocar um cheque de R$ 10 mil”, afirmou o promotor Marcelo Oliveira, do Grupo de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repressão ao Crime Organizado de Guarulhos, na Grande São Paulo.
Dos 19 suspeitos detidos nesta terça-feira, dois são policiais – o delegado-titular e o encarregado-chefe da Ciretran de Ferraz de Vasconcelos. Oito auto-escolas foram fechadas na Grande São Paulo sob suspeita de participar do esquema.
As investigações tiveram início no começo deste ano, quando equipes da Polícia Rodoviária Federal em Mato Grosso do Sul perceberam a existência de carteiras com motoristas analfabetos e com restrições físicas oriundas das mesmas cidades.
Operação Carta Branca
A Operação Carta Branca, implementada nesta terça-feira (3) contra uma organização criminosa que falsificava carteiras de habilitação no Estado de São Paulo, prendeu 19 suspeitos e cumpriu mandados de busca e apreensão em 34 localidades na Grande São Paulo. A quadrilha teria atuação em pelo menos oito estados e, de acordo com as investigações, teria movimentado R$ 1,3 milhão.A ação contou com a participação unificada do Ministério Público de São Paulo, da Corregedoria Geral da Polícia Civil, da Polícia Rodoviária Federal, Secretaria da Fazenda e da Agência Nacional de Petróleo. De acordo com o Ministério Publico de São Paulo, foram apreendidos milhares de documentos que compravariam a fraude, além de dinheiro e prontuários de Carteiras Nacional de Habilitação.
Durante a investigação, 40 mil carteiras com suspeita de fraude foram bloqueadas. Segundo o MP, os documentos teriam sido vendidos por R$ 1.800 em Minas Gerais.
O esquema ocorria principalmente em Ferraz de Vasconcelos e Mogi das Cruzes, ambas na região metropolitana.
De acordo com o MP, o esquema de venda de habilitações falsificadas tinha o auxílio de médicos, psicólogos, profissionais liberais, despachantes, proprietários e funcionários de auto-escola, policiais civis e do delegado da Circunscrição Regional de Trânsito (Ciretran) de Ferraz. As investigações revelaram que os policiais cooptavam os compradores dos documentos falsificados e lançavam as informações falsas no sistema do Detran para a emissão da CNH.
A Ciretran de Ferraz de Vasconcelos emitiu nos últimos dois anos, segundo o Ministério Público, pelo menos 1.231 habilitações falsificadas.
Foram cumpridos todos os 19 mandados de prisão expedidos pela Justiça.
A investigação contou com uma força-tarefa composta por promotores de Justiça dos Grupos de Atuação Especial Regional de Prevenção e Repreensão ao Crime Organizado (Gaercos) de Guarulhos, Campinas, ABC, Santos, Vale do Paraíba, São José do Rio Preto, Sorocaba e São Paulo.
Quem comprou o documento terá a habilitação apreendida e vai responder criminalmente por uso de documento falso.